Sem o marido, o príncipe William, sem máscara, em passo ligeiro e com look tão discreto com a segurança que a rodeava. Kate Middleton quase teria passado despercebida na tarde deste sábado em Clapham Common, no sul de Londres, não fosse a o grupo de populares e a presença da imprensa que seguia a homenagem prestada a Sarah Everard. Da Sky News ao Telegraph, os passos da duquesa de Cambridge acabaram por ficar registados em vídeo naquela que foi uma tarde de pesar e tributo, apesar das limitações impostas pela pandemia.

Kate “lembra-se o que é caminhar por Londres à noite antes de se casar“, referiu fonte próxima do palácio de Kensington, sondada no rescaldo das imagens da duquesa no cenário do memorial improvisado, entre cartazes com frases e muitas flores, uma visita inesperada que não tardou a suscitar comparações com Diana — em 1997, por exemplo, a princesa do Povo visitou de surpresa uma família bósnia em Dobrnja, recordou o veterano repórter Patrick Sawer. A duquesa “queria mostrar o seu respeito pela família e por Sarah“, acrescentou Kensington, citado pela Sky News.

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Poucas horas depois, no entanto, depois do sol se esconder, o ambiente tornava-se mais tenso, com o número de pessoas reunidas a aumentar e a polícia a envolver-se em confrontos com alguns dos presentes, como dão conta jornalistas no local. Há ainda registo de detenções.

A intervenção policial mais musculada, que terá começado para tentar desmobilizar os presentes que se encontravam num coreto, em redor do qual se aglomeraram as flores depositadas, vai motivando várias reações. “As mulheres juntaram-se para lamentar a morte de Sarah Everard – deviam ter podido fazê-lo tranquilamente”, escreveu o líder dos Trabalhistas, Keir Starmer, no Twitter.

Na mesma linha de pensamento, o mayor de Londres classificou de “inaceitáveis” as cenas em Clapham Common. “A polícia tem a responsabilidade de aplicar as regras da Covid mas pelas imagens que vi é óbvio que a resposta por vezes não foi nem apropriada nem proporcional”, apontou Sadiq Khan.

As críticas fizeram-se ouvir também do lado dos Tories, neste caso pela voz de Steve Baker, assumido opositor das medidas de confinamento mais apertadas, e que voltou a apelar à revisão das regras do lockdown.

Enquanto isso, a secretária da Administração Interna também anunciou nas redes sociais que pediu um relatório completo à polícia Metropolitana para apurar o que se passou em Clapham Common.

Já os Liberais Democratas pedem mesmo a demissão da comissária Cressida Dick.

Respeitando mais ou menos as diferentes regras em vigor, devido à Covid-19, facto é que de Birmingham a Bruxelas vários grupos disseram presente, apesar do cancelamento de “Reclaim These Streets”, a vigília originalmente agendada para este dia, que acabaria por ficar em suspenso devido às regras de confinamento em vigor no Reino Unido. A homenagem, no entanto, seguiu o seu caminho com vários anónimos a marcarem presença na zona onde Sarah terá sido visto pela última vez. A população foi ainda encorajada a acender uma vela à porta de suas casas pelas 21h30 deste sábado.

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Uma vela à porta da residência oficial do primeiro-ministro britânico © Getty Images

O caso do homicídio da jovem de 33 anos chocou o país (que por momentos conseguiu deixar em segundo plano os efeitos bombásticos da entrevista dos Sussex a Oprah) e conseguiu tornar ainda mais negra uma semana especialmente turbulenta.

Everard desapareceu na noite de 3 de março, por volta das 21h00, depois de ter saído de casa de um amigo, em Clapham, no sul de Londres. Até sua casa, onde devia ter regressado, esperava-a um percurso de cerca de 50 minutos a pé. Nunca chegou a entrar.

Esta quinta-feira, foi confirmado que os restos mortais humanos encontrados numa floresta de Kent, a 90 quilómetros da casa da vítima, pertenciam a Everard. Um polícia, Wayne Couzens, de 48 anos, um polícia da Metropolitana, pertence ao Comando de Proteção Parlamentar e Diplomática, e uma mulher na casa dos 30 anos foram detidos em casa. São suspeitos do sequestro e homicídio.