O PSD pode vir a apoiar a recandidatura de Isaltino Morais à Câmara Municipal de Oeiras. O atual autarca irá, ao que tudo indica, correr como independente, mas, a concretizar-se esta hipótese, ganharia a bênção e o conforto dos sociais-democratas, que abdicariam de apresentar um candidato próprio à autarquia.
Esta hipótese é há muito avançada nos corredores do partido. Ainda não está fechada e tudo pode mudar até à próxima semana. Mas o plano está a ser estudado pelas estruturas e pela direção do partido, que se pronunciarão em breve sobre este dossiê.
Inicialmente, o plano era outro: Isaltino Morais devia avançar com as cores do PSD e contribuir para o bolo social-democrata. Mas esta solução acabou por cair por terra por vontade do autarca. Ao Público, Isaltino explicou que não o podia fazer por entender que a sua candidatura tinha um carácter “transversal” e que “seria redutor” resumi-la a um único um partido.
Perante este cenário, começou a ficar curta a margem do PSD para apresentar um candidato próprio. Já em fevereiro, o Observador dava conta de que era difícil que tal viesse a acontecer até porque a convicção que existe no partido é de que é impossível separar as águas entre quem é do PSD e quem apoia Isaltino Morais, uma vez que quer as personalidades de Oeiras, quer o eleitorado que apoia o autarca e o partido são, em muitos casos, confluentes.
Ora, se se vier a concretizar esta solução, é provável que Isaltino Morais abdique de apresentar candidatos a determinadas juntas de freguesia para permitir ao PSD entrar nesse espaço. Arredado do poder desde 2013, seria uma forma de os sociais-democratas reconquistarem influência numa das principais autarquias do país.
Aliás, Isaltino Morais já deu a entender que, vencendo estas eleições, o próximo ciclo será o último como autarca. Se o PSD recuperar peso na Câmara, estaria na pole position para, em 2025, tentar ganhar em definitivo a autarquia de Oeiras.
A decisão não está isenta de riscos e é por isso que o processo tarda em ficar fechado. Ao abdicar de apresentar um candidato próprio a Oeiras, o PSD poderia estar a comprometer a sua estratégia de afirmação nestas autárquicas, que Rui Rio quer usar como alavanca para fazer o partido crescer e, eventualmente, estar em condições de derrotar António Costa.
A palavra pertence agora à concelhia do PSD/Oeiras, que nunca escondeu a sua simpatia por Isaltino Morais. Quando ainda se discutia a hipótese de o autarca vestir as cores do partido, a estrutura local aprovou um perfil de candidato que era um fato à medida de Isaltino: não só elogiava a atual governação, como definia a experiência autárquica especificamente em Oeiras como condições importantes a ter em conta na escolha do candidato.
Na altura, o líder do PSD/Oeiras, Armando Soares, disse mesmo que o objetivo do PSD era “ir a votos para ganhar eleições” e reiterou o enorme “orgulho na gestão do município“. Se a concelhia entender que o apoio a uma candidatura independente de Isaltino Morais continua a fazer sentido, a direção do partido terá depois de caucionar a decisão.
De resto, a 18 de fevereiro, em entrevista ao Observador, Rui Rio reconheceu a “grande ligação entre os militantes do PSD em Oeiras e os apoiantes mais ativos de Isaltino Morais em Oeiras”, mesmo dizendo que o mais “normal” seria que o partido apresentasse um candidato próprio.
A aproximação entre Rui Rio e Isaltino Morais é pública e notória. Aliás, na última entrevista que deu, ao Diário de Notícias, o presidente da Câmara de Oeiras teceu rasgados elogios ao líder do PSD, dizendo mesmo acreditar que Rui Rio “vai mesmo ser primeiro-ministro”. Resta saber se, com esta aliança que se está a desenhar no horizonte, Isaltino Morais contribuirá para esse desfecho ou não.