Pela primeira vez desde o início do ano, Nuno Espírito Santo viu a família. O treinador português foi um dos milhares que ficou em Inglaterra, sozinho, enquanto as pessoas que lhe são mais próximas ficaram em Portugal. As restrições às viagens, engrossadas pelo facto de Portugal ter estado na “lista vermelha” do Reino Unido, deixou o técnico afastado da mulher e das duas filhas desde o começo de 2021. Até agora.
“Não foi nas circunstâncias que todos queríamos, mas foi uma grande ajuda para mim e para elas, para toda a gente e para nós enquanto família. Precisamos de tempo juntos e tem sido um longo período uns sem os outros. Tem sido um longo período sem termos a possibilidade de visitar o nosso próprio país. Adoramos trabalhar aqui mas desde que chegámos ao Wolves que tínhamos espaço para tirar uns dias e apanhar um avião, fazer uma visita rápida, dar um beijo às minhas filhas e voltar. Mas agora não é possível. Toda a gente tem noção disso e temos de perceber que não é culpa nossa. Temos de seguir as regras, temos de seguir os protocolos e ser testados. Tudo mudou, incluindo a nossa liberdade, e estamos a tentar adaptar-nos e mudar algumas coisas. Nada vai voltar a ser igual”, disse Espírito Santo, que nunca escondeu o impacto que a solidão tem tido na própria vida no último ano.
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— Premier League (@premierleague) April 5, 2021
Numa entrevista à Sky Sports, o treinador assumiu ainda que o Wolves — que está na segunda metade da Premier League, longe dos lugares de apuramento europeu por onde andou nas últimas duas temporadas e não ganha desde fevereiro — está a atravessar um momento complicado. “Acho que é a época mais difícil, o momento mais difícil devido à pandemia. É um desafio para todos. O mais importante é que nos mantenhamos juntos e que nos apoiemos uns aos outros nesta situação. Exige muito de todos os aspetos da sociedade. É um desafio diferente devido às situações com que nos deparámos. Muitas circunstâncias diferentes que não nos tinham acontecido que precisaram de uma abordagem diferente. Esta época não tem sido linear em relação às exibições da equipa, existiram momentos difíceis na nossa época que temos de separar. Tivemos sempre algumas situações que nos criaram problemas. Assim que os resolvemos, aparece outro”, explicou, detalhando depois tudo o que sentiu no momento da lesão arrepiante de Rui Patrício, que ficou inconsciente na sequência de um choque violento com Coady, contra o Liverpool.
“Aquele momento foi assustador, todos estavam preocupados. Teve de ficar aqui, em Wolverhampton, sob observação e acompanhamento constante da parte do médico. Isso fez com que não se juntasse à seleção portuguesa. Mas agora está bem. Ele treinou bem esta semana, por isso tudo está bem. O que é uma notícia muito boa, porque sempre que há uma situação como aquela, especialmente para nós, que ainda temos o trauma, ficamos assustados”, recordando a lesão semelhante de Raúl Jiménez, que se lesionou em novembro depois de um choque com David Luiz e ainda não voltou aos trabalhos normais da equipa.
E esta segunda-feira, precisamente para comprovar a recuperação bem sucedida, Rui Patrício era o guarda-redes titular na receção do Wolverhampton ao West Ham — que é uma das equipas revelação da Premier League, a lutar pelos lugares europeus com o Chelsea, o Tottenham e o Liverpool. Com Jonny Otto e João Moutinho lesionados, Fábio Silva e Vitinha começavam no banco, com Willian José a assumir a titularidade, e Pedro Neto, Podence (que voltava de lesão), Rúben Neves e Nélson Semedo também começavam de início. Do outro lado, o destaque era Jesse Lingard, que tem estado num grande momento de forma desde que foi emprestado aos hammers pelo Manchester United.
Depois de uma primeira parte de muito futebol, o West Ham foi para o intervalo a vencer de forma clara: Lingard (6′), Fornals (14′) e Bowen (38′) fizeram os golos da equipa de David Moyes, enquanto que Dendoncker reduziu já nos instantes finais do primeiro tempo (44′) e na sequência de uma enorme arrancada de Traoré na esquerda. Ao intervalo, Nuno Espírito Santo tirou Podence — que ainda não está com os índices físicos no melhor nível — e lançou Fábio Silva.
O West Ham caiu em rendimento e intensidade na segunda parte e permitiu ao Wolves crescer no jogo, principalmente a partir da presença no último terço adversário, que tinha escasseado durante o primeiro tempo. A equipa de Nuno Espírito Santo reduziu a cerca de 20 minutos do final com um golo inteiramente português: Pedro Neto fez a assistência e Fábio Silva, na primeira verdadeira oportunidade de que beneficiou, atirou cruzado para bater Fabianski (68′). Willian José, mais do que apagado e novamente sem marcar na Premier League, deixou entrar o motivado Vitinha — que fez uma brilhante fase de grupos do Europeu com a Seleção Sub-21 — e o Wolves tinha o jogo na mão e parecia aproximar-se cada vez mais do empate.
Um empate que, contudo, acabou por não chegar. O Wolverhampton começou a perder com o West Ham (que saltou para o quarto lugar e para a zona Champions), acabou à procura de um empate que nunca alcançou e voltou a falhar a vitória que já foge há mais de um mês. A boa notícia do dia, porém, já estava garantida: Rui Patrício recuperou por completo ao longo da paragem para as seleções, foi titular, cumpriu os 90 minutos e deixou passar um susto.
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