Primeiro era apenas uma ideia, depois tornou-se uma hipótese, de seguida uma probabilidade. Este domingo, a “bomba” explodiu: 12 clubes de Inglaterra, Espanha e Itália vestiram a capa de dissidentes e anunciaram em comunicado a criação de uma nova competição, a Superliga Europeia, na antecâmara da votação de um novo modelo competitivo para a Liga dos Campeões desenhado pela UEFA. A guerra está aberta, havendo num par de horas avisos, ameaças e acusações em tom mais ríspido numa batalha que ainda agora começou.
Já na manhã desta segunda-feira, os clubes que compõem a Superliga avisaram a FIFA e a UEFA por carta que tinham avançados com ações legais com o objetivo de impedir que as duas organizações possam empatar o arranque da Superliga Europeia: “A sua declaração formal obriga-nos a tomar medidas de proteção para nos proteger contra tal reação adversa, o que não só colocaria em risco o compromisso de financiamento sob a doação, mas, mais do que isso, seria ilegal. Por este motivo, a SLCo (Super League Company) entrou com uma moção perante os tribunais competentes, a fim de garantir o estabelecimento e operação perfeita da competição de acordo com as leis aplicáveis”, cita a Associated Press.
As primeiras reações chegaram de todos os países e quadrantes, incluindo o próprio primeiro-ministro inglês. “A Superliga europeia seria muito danosa para o futebol. Os clubes envolvidos devem responder aos seus adeptos e à comunidade futebolística mais abrangente antes de darem novos passos”, comentou Boris Johnson, citado pela BBC, já depois de Premier League e Federação Inglesa terem apoiado a UEFA contra a ideia que tem seis clubes britânicos na génese: Manchester United, Manchester City, Chelsea, Liverpool, Tottenham e Arsenal. Boris Johnson, afirmou ainda esta segunda-feira que vai fazer “tudo o que puder” para impedir a criação da Superliga europeia de futebol, anunciada domingo e que inclui seis equipas inglesas.
Vamos analisar tudo o que podemos fazer com as autoridades do futebol para garantir que a Superliga não aconteça como está planeada. Isto não é uma boa noticia para os adeptos nem para o futebol deste país. Não gosto da aparência desta proposta e farei tudo o que puder para que não aconteça”, afirmou Boris Johnson aos jornalistas ingleses.
E foi de Inglaterra que surgiu um dos comentários mais críticos (e mais partilhados) em relação ao projeto que foi este domingo oficializado, de Gary Neville, antigo defesa e capitão do Manchester United e da seleção inglesa.
“Sou adepto do Manchester United há 40 anos mas estou completamente enojado. Com o Manchester United e o Liverpool, principalmente. O Liverpool com o ‘You’ll Never Walk Alone’ é o suposto clube do povo. O United, nascido de trabalhadores industriais há 100 anos. Agora fogem para uma liga sem competição do qual não podem ser despromovidos? É uma desgraça. Sinceramente, temos de retirar o poder aos grandes clubes, incluindo o meu. Estão motivados pela ganância. Retirem-lhes pontos, coloquem-nos no fundo da tabela e tirem-lhes o dinheiro. Sinceramente, há que travar isto. É um ato criminoso contra os adeptos de futebol neste país. Tirem-lhes pontos, dinheiro e punam os clubes. Que vão para uma Superliga Europeia mas sejam punidos. Despromovam United, Arsenal e Liverpool”, disse, antes da confirmação de City, Tottenham e Chelsea.
Gary Neville is the people's hero right now. Unreal piece of television about the European Super League. pic.twitter.com/ypdQbdQfs7
— Football Tweet ⚽ (@Football__Tweet) April 18, 2021
Por cá, as reações alinharam pelo mesmo diapasão, com Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, e Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, a criticarem a ideia de forma aberta como já tinha acontecido com a UEFA, que ameaçou mesmo suspender os clubes dissidentes e impedir que os jogadores que estivessem nos seus plantéis fossem proibidos de representar as respetivas seleções, entre outras medidas.
“A hipótese da criação de qualquer tipo de Superliga Europeia merece o meu completo desacordo e reprovação. Discordo porque viola todos os princípios do mérito desportivo. Tanto quanto sabemos, seria algo para os clubes que se entendem como privilegiados. Merece a minha reprovação porque o mundo está neste momento a enfrentar o seu maior desafio, pelo menos olhando ao último século, e a última coisa que precisamos é de egoísmo e ganância. A Superliga não terá qualquer tipo de apoio em Portugal e, na minha opinião, todas federações devem recusá-la de uma forma clara”, disse Fernando Gomes à Press Association.
UEFA excluirá todos os clubes que participem na Superliga europeia
“A hipótese da criação de uma Superliga Europeia, pensada e desenhada por uma pequena elite com intenções exclusivas, é algo a que nos continuaremos a opor frontalmente. Uma insanidade que colocaria em causa todos os alicerces fundamentais em que o futebol sempre se desenvolveu. Seguiremos firmes e unidos na defesa das ligas nacionais, do mérito desportivo e de modelos que contribuam para o crescimento de todo o ecossistema do futebol e não apenas de uma reduzida e egoísta elite”, escreveu Pedro Proença no Facebook.
Já o vice-presidente da comissão europeia, Margaritis Schinas, mostrou a sua posição através do Twitter: “Devemos defender um modelo desportivo assente nos valores europeus de inclusão e diversidade. Não há espaço para reservá-lo apenas para os clube mais ricos e poderosos que querem cortar ligações com tudo o que as associações representam”.
(1/2) We must defend a values-driven European model of sport based on diversity and inclusion. There is no scope for reserving it for the few rich and powerful clubs who want to severe links with everything associations stand for:
— Margaritis Schinas (@MargSchinas) April 18, 2021