“Pelo emprego, salários, serviços públicos, sociais proteção, liberdade e paz no mundo”. O mote para o segundo Dia do Trabalhador em plena pandemia de Covid-19 foi lançado pelas principais confederações sindicais francesas que conseguiram juntar, em várias cidades, milhares de manifestantes. Em Paris, vários protestantes acabaram, no entanto, a protestar contra o forte aparato policial, considerando-o violador da sua liberdade de manifestação, e a polícia acabou a dispersar a multidão com gás lacrimogéneo.

Na capital francesa, eram 14h00 quando centenas de pessoas começaram a juntar-se na Praça da República. A polícia já tinha preparado uma operação para tentar evitar alguns comportamentos de movimentos mais radicais que se têm registados noutros eventos semelhantes. Pelo menos 2.000 polícias de choque e militares foram destacados, com mais cerca de 3.000 efetivos que se foram colocando entre a Praça da República e ao longo da Boulevard Voltaire para garantir a segurança daquela que será a primeira grande manifestação em Paris depois do início da pandemia.

O secretário-geral da CGT (Confederação Geral do Trabalho), Philippe Martinez, explicou aos jornalistas, segundo o Le Monde, que a mobilização se destinava a “evitar que o mês de maio e os meses seguintes fossem idênticos aos de antes do confinamento, ou seja, da reestruturação: muito dinheiro para quem tem muito e menos ainda para quem não tem”. Os sindicatos temem, entre várias mudanças, a prevista reforma laboral numa altura em que a economia sofreu um duro golpe com a pandemia de Covid-19.

No entanto vários protestantes acabaram por juntar à lista dos protestos o incómodo ela forte presença policial, considerando-a demasiado invasiva. E a troca de palavras rapidamente inflamou e passou ao ataque à polícia, que acabou por ripostar. “É uma manifestação de polícias ou do povo?”, gritou um manifestante, quando os confrontos começaram entre as forças de ordem e os milhares de parisienses, segundo descreveu a Lusa.

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Há 30 anos que no dia 1 de Maio Lila, reformada de 68 anos, se junta a esta manifestação e, este ano, não consegue encontrar explicação para este reforço de segurança. “Desde há dois anos, as manifestações são violentas em França. Agora, estamos aqui todos parados. Há muito mais polícias do que antes, a manifestação da CGT [central sindical] só tinha alguns polícias para acompanhar o cortejo. Mas é horrível, eles até se infiltram nas manifestações”, comentou, em declarações à agência Lusa.

Lila diz mesmo que este reforço de segurança vai “contra a liberdade de manifestação”. “Estamos num país democrático”, declarou.

Há vários dias que as forças da ordem preparavam esta operação, temendo o regresso dos protestos violentos encabeçados por grupos radicais. A estratégia, de forma a impedir estragos e violência generalizada, foi um enquadramento da multidão e um reforço nas esquinas com outras grandes avenidas, assim como a intervenção dos polícias em motas.

No entanto, esta prevenção não impediu o arremesso de objetos contra a polícia. Com um longo cortejo, a maior parte dos confrontos ocorreram à frente da maior parte dos manifestantes organizados pelos sindicatos, com vários jovens encapuzados a infiltrarem-se e a causarem os primeiros distúrbios.

A manifestação ficou parada em vários momentos devido a estes conflitos, decorrendo o resto do tempo de forma pacífica. Às 14:20, a polícia já tinha detido 17 pessoas, segundo indicou a Prefeitura de Paris.

O Le Monde descreve também manifestações em Lyon, onde se registaram também alguns confrontos entre um grupo de manifestantes e a polícia. Marselha, Nantes, Toulouse e Bordéus foram outras cidades onde milhares de pessoas saíram à rua neste 1.º de maio, o Dia do Trabalhador.

Segundo a SIC, há ainda manifestantes no local a provocar pequenos focos de incêndios e a arremessar pedras e objetos contra montras, edifícios e paragens de autocarro, mesmo com a hora do recolher obrigatório (às 19h00) a aproximar-se. A polícia deverá ter que voltar a intervir.

Houve também confrontos em manifestações semelhantes registadas  noutras cidades europeias, como foi o caso de Bruxelas, na Bélgica, com vários momentos mais tensos em que os manifestantes arremessaram objetos contra a polícia, fazendo-a intervir.