José Sócrates acusou a direção do Partido Socialista (PS) de o ter traído, apontando principalmente o dedo a Carlos César, presidente do partido, e ao “atual líder do PS”, cujo nome não chega a ser mencionado. Disse mesmo que “a política ama a traição, mas despreza o traidor”, palavras do brasileiro Ulysses Guimarães.

O antigo primeiro-ministro dedica um capítulo inteiro (o décimo de 14) do livro “Só Agora Começou”, em pré-publicação no Diário de Notícias, à dita deslealdade, afirmando que a direção do PS desprezou a Declaração de Princípios do partido no que toca à “defesa dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos”.

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José Sócrates desabafa que, na origem da sua saída do partido, estiveram os ataques de que foi alvo e que considerou injustos. E embora considere que o “companheirismo é instrumental”, considera que, no plano político, “o PS abandonou conscientemente a principal referência da sua cultura política”.

No entanto, elogiou o gesto de António Guterres, que havia viajado de Genebra para Lisboa, e daí para Évora, para visitar o antigo primeiro-ministro. A visita, que deveria ser de uma hora, limitou-se a 15 minutos por “instruções do senhor diretor” — Guterres tinha chegado 45 minutos atrasado.

“Nenhum de nós tinha ilusões”, escreveu José Sócrates: “Afinal, conhecemos bem a história do nosso país, a cultura das nossas instituições e o que alguns dos nossos compatriotas, zelosos homens do Estado, são capazes de fazer em certos momentos”.

Petição com mais de 120 mil assinaturas quer afastar Ivo Rosa da magistratura

Ao longo do livro, o antigo primeiro-ministro dedica-se ainda a derrubar os argumentos que constam na acusação do Ministério Público, entrelaça declarações da atualidade com as proferidas em 2014 e chega a comparar a Operação Marquês à Operação Lava Jato, no Brasil.

“Só Começou Agora” foi redigido em 2018, uma semana depois de Ivo Rosa ter sido sorteado como juiz de instrução da Operação Marquês. O livro é publicado brevemente, só agora que o juiz anunciou as suas decisões sobre o caso. José Sócrates preferiu esperar que a fase de instrução terminasse, explica.