Mais dois perfis de ADN não identificados terão sido detetados no caso do homicídio de Diogo Gonçalves, no Algarve, em março do ano passado — além daquele que foi encontrado numa navalha e que levou à suspensão do julgamento. Esta descoberta levou a defesa de Maria Malveiro, uma das duas arguidas acusadas de matar e desmembrar o jovem de 21 anos, a reforçar o pedido já feito ao Tribunal de Portimão para que fosse recolhido o ADN a todos os inspetores da Polícia Judiciária (PJ) que investigaram o caso — e assim esclarecer se houve contaminação de provas. Estes perfis agora conhecidos foram detetados em beatas encontradas no carro da vítima, de acordo com o requerimento entregue esta segunda-feira a que o Observador teve acesso.
Quando o Mercedes do jovem de 21 anos foi encontrado no cabo de São Vicente, em Sagres, lá dentro estavam 47 beatas. Só que a PJ só terá recolhido oito dessas beatas. Nelas, foram encontrados apenas dois perfis de ADN que não pertenciam nem à vítima nem às arguidas, não tendo sido identificados: um do sexo masculino e outro do sexo feminino.
Para a defesa, estes perfis de ADN, especialmente o do sexo masculino, têm importância para o caso, uma vez que “há uma testemunha ocular que viu um homem ao pé do carro” de Diogo Gonçalves. Além disso, estes dois perfis de ADN ganham especial relevância quando houve um outro que levou à suspensão do julgamento no passado dia 24 de março: um perfil de ADN masculino encontrado numa das duas navalhas apreendidas pela PJ, que não pertence à vítima.
Ao Observador, o consultor forense João de Sousa, que faz parte da equipa de defesa de Maria Malveiro, disse não perceber “qual é o critério científico de em 47 beatas só se fazerem recolhas em oito delas”. O Observador contactou a PJ de Portimão, que recusou falar sobre os dois perfis de ADN que terão sido encontrados, uma vez que a investigação já está concluída, bem como a intervenção deste órgão policial no caso.
Defesa quer recolha de ADN de todos os inspetores que investigaram caso
O ADN encontrado na faca — que levou à suspensão do julgamento — já tinha levado a defesa de Maria Malveiro a requerer ao Tribunal de Faro a colheita de amostras de ADN a “todos os elementos da Polícia Judiciária que tiveram intervenção direta na investigação“, segundo o requerimento a que o Observador teve acesso. “Não pode o Tribunal decidir serenamente e com a necessária certeza se esta inopinada dúvida não for ultrapassada”, lê-se ainda. Com estes novos dados, a defesa fez um novo requerimento ao tribunal a informar as juízas que estão a julgar o caso da descoberta, mas também para reforçar o pedido feito no primeiro requerimento.
Está previsto que o julgamento seja retomado no dia 13 de abril, embora estes novos dados possam levar a algum reagendamento. Mariana Fonseca e Maria Malveiro foram acusadas no final de setembro do ano passado pelo Ministério Público (MP) da morte de um homem de 21 anos, Diogo Gonçalves, com o objetivo de ficarem com o dinheiro que tinha recebido — mais de 70 mil euros de uma indemnização pela morte da mãe, atropelada na zona de Albufeira, em 2016. Segundo o MP, as suspeitas terão cortado e desmembrado “o cadáver da vítima”, guardando-o “em vários sacos de lixo”, que “atiraram por uma arriba, em Sagres, e esconderam na vegetação, em Tavira”. Durante esses dias, as arguidas terão feito levantamentos e pagamentos com o cartão e com o telemóvel da vítima.
As duas mulheres respondem pelos crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver, dois crimes de acesso ilegítimo, um crime de burla informática e furto simples. Maria Malveiro responde ainda por um crime de furto de uso de veículo e um crime de detenção de arma proibida. Já Mariana Fonseca está também acusada de um crime de peculato.