O próximo filme do ator Will Smith não será filmado como planeado no Estado norte-americano da Geórgia, em protesto contra uma lei aprovada recentemente que segundo os opositores limita o acesso às urnas a minorias, foi divulgado segunda-feira.

O “Emancipation”, filme sobre a história da escravatura nos EUA, que será realizado por Antoine Fuqua e que terá como protagonista o ator Will Smith, não será rodado como previsto no Estado da Geórgia, após a aprovação de uma lei eleitoral que tem sido contestada por limitar o acesso às urnas de minorias, em particular de eleitores afro-americanos.

Graças a incentivos fiscais significativos, a Geórgia tornou-se nos últimos anos um dos principais locais de filmagem nos Estados Unidos, hospedando, por exemplo, os filmes da Marvel ou a série “The Walking Dead”. Mas a adoção, no mês passado, de uma lei aprovada com a suposta intenção de combater a fraude eleitoral, em particular para controlar a identidade dos eleitores que votam por correio, criou uma onda de críticas e pedidos de boicote por parte de setores económicos, artísticos ou desportivos.

Will Smith e Antoine Fuqua decidiram esta terça-feira juntar-se a este movimento de protesto e mudar o Estado onde o filme será gravado. “Não podemos, em nossa alma e consciência, dar apoio económico a um Estado que aplica leis eleitorais retrógradas destinadas a restringir o acesso às urnas (…). É com pesar que nos sentimos obrigados a transferir nosso trabalho da produção cinematográfica da Geórgia para outro Estado”, divulgaram os artistas em comunicado enviado à agência AFP.

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Além do reforço da verificação de identidades, o texto, assinado pelo governador republicano da Geórgia, também proíbe a distribuição de água ou comida em filas de espera longas nos dias da votação ou restringe o número de urnas instaladas numa cidade para receber os votos.

Segundo os opositores, esta lei é comparada às restrições impostas nas chamadas leis segregacionistas “Jim Crow”, introduzidas por muitos estados do sul após a Guerra Civil para limitar o direito de voto dos afro-americanos. As novas disposições eleitorais na Geórgia “lembram os obstáculos à votação que foram adotados no final da Reconstrução para impedir que muitos americanos votassem”, realçaram Will Smith e Antoine Fuqua, este último conhecido em particular pelo filme “Training Day”.

Na Geórgia, onde as feridas da escravatura e da segregação ainda estão vivas, foi graças a uma mobilização recorde, especialmente de eleitores negros, que o presidente Joe Biden venceu em novembro de 2020. Uma vitória contestada neste Estado por Donald Trump, que alegou fraude eleitoral, apesar de não ter provado essas irregularidades.

Em outros protestos contra esta lei, a Liga Norte-americana de basebol (MLB) anunciou na sexta-feira que o “All-Star Game 2021”, marcado para 13 de julho em Atlanta, capital da Geórgia, será realizado noutro Estado. Empresas como a Coca-Cola e a Delta Airlines, criadoras de muito emprego naquele Estado, também já denunciaram publicamente aquela lei.

Até esta decisão de Will Smith e Antoine Fuqua, os pedidos de boicote ainda não tinham causado muito eco em Hollywood, para além de alguns tweets de artistas indignados, como os de James Mangold, que realizará o próximo filme da saga de Indiana Jones, ou do ator Mark Hamill, que interpreta Luke Skywalker na saga Star Wars.