Investigadores das ciências psicológicas têm estudado formas de proteger as pessoas de informações falsas e uma das ideias é a lógica da vacina, em que no confronto direto com pequenas doses de desinformação, o cidadão ganha resistência. O professor da Universidade de Aveiro Nuno de Sá Teixeira defende a sensibilização para os truques da desinformação e explica como a teoria da inoculação é “mais eficaz na resistência” à informação enviesada.
Os eventos políticos e sociais recentes e o surgimento das redes sociais mostraram fenómenos psicológicos que ganharam uma nova amplitude e alguns estudos clássicos foram retomados.
“Enquanto espécie social que interage no âmbito de uma comunidade, importa para o nosso funcionamento termos acesso a informações novas, que sejam precisas e relevantes. Obviamente que, quando se fala do volume de informação que dispomos hoje em dia, é impossível para uma única pessoa processar a sua opinião sobre tudo aquilo a que está exposta”, esclarece o investigador em psicologia experimental e professor auxiliar no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.
As pessoas recorrem a pistas que sugerem credibilidade à entidade que emite uma determinada impressão, no entanto, as pistas não são perfeitas e são facilmente usáveis para veicular uma mensagem declaradamente falsa mas que parece verdadeira.
No panorama político, as posições podem ser diferentes, e podem discordar, mas não colocar em causa aquilo que é produzido pela ciência.
Nos anos 50, os psicólogos sociais estavam interessados em fatores que pudessem disponibilizar às pessoas uma resistência à persuasão ou à lavagem cerebral e é neste contexto que surge a Teoria da Inoculação, uma metáfora às vacinas tradicionais mas aplicadas ao vírus da desinformação.
A informação propaga-se de forma semelhante a um vírus ou bactérias, assim, o objetivo seria expor às pessoas pequenas doses de desinformação, relativamente controladas, e acompanhadas de refutações, que permite despertar processos de raciocínio que, quando confrontados numa futura exposição a um conteúdo falso, vão resultar numa “imunização psicológica”. “É quase como aprender um truque de magia, é assistir a algo bastante impressionante que não sabemos como se faz, contudo, quando nos contam como o truque é feito, percebemos que provavelmente há um espelho, ou uma coisa escondida num determinado sítio”, afirma.
De acordo com o especialista, as campanhas de fact checking continuam a ter relevância, mas atuam apenas “a posteriori”. O psicólogo sugere um reforço na verificação dos factos, não afirmar apenas que é falso mas acrescentar novas atualizações e, se possível, dar a conhecer a informação que é correta. “Poderia resultar um casamento entre o ‘fact checking’ e a teoria da inoculação, no sentido em que esta pode apontar quais os truques que levam as pessoas a acreditarem na desinformação”, acrescenta.
O psicólogo ressalta que a melhor forma de controlar a desinformação é a partilha de conhecimentos entre várias áreas científicas. “Os meios de comunicação tradicionais veem-se confrontados com jogos sociais em grupos de pessoas e é aqui que a psicologia poderia intervir, ao fornecer uma perspetiva compreensiva sobre os fenómenos e estabelecer uma leitura real da sociedade, da qual o jornalismo também depende”, sublinhou.
Nuno Alexandre de Sá Teixeira formou-se em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, e doutorou-se em Psicologia Experimental pela mesma instituição. É atualmente Professor Auxiliar Convidado no Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro e tem trabalhos científicos sobre a forma como as variáveis físicas são utilizadas pelo cérebro para suportar funções percetivas e motoras na interação com o mundo.