Foram anunciados esta terça-feira os 13 romances candidatos à edição de 2021 do International Booker Prize. Os nomes que integram a longlist deste ano foram revelados durante a manhã nas redes sociais. O francês e o espanhol voltam a estar em maioria, mas a variedade deste ano é grande: são ao todo 11 línguas, que incluem o chinês, o georgiano ou o árabe, e escritores originários de 12 países diferentes, contabilizou o The Guardian. A chinesa Can Xue é a única repetente, com I Live in the Slums. A escritora foi nomeada em 2019, com Love in the New Millennium.

The Perfect Nine: The Epic Gikuyuand Mumbi, do queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, é a primeira obra de ficção escrita numa língua indígena africana, neste caso a língua quicuio do Quénia, a integrar a longlist do International Booker Prize. É também a primeira a ser traduzida pelo próprio autor. Thiong’o, de 83 anos, é o autor mais velho da lista e um dos nomes que surge todos os anos nas listas de possíveis vencedores do Prémio Nobel da Literatura.

As memórias de Maria Stepanova, aclamada escritora russa que só agora chegou ao Reino Unido, In Memory of Memory, integram também a lista. When We Cease to Understand the World, do chileno Benjamín Labatut, e The War of the Poor, do francês Eric Vuillard, autores traduzidos e publicados em Portugal, fazem também parte da longlist de 2021. O livro de Vuillard, autor de A Ordem do Dia, é possivelmente o mais curto do conjunto, com apenas 80 páginas.

No ano do confinamento, foi o tema da migração que se destacou

Em comunicado, a presidente do júri, a historiadora Lucy Hughes-Hallett, disse que houve um tema que se destacou entre as várias dezenas de livros que os jurados leram: “A migração, a dor provocada por esta, mas também a interconexão frutífera do mundo moderno”. “Nem todos os escritores permanecem nos seus países de origem. Muitos sim, e escrevem ficção maravilhosa sobre as suas terras”, apontou a presidente, chamando a atenção para alguns dos escritores nomeados.

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“A visão de um checo-polaco [Andrzej Tichý] sobre o submundo sueco alimentado pelas drogas, um escritor holandês do Chile [Benjamín Labatut] que escreve em espanhol sobre cientistas espanhóis e alemães, e um escritor senegalês [David Diop] que escreve a partir de França sobre a participação dos africanos na guerra europeia”, afirmou.

“Os autores atravessam fronteiras, e também os livros, recusando-se a manter-se rigidamente separados em categorias. Lemos livros que são como biografias, como mitos, como ensaios, como meditações, como trabalhos de história — cada um deles transformado num trabalho de ficção através da força criativa da imaginação de um autor. Graças a estes livros maravilhosos e aos seus tradutores, foi-nos dada a liberdade de explorar o mundo. Esperamos que este prémio inspire muitos leitores a seguirem o nosso exemplo”, apelou Hughes-Hallett.

A lista de nomeados é a seguinte:

  1. I Live in the Slums, de Can Xue. Traduzido do chinês por Karen Gernant e Chen Zeping (Yale University Press);
  2. At Night All Blood is Black, de David Diop. Traduzido do francês Anna Mocschovakis (Pushkin Press);
  3. The Pear Field, de Nana Ekvtimishvili. Traduzido do georgiano por Elizabeth Heighway (Peirene Press);
  4. The Dangers of Smoking in Bed, de Mariana Enríquez. Traduzido do espanhol por Megan McDowell (Granta Books);
  5. When We Cease to Understand the World, de Benjamín Labatut. Traduzido do espanhol por Adrian Nathan West (Pushkin Press);
  6. The Perfect Nine: The Epic Gikuyuand Mumbi, de Ngũgĩ wa Thiong’o. Traduzido da língua quicuio pelo próprio autor (VINTAGE, Harvill Secker);
  7. The Employees, de Olga Ravn. Traduzido do dinamarquês por Martin Aitken (Lolli Editions);
  8. Summer Brother, de Jaap Robben. Traduzido do holandês por David Doherty (World Editions);
  9. An Inventory of Losses, de Judith Schalansky. Traduzido do alemão por Jackie Smith (Quercus, MacLehose Press);
  10. Minor Detail, de Adania Shibli. Traduzido do árabe por Elisabeth Jaquette (Fitzcarraldo Editions);
  11. In Memory of Memory, de Maria Stepanova. Traduzido do russo por Sasha Dugdale (Fitzcarraldo Editions);
  12. Wretchedness, de Andrzej Tichý. Traduzido do sueco por Nichola Smalley (And Other Stories);
  13. The War of the Poor, de Éric Vuillard. Traduzido do francês por Mark Polizzotti (Pan Macmillan, Picador).

O júri deste ano é composto pela historiadora cultural e escritora Lucy Hughes-Hallett (presidente); a jornalista e escritora Aida Edemariam; o escritor Neel Mukherjee, nomeado para o Booker Prize em 2014, com The Lives of Others; a professora de História da Escravatura Olivette Otele; e pelo poeta, tradutor e biógrafo George Szirtes.

O International Booker Prize é atribuído todos os anos a um obra de ficção traduzida para inglês e publicada no Reino Unido ou Irlanda. Foi criado em 2005 para incentivar a publicação e leitura de ficção internacional de qualidade e para promover o trabalho de tradução. Tem um valor pecuniário de 50 mil libras (quase 56 mil euros), que é dividido em partes iguais pelo autor e tradutor. Os autor e tradutores nomeados para a shortlist de seis obras recebem mil libras (1.113 euros).

Os seis títulos que integram a shortlist de 2021 serão anunciados a 22 de abril e o vencedor a 2 de junho.

No ano passado, o prémio foi para Marieke Lucas Rijneveld, dos Países Baixos, por The Discomfort of Evening. A autora, que se identifica com o género não binário e prefere o pronome “eles”, viu-se recentemente envolvida numa polémica relacionada com a publicação em holandês de uma antologia de poemas de Amanda Gorman. Rijneveld foi escolhida para a traduzir pela editora holandesa que o vai publicar, mas a escolha causou uma onda de críticas, com os leitores e críticos a lamentarem que não se tivesse optado por um tradutor negro. A escritora acabou por desistir do projeto.