Rui Rio acredita que os recentes desenvolvimentos na Operação Marquês são o reflexo de um “regime” que “está muito doente” e que é de particular gravidade que se assuma que um ex-primeiro-ministro foi corrompido ao mesmo tempo que se diz que o crime já prescreveu. “O povo não entende esta decisão e quando o povo não entende a justiça a não está funcionar”, disse o líder social-democrata.

Numa declaração feita a partir do Porto, Rui Rio defendeu que o que aconteceu na sexta-feira é prova de que “a Justiça não está a funcionar” e que rejeitar essa evidência “é negacionismo” e uma fuga às “responsabilidades”. Atirando várias vezes contra os socialistas, o presidente do PSD acabou a acusar António Costa de nada querer fazer para reformar a Justiça e salvaguardar o regime democrático da “degradação lenta e perigosa” em curso.

Apontando diretamente o dedo a António Costa, Rui Rio classificou de “hipocrisia” a frase que o primeiro-ministro adotou para se referir à Operação Marquês (“à política o que é da política, à Justiça o que é da Justiça”) e disse que é obrigação do poder político criar um quadro legal coerente e dotar o sistema judicial dos meios necessários.

“Uma justiça com uma eficácia absolutamente inaceitável. Quando a justiça não é feita em tempo útil, pura e simplesmente não é justiça”, continuou Rui Rio, antes de lembrar que assim que tomou posse tentou fazer um pacto para a reforma da justiça com os socialistas.

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O resultado foi pouco mais do que zero. Esse resultado foi fruto da falta de vontade de mexer no sistema e de uma dominante cultura política que há muito está incapaz de se mostrar aberta a entendimentos partidários alargados em nome do superior interesse nacional. Seja por receio de enfrentar interesses corporativos ou por pôr em causa poderes fáticos”, atirou.

Voltando a defender uma reforma da Justiça sem revoluções, Rio insistiu que essa tarefa está nas mãos do poder político. “Justiça tem de ser independente mas não pode ser um Estado dentro de um Estado. Se a justiça já demonstrou não estar capaz de se credibilizar e de responder aos justos anseios do povo português, então é óbvio que a responsabilidade tem de passar para esfera do poder político. Quando a Justiça não funciona é responsabilidade do poder político pô-la a funcionar.”

Para Rio, António Costa está refém dos poderes corporativos e nada tem feito para mudar o estado de coisas. “O caminho não é seguramente o do atual Governo, cuja marca mais relevante na Justiça é a da sua permanente preocupação em servir as corporações“, denunciou o líder social-democrata.

Basta de hipocrisia e basta de falta de coragem. É esta hipocrisia e falta de coragem que têm feito crescer os movimentos políticos extremistas. A melhora forma de estancar o seu crescimento é termos a coragem de mudar o que tem de ser mudado. O país vive na impunidade pelo menos no que aos mais poderosos concerne.”

O líder do PSD garantiu ainda que tudo fará para avançar com as propostas de reforma de Justiça que os sociais-democratas sempre defenderam, assegurando, ainda assim, que o partido não vai acelerar nada por causa da Operação Marquês.

“Se nada mudar, teremos depois a habitual letargia que irá continuar a degradar o regime. Se algo mudar, se o poder político e poder judicial tomarem consciência das suas responsabilidades então a Operação Marquês terá pelo menos conseguido ficar na história como um momento de viragem. Um momento em que os que têm vindo a negar o problema resolvam assumir as responsabilidades perante um povo que muito justamente está descrente neste regime”, rematou.