Um Tribunal de Instrução de Madrid rejeitou que o cartaz do partido espanhol VOX fosse retirado de uma estação de metro da capital espanhola, informa o La Vanguardia. Em causa, está um cartaz com a imagem de uma idosa, “a tua avó”, que recebe “426 euros por mês”, ao contrário de um menor estrangeiro não acompanhado (designado de mena) que recebe “4.700 euros por mês”.

Na origem da decisão judicial, está uma denúncia do Ministério Público (MP) espanhol que considerou que o cartaz podia constituir um crime de ódio. Segundo um comunicado a que o El País do MP, o facto de aparecer uma idosa ao lado de um jovem “radicalizado de pele escura com a cabeça tapada com um carapuço e com a cara igualmente tapada por um lenço” transmite uma imagem “preconceituosa do menor como pessoa estrangeira, violenta e delinquente”.

Além disso, o Ministério Público também argumenta que os “menores não nacionais carecem de uma estrutura social e económica em Espanha” e são um “coletivo duplamente vulnerável, tanto pela idade, como pelo desenraizamento estrutural pela sua origem estrangeira, que requer maior proteção das instituições públicas” e o cartaz coloca os seus direitos em causa.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, também já pronunciou quanto ao cartaz e chegou mesmo a caracterizá-lo como sendo uma “baixeza inqualificável” e uma “combinação entre a mentira e o ódio”. Além disso, o governante também sinalizou que a informação do cartaz era “falsa” e que “aumenta o ódio contra os imigrantes, e dentro deles, contra o coletivo mais vulnerável, que são os menores”.

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No entanto, o líder do VOX, Santiago Abascal, rejeita as críticas e, caso o cartaz venha a ser retirado, promete levar o caso à justiça. “Não vamos deixar que a nossa liberdade de expressão seja suprimida”, afirmou.

Fotógrafo é imigrante e sente-se de “mãos atadas”

Ahnaf Piash, oriundo do Bangladesh mas a estudar no Canadá, foi o autor da fotografia do menor que aparece no cartaz do VOX. Em entrevista ao Eldiario, revelou que o modelo é um “amigo dele” e rejeita qualquer ligação a Espanha.

O estudante está “muito zangado” por se utilizar a fotografia que tirou para ajudar “discursos racistas e populistas para ganhar eleições”. “Se alguém utiliza as fotografias para fazer pouco de menores migrantes e para lhes faltar ao respeito, isso magoa-me, porque eu mesmo sou um imigrante noutro país”, acrescentou Ahnaf Piash.

No entanto, o estudante confessa estar de “mãos atadas” e não pode fazer nada contra a utilização da fotografia, uma vez que a colocou numa plataforma que obriga à perda dos direitos de autor.