Suzana Garcia, figura indicada pelas estruturas do PSD como candidata à Câmara Municipal da Amadora, diz estar a ser alvo de “ataques” que “são deploravelmente sexistas e machistas”. A advogada e antiga comentadora da TVI queixa-se de estar a ser vítima de “distorções e ataques de carácter” que não são mais do que o reflexo de uma sociedade machista e intolerante.
Num texto de opinião publicado aqui no Observador, Suzana Garcia lamenta as “apreciações” que estão a ser feitas sobre a sua “aparência”, o seu “tom de voz” e sobre a “paixão” com que defende as suas “convicções”.
“Durante os últimos dias tenho sido alvo de várias acusações, distorções e ataques de carácter. Muitos destes ataques são deploravelmente sexistas e machistas. E não há outra forma de o dizer: num tempo em que o discurso político oficial incentiva à participação das mulheres, ainda se permitem fazer apreciações sobre a sua aparência, ou sobre o seu tom de voz, ou sobre a paixão com que verbalizam as suas convicções”, escreve Suzana Garcia.
Depois de explicar as suas motivações para abraçar este desafio autárquico, que aguarda ainda a luz verde de Rui Rio, a advogada rejeita qualquer ligação ao Chega, as acusações de racismo ou de xenofobia de que já foi alvo e tenta contextualizar a sua proposta de castração química para pessoas condenadas por pedofilia.
“Enquanto advogada, entendo que a terapia medicamentosa de controlo da líbido para reincidentes comitentes de crimes de abuso sexual de crianças, e de abuso sexual de menores dependentes (pedófilos), não é incompatível com a Constituição. Entendo a terapia medicamentosa de controlo da líbido como medida penal adequada apenas aplicável no restrito universo de reincidentes pedófilos com algumas doenças do foro psiquiátrico, denominadas parafilias.”
Suzana Garcia acrescenta mais: “Este processo é uma terapia, é reversível, e não constitui qualquer forma de esterilização. Este processo não implica qualquer mutilação física, não depende de qualquer cirurgia, e não é fisicamente invasivo”, argumenta.
Candidatura em banho-maria
Apesar de ter sido escolhida pela concelhia do PSD/Amadora e pela distrital do PSD/Lisboa, a direção do partido acabou por não homologar para já a candidatura de Suzana Garcia. O tema foi amplamente discutido na reunião da Comissão Política Nacional (CPN) do PSD, que decorreu na segunda-feira, e acabou por dividir a cúpula social-democrata.
Além das muitas polémicas em que Suzana Garcia já se viu envolvida durante e depois de ter sido comentadora residente na TVI, a defesa da castração química para pedófilos é uma proposta que, também por estar em linha com uma ideia defendida por André Ventura, provoca arrepios em alguns dirigentes sociais-democratas.
Rui Rio decidiu, por isso, não tomar qualquer decisão antes da próxima semana, altura em que terá terminado o prazo que reservou para refletir. Depois do fim de semana da Páscoa, é expectável que venha a acontecer nova reunião entre a direção do partido, distrital e concelhia.
A convicção que existe é de que qualquer decisão será difícil: travar agora a candidatura dará um sinal de cedência a pressões externas e à pressão da bolha político-mediática — ideia que provoca urticária a Rui Rio. Além disso, depois de ter dispensado António Pinto Pereira, professor no ISCSP e plano ‘B’ da concelhia para a corrida à Amadora, não há muitas figuras disponíveis para aceitarem ser segunda ou terceira escolha.
Por outro lado, travar agora a candidatura daria um sinal claro de que o PSD não vai acomodar propostas e ideias que possam ser consideradas extremistas e que não está disposto a fazer cedências ao argumentário habitualmente defendido pelo Chega.
É essa ponderação — entre os danos causados por recuar agora na candidatura e as vantagens de manter uma candidatura que pode fazer um bom resultado no concelho, não cedendo a pressões externas — que Rui Rio vai fazer nos próximos dias.
O candidato a candidato que engoliu folha A4
A candidatura de Luís Carito a Portimão deve mesmo avançar. Ex-dirigente socialista e antigo vice-presidente da autarquia trocou de cores e terá, aparentemente, o apoio de PSD e CDS. O nome foi lançado pela concelhia e terá agora de percorrer o caminho das pedras: aprovação pela distrital e homologação pela direção nacional.
O ex-presidente da Assembleia Municipal de Portimão e antigo deputado socialista à Assembleia da República, foi notícia depois de ter sido acusado de desviar 4,6 milhões de euros do Estado, através de um “esquema fraudulento” relacionado com a “Cidade do Cinema” e a requalificação do Estádio de Portimão.
Em 2013, chegou a ser detido, junto com um outro vereador, um administrador da empresa municipal Portimão Urbis e ainda duas pessoas ligadas ao projeto da “Cidade do Cinema”. Esteve em prisão preventiva e depois em prisão domiciliária com pulseira eletrónica.
Acabaria por ser absolvido, mas para a história do caso ficou o momento em que, durante um encontro com a Polícia Judiciária, terá tirado um papel das mãos de um inspetor para o meter na boca e engolir.
Entretanto, de acordo com o “Sul Informação”, a apresentação da candidatura de Carito, que deveria contar com os líderes das concelhias do PSD e CDS, foi adiada. À mesma publicação, o presidente do PSD/Portimão limitou-se a dizer que vão “prosseguir o trabalho para alcançar um acordo partidário de coligação”.
O próprio Carito, no entanto, fez uma declaração aos jornalistas onde, sozinho, anunciou a “candidatura independente” à autarquia, apoiado por um “movimento com vários partidos”, incluindo de “PSD, CDS e Iniciativa Liberal” — esta última já desmentiu o apoio à candidatura.
Acórdão do caso “Cidade do Cinema” de Portimão conhecido esta quinta-feira
Isaltino decidido, Sintra a caminho e o tabu de Santana
Ainda por anunciar está o apoio à candidatura independente de Isaltino Morais em Oeiras. Mas o processo, segundo apurou o Observador, está fechado. A menos que algo de muito drástico aconteça, os sociais-democratas vão abdicar de uma candidatura própria e negociar juntas de freguesia com o atual presidente da Câmara.
Esta terça-feira, aliás, Armando Soares, presidente do PSD/Oeiras, entregou o apoio a Isaltino Morais numa bandeja de prata e formalizou a vontade de ver o partido ao lado do autarca. Apesar das divisões internas, Rui Rio já terá dado o ‘ok’ à solução e falta agora a homologação da direção — que deve acontecer igualmente no arranque da próxima semana.
Em Sintra, as coisas podem compor-se para o PSD. Depois de a direção ter escolhido Ricardo Baptista Leite ao arrepio da vontade das estruturas locais e contra a vontade de Marco Almeida, que alimentava o desejo de ser candidato, o aparelho social-democrata sintrense ameaçava desfazer-se: sem o apoio das estruturas e com a oposição de Marco Almeida — que ainda não afastou a hipótese de ser candidato independente –, Baptista Leite dificilmente seria par para Basílio Horta.
O Observador sabe, no entanto, que Ricardo Baptista Leite está a fazer um esforço de aproximação para reconfortar os vários protagonistas. Esta quarta-feira, almoçou no Parlamento com Ana Sofia Bettencourt e outros dirigentes locais e, em paralelo, está a tentar convencer Marco Almeida a juntar-se à causa social-democrata e abdicar de apresentar uma candidatura independente. Os próximos dias dirão se será ou não bem-sucedido.
Quem dá todos os sinais de querer mesmo avançar é Pedro Santana Lopes. O antigo primeiro-ministro estará de facto disposto a avançar com uma candidatura independente à Figueira da Foz e tem feito várias incursões no terreno, que publicita, de resto, no Facebook. Ainda assim, o ex-presidente do PSD e da Aliança ainda não garante se vai ou não entrar na corrida.
Três capitais de distrito praticamente fechadas
Rui Rio definiu o 31 de março como data indicativa para apresentação de todas as candidaturas autárquicas. As disputas internas em alguns pontos do país, fizeram com que o prazo derrapasse, mas, ainda assim, o líder social-democrata quer fechar tudo já na próxima semana, depois da Páscoa.
Entretanto, nos últimos dias existem alguns processos que foram conhecendo desenvolvimentos para o partido. Em Viana do Castelo, Eduardo Teixeira, deputado e líder da concelhia do partido, foi o nome escolhido por Rui Rio para o desafio. O atual vereador não foi uma primeira escolha.
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, era o preferido, mas acabou por rejeitou. Daniel Campelo, o histórico “deputado limiano”, também chegou a ser considerado numa coligação com o CDS. Eduardo Teixeira, que já tinha sido candidato à autarquia, será a aposta do PSD tentar recuperar o concelho socialista.
A Câmara de Viana é detida pelo PS, com José Maria Costa a cumprir o seu último mandato (eleito pela primeira vez em 2009). Os socialistas indicaram Luís Nobre, vereador no atual executivo, como candidato. No PSD, acredita-se que é possível inverter o ciclo político e roubar uma Câmara ao PS que, até pela relação pessoal de Rio com a cidade, seria importante na estratégia de afirmação do partido.
A Câmara de Castelo Branco também é apetecível uma vez que o PS impediu o atual autarca, Luís Correia, de se candidatar a novo mandato. Luís Correia foi acusado e absolvido dos crimes de prevaricação em co-autoria com dois empresários, um deles o seu pai.
A concelhia e a distrital do partido indicaram o nome do vereador social-democrata Carlos Almeida como candidato. O Observador sabe que o candidato já foi testado em sondagens e terá boas condições para disputar a autarquia. Falta saber se a direção social-democrata está disposta a respeitar a vontade das estruturas.
Em Leiria, há um choque frontal entre a distrital e a concelhia do partido. Álvaro Madureira, líder da concelhia, queria ser candidato, mas Rui Rocha, que controla a distrital, não comprou a escolha e pediu a intervenção da direção nacional. A equipa de Rui Rio está a tentar fechar um candidato e o nome de Hélder Roque, o verdadeiro plano ‘A’ do PSD, voltou a circular nos bastidores sociais-democratas.
O médico interessava ao PSD, foi testado em sondagens locais, houve uma fuga de informação, Álvaro Madureira entrou em campo para desmentir a notícia e o próprio veio garantir que estava indisponível para avançar. Não é certo que não venha a mudar de ideias.
*Artigo atualizado às 21h29 com a nota do adiamento da apresentação da candidatura de Luís Carito