O Grande Prémio do Bahrain, que fez a estreia no calendário da Fórmula 1 em 2004 com uma vitória de Michael Schumacher, seria o palco para a primeira corrida do filho do antigo heptacampeão germânico pela Haas, Mick. E seria também o arranque da aventura na Aston Martin de Sebastian Vettel, que ganhou pela Red Bull e pela Ferrari quatro vezes a corrida. Os dois alemães fizeram os piores registos da qualificação apenas acima do russo Nikita Mazepin (também da Haas) e não tinham propriamente vida fácil na primeira prova de uma temporada que promete muito e que terá um recorde de 23 corridas. No entanto, havia muitos mais motivos de interesse.
A começar, as excelente indicações que foram deixadas nas sessões de treinos e que foram confirmadas durante a qualificação por Max Verstappen. Sergio Pérez não foi além do 11.º registo mas o Red Bull do holandês voou por cima da concorrência, com uma volta canhão que foi quase quatro décimas mais rápidas do que a marca de Lewis Hamilton, grande dominador no Bahrain nos últimos anos (ganhou em 2019 e 2020, tendo quatro triunfos nas últimas seis corridas) que não foi além do segundo lugar. E a outra concorrência ao britânico, o “alvo a abater” no ano em que se pode tornar o melhor dos melhores, também deixava sinais promissores, com Leclerc a colocar-se na segunda fila da grelha – e a Ferrari a ser a equipa que melhor se adaptou à redução do downforce nos carros.
“Estamos mais perto do que esperava, conseguimos dar um passo muito importante para nós este fim de semana na qualificação. Achávamos que a diferença seria o dobro, o que mostra bem o fantástico trabalho que foi feito por todos os homens e mulheres na fábrica”, destacou Hamilton após a qualificação. Mas seria o suficiente para ganhar a corrida, jogando também com a experiência nestas condições e com a batalha nas paragens? Ou Verstappen iria mostrar mais uma vez que quando sai da frente dificilmente cai? Essa era a grande dúvida no Bahrain.
E para quem esperava grande imprevisibilidade, bastou menos de uma volta para se perceber como tudo pode virar num instante, dos favoritos aos outsiders. Ainda antes da saída, o Red Bull de Sergio Pérez parou, houve a dúvida se poderia ou não entrar na corrida mas conseguiu recuperar; na largada, os quatro primeiros garantiram posição na primeira curva, Nikita Mazepin teve a pior estreia possível com uma saída aparatosa de pista e as bandeiras amarelas a aparecerem numa fase onde Leclerc já tinha ganho a terceira posição a Bottas, com um recomeço com grande emoção onde Max Verstappen foi ao limite mas saiu na frente, Hamilton aguentou a pressão de Leclerc mas Gasly acabou por ter um toque que deixou a asa na pista, acionando o safety car virtual.
Apesar da liderança e do segundo e meio conseguido para Hamilton, Verstappen dava indicações à equipa de um problema no pedal do acelerador e a Mercedes puxava pelos seus pilotos, sobretudo por Bottas que tinha superado de novo Leclerc fechando a trajetória para a reação do Ferrari e que podia ter andamento para se chegar mais à frente para pressionar o líder da corrida até porque a “guerra” do monegasco passava a ser com os McLaren, com Lando Norris a conseguir a ultrapassagem logo à nona volta e Daniel Ricciardo a não demorar a ficar na traseira do carro da formação italiana. E um pouco mais atrás, para gáudio dos espanhóis, Carlos Sainz tentava ficar com o oitavo lugar do Renault de Fernando Alonso, que fazia também a prova de regresso à Fórmula 1.
A primeira paragem trouxe a esperada mudança na liderança da prova, com Lewis Hamilton a passar para a frente e a forçar o andamento para criar o máximo de vantagem sobre Verstappen que com o tempo iria atrás do britânico e Bottas a tentar seguir o holandês tendo já uma larga vantagem no terceiro posto. A meio da corrida, Hamilton tinha dois segundos de vantagem e o finlandês estava a 4.5 segundos de Verstappen. A batalha pela vitória ia ser feita em pista e na segunda paragem, que poderia ser decisiva na primeira corrida do ano e que foi, pelas piores razões, para Bottas, que ficou preso na pit stop porque a frente direita não saiu e “acabou” a corrida.
Verstappen parou a 16 voltas do final para colocar pneus duros e Hamilton, que parara antes (se calhar demasiado cedo, como chegou a referir nas comunicações com a equipa), tinha pouco mais de oito segundos para tentar gerir, sabendo que teria o holandês colado a si muito antes do final da corrida. E no meio dessa corrida até conseguiu bater mais um recorde de Schumacher, desta vez no número de voltas conseguidas na liderança (5.112), no ano em que tem como grande objetivo tornar-se o primeiro de sempre a ganhar por oito vezes o título mundial.
Tudo estava em aberto nas últimas cinco voltas, onde Hamilton acabou por ser bafejado pela sorte dos campeões: após uma saída mais larga na curva 10 e da ultrapassagem de Verstappen que parecia ter “fechado” a corrida, o holandês cometeu um erro por falta de aderência e o britânico saltou de novo para a frente com uma maior capacidade de aguentar essa mesma liderança por ter cortado o gap que havia no segundo setor, ficando a ideia de que houve um problema no Red Bull que inviabilizou o triunfo do holandês mas que se percebeu depois que foi uma indicação da equipa porque Verstappen tinha ido além dos limites de pista na manobra, tendo assim de deixar passar de novo o britânico no movimento que iria decidir o Grande Prémio do Bahrain.