Várias organizações lançam esta segunda-feira o Pneumoscópio, uma ferramenta de representação geoespacial que permite mapear o número de internamentos e a mortalidade por pneumonia e meningite a nível nacional e por região e relacioná-los com outros indicadores, como os sociodemográficos.

É uma ferramenta que pretende ser um observatório em que vai ser coligida toda a informação oficial que existe sobre estas doenças e depois associá-la a uma base de dados georreferenciada, disse à agência Lusa o vice-presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), Jaime Pina.

“Neste momento temos uma visão global das pneumonias em Portugal, que não é uma visão muito favorável, mas é global, é nacional e, muitas vezes, essa visão macro pouco tem a ver com a visão micro do problema à medida que o vamos aprofundando”, adiantou o pneumologista.

Segundo Jaime Pina, a georreferenciação permite ver o problema de “maneira mais microscópica”: “deixamos ter uma visão meramente nacional para termos uma visão diferente, por exemplo, por regiões, por distrito, por concelhos” ou por agrupamento de centro de saúde.

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Esta plataforma vai permitir fazer “uma série de correlações” como relacionar os internamentos e os óbitos com outras variáveis como a escolaridade, o poder de compra, o aquecimento das casas no inverno, o sedentarismo, o índice da poluição atmosférica, bem como com fatores de risco como o tabagismo ou a idade.

Apesar de em Portugal, tal como no resto do mundo, não se saber quantas casos de pneumonia existem, porque não são doenças de declaração obrigatória, existem estudos que apontam mais 100 mil por ano.

Sabe-se, contudo, o número de internamentos e da mortalidade em Portugal, cujos números “não são nada favoráveis”: “Se fizermos a média nos últimos anos, descobrimos que temos 40 mil internamentos por pneumonia só no Serviço Nacional de Saúde”, o que significa que diariamente são internadas 110 doentes, cinco por hora.

Devido a esta doença, todos os anos são internadas, em média, 3.650 pessoas nas unidades de cuidados intensivos no SNS. Relativamente à mortalidade, Jaime Pina adiantou que, tendo em conta a média nos últimos cinco anos, ocorrem cerca de 5.500 óbitos por ano. “Isto quer dizer que falecem 16 portugueses por dia”, um número 12 vezes superior aos que morrem na sequência de acidentes rodoviários.

“Não há um único acidente rodoviário mortal que não seja apresentado nos telejornais e ninguém ouve falar dos 16 casos que todos os dias morrem em Portugal com pneumonia”, lamentou.

Segundo os promotores da iniciativa, esta ferramenta “será particularmente útil à investigação, bem como um importante apoio na construção de estratégias prevenção e atuação para a mitigação do impacto das doenças”.

A plataforma, disponível em https://www.pneumoscopio.pt/, será “um importante contributo” para que investigadores, profissionais de saúde e decisores possam ter em conta o perfil da população nacional para a pneumonia e a meningite, permitindo-lhes delinear de forma fundamentada estratégias de prevenção e atuação para a mitigação do impacto das doenças, sublinham.

O Pneumoscópio tem uma Comissão Científica constituída pelo cardiologista Carlos Rabaçal, do Hospital de Vila Franca de Xira, o endocrinologista Davide Carvalho, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, o pneumologista Filipe Froes, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Isabel Saraiva, fundadora do Movimento Doentes pela Vacinação, Jaime Pina, da FPP, Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, e Rui Costa, coordenador do Grupo de Doenças Respiratórias.