“Em Defesa da Honra” é o nome do novo livro do ex-banqueiro João Rendeiro — em que o antigo líder do Banco Privado Português (BPP) revela várias histórias e pormenores que envolvem personagens como José Sócrates e Ricardo Salgado — e foi a propósito do seu lançamento que deu uma entrevista esta terça-feira à TVI24.
Assumindo-se atualmente como “reformado”, Rendeiro, que foi condenado a cinco anos e oito meses de prisão pelos crimes de falsidade informática e falsificação de documento enquanto líder do BPP, aguarda uma resolução do pedido de recurso que fez junto do Tribunal Constitucional.
Na entrevista, sem revelar grandes pormenores, assumiu que vive do seu património. E não se ficou por aí. “As pessoas estão muito preocupadas com o meu património… devo dizer-lhes que eu não estou”, disse, afirmando que a sua única preocupação é o bem estar da sua mulher e a manutenção da sua “honra” — “Não tenho nada a temer. […] Eu tenho é a perder a minha honra”.
“Eu escrevi no meu primeiro livro que deixaria à sociedade a minha fortuna, portanto, se alguém está preocupado com isso, pode estar preocupado com coisas erradas, com a mesquinhez”, acrescentou. “Deviam estar mais preocupados com criar riqueza e em como é que o país consegue ficar mais rico”.
“Porque é que só eu tenho pena pesada?”
Sobre a sua situação judicial, João Rendeiro frisou várias vezes que se sente injustiçado por ter sido condenado de forma diferente dos restantes membros do seu conselho executivo e de administração, apesar de referir que aceita “as condenações por falsidade informática” e “ser julgado como os outros, com as penas que corresponderam aos outros”. E disse recusar assumir “as responsabilidades dos outros”.
Não posso aceitar que no quadro de um conselho de administração — que, segundo a lei, é um órgão solidário onde todos são responsáveis pelos atos que acontecem no contexto da gestão — […] tenham penas irrisórias. Porque é que só eu tenho pena pesada?”
João Rendeiro chega a assumir arrependimentos, nomeadamente em relação às duas situações que originaram os crimes de que foi acusado. “Fizemos uma coisa que acho errada mas foi bem intencionada”, começou por explicar.
“Em novembro de 2008 já tínhamos a noção de que iria haver uma intervenção do Banco de Portugal [BdP] e quisemos fazer aquilo que designámos de passagem de um balanço limpo, chamemos-lhe assim”, refere. Foi essa passagem de balanço limpo que esteve na origem dos crimes de que foi considerado culpado pelo Tribunal da Relação de Lisboa em julho do ano passado. Ainda assim, o ex-banqueiro diz ter sido ingénuo ao achar que “o Banco de Portugal iria entrar no banco [BPP] para o viabilizar”, algo que diz não ter acontecido. “Ao Banco de Portugal era atribuída a responsabilidade de viabilizar o banco e isso não aconteceu”, diz.
Tacitamente associa esta atuação do BdP a “uma aliança político-financeira, nas pessoas de José Sócrates e o principal banqueiro da altura, o Dr. Ricardo Salgado”, que, na altura, estava a tomar “o controlo do sistema financeiro português”. Na opinião de Rendeiro, o BPP “estava a crescer muito rápido e estava a pisar os calos ao Banco Espírito Santo”, daí ter-se tornado “uma concorrência incómoda”.
Parte conivente deste complô, segundo o próprio, foi o então ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, personagem que diz ser “um banana” por causa da forma como atuou perante todo este cenário.
É um banana porque é um banana [sobre o ministro Teixeira dos Santos]. Se é uma pessoa que faz tudo o que o primeiro-ministro [José Sócrates] quer e leva o país à bancarrota, e se é um ministro das finanças que não defende as finanças do país, o que é uma pessoa dessas se não um banana?
Já Vítor Constâncio, então responsável principal pelo Banco de Portugal, foi rotulado por Rendeiro como “cobarde”, por também ele ter feito parte do conluio que o antigo banqueiro diz ter sido criado contra o BPP e a favor dos interesses de Ricardo Salgado — atuação que justifica dando como exemplo a recusa em 2008 do aval público para o empréstimo de 750 milhões de euros para salvar o BPP. João Rendeiro defende que esta decisão resultou de um acordo entre a governação, com o beneplácito de Constâncio. Numa citação do seu livro fala de “uma infinita cobardia e reverência perante Sócrates” de Constâncio, que viria a ser “recompensado ao assumir, em 2010, a vice presidência do Banco Central Europeu”.