Mais do que um desafio para a equipa da KTM, o Grande Prémio de Espanha surgia como um desafio importante para Miguel Oliveira, que depois de ter entrado com duas corridas a pontuar mas fora do top 10 sofreu um golpe duro no Algarve onde entrou na Q2 mas teve uma queda ainda na primeira metade da prova e levou a moto até final por respeito às pessoas que trabalham consigo, aos fãs e à organização. “Queremos ter um resultado sólido. Temos potencial, no Qatar e Portimão éramos dos mais fortes para conseguir bons resultados mas não atingimos o que queríamos”, admitia no lançamento deste fim de semana em Jerez de la Frontera, fazendo também uma alusão ao ponto que tem condicionado mais o arranque de temporada: “Que os pneus não sejam um assunto”.

“A queda foi motivada por algo que não consigo controlar. Foi duro, saíamos amassados mas de cabeça erguida”, garante Miguel Oliveira

E não pareciam ser. Aliás, nas primeiras sessões de treinos livres não foram mesmo, nem para o português nem para a KTM: Miguel Oliveira terminou a sessão inicial na sétima posição a 0,385 do companheiro de equipa, Brad Brinder, o mais rápido em pista com 1.38,013; depois repetiu a sessão na segunda parte dos treinos livres, com um tempo melhor (1.37,816), uma diferença maior para o mais rápido (Pecco Bagnaia, 0,607) e um lugar melhor do que o sul-africano (décimo). “Não foi um dia fantástico mas também não foi dos piores. Tivemos um início sólido. Queríamos ter sido mais rápidos com o pneu usado. Ainda temos trabalho a fazer mas no final deste dia as coisas são positivas”, destacara na sexta-feira, acrescentando: “É a primeira vez que temos um composto duro e condições para isso. Não sei se isso estará depois diretamente ligado ao nosso desempenho. Estamos a tentar que a mota seja mais amigável com os compostos macios pois nem sempre teremos os duros”.

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Com duas voltas rápidas anuladas, Miguel Oliveira volta a falhar a Q2 e sai de 16.º em Jerez de la Frontera

No sábado, a realidade mudou: o piloto de Almada não foi além da 16.ª posição na terceira sessão de treinos livres, voltou a cair para a Q1 (ao contrário do que acontecera em Portimão) e não foi depois além do sexto registo com algum azar à mistura por ter visto a melhor volta anulado por ter excedido os limites de pista. “O que podemos fazer? O sistema vai na direção certa, o problema é que os nossos pneus são largos e podemos ativar o sensor sem passar os limites da pista. Estamos aqui a pilotar nos limites, não é bom ter uma volta cancelada. Faz diferença porque são três posições. Temos de trabalhar melhor isso mas temos um bom ritmo de corrida. A posição de saída é longe dos nossos objetivos mas vamos dar o nosso melhor, fazer uma boa corrida e terminar”, explicou no final da qualificação que teve Binder a avançar para a Q2 e a ficar no 11.º lugar.

Os bons sinais do primeiro dia não tiveram concretização e houve uma espécie de redução de objetivos por parte do português, ciente de que nesta fase o seu grande rival no Moto GP não é A, B ou C mas sim a adaptação à nova equipa e a capacidade de colocar a moto o mais compatível possível com a composição de pneus colocada à disposição. Só aí, ou só com isso, Miguel Oliveira irá dar o salto para um patamar diferente como aquele que foi ganhando na última temporada na Tech3, que contou por exemplo com um oitavo lugar no Grande Prémio de Espanha antes de uma saída de pista no Grande Prémio da Andaluzia por um toque de… Brad Binder.

“Será uma corrida longa, as condições estão mais quentes do que a FP4. O trabalho está feito, agora é concretizar na corrida. Fazer bom arranque, evitar perder tempo nas primeiras voltas e depois, volta a volta, fazer o nosso melhor e o nosso ritmo”, comentou Miguel Oliveira à SportTV antes do arranque na prova, num domingo que de manhã registou mais uma aparatosa queda de Marc Márquez e que chegou a ter bandeira vermelha durante o período de warm up do Moto2. E dentro dessa corrida longa a saída não trouxe grandes novidades, com o piloto português a subir a 15.º mas a descer de novo uma posição ultrapassado por Enea Bastiani antes de começarem as primeiras quedas, neste caso de Aleix Márquez e de Brad Binder, que ainda tentou depois regressar.

Lá na frente, Fabio Quartararo não conseguiu confirmar mais uma pole position na saída, sendo ultrapassado de uma assentada por Jack Miller, Franco Morbidelli e Pecco Bagnaia antes de estabilizar o ritmo de corrida e subir mais posições e passar de novo para a frente na quarta volta, já com Álex Rins a ter outra falha com a sua Suzuki como em Portimão e a cair, descendo à última posição e colocando com isso Miguel Oliveira em 14.º de novo atrás de Bastianini antes de uma queda do italiano que estabilizou o português em 13.º atrás de Stefan Bradl. Lá na frente, quando as atenções estavam centradas na luta pela terceira posição entre Morbidelli e Bagnaia, algo se passou com a moto de Quartararo, num problema bem aproveitado por Miller para saltar para a frente.

Em duas voltas, o francês, líder do Mundial, já estava a rodar com mais dois segundos do que Miller, afundando-se por completo na classificação e ficando fora do top 10 num ápice, com Miller e Bagnaia a trabalharem para o 1-2 da Ducati e Morbidelli a tentar segurar o último lugar no pódio à frente de Nakagami. Após largas voltas a perseguir Bradl, Miguel Oliveira pareceu quase ganhar outros argumentos com a queda a pique de Quartararo com os dois pneus quase desfeitos, superou o alemão e saltou a seguir para a 11.ª posição, numa fase em que o português conseguia fixar as suas melhores marcas na corrida embora longe de Pol Espargaró, que fechava o top 10. Lá na frente, Pecco Bagnaia reduziu distâncias mas Miller conseguiu mesmo segurar a sua segunda vitória no MotoGP (a primeira foi em 2016), vendo a Yamaha de Morbidelli fechar mesmo o pódio.

Com a queda abrupta de posições na corrida, Fabio Quartararo perdeu também a liderança do Mundial, tendo agora menos dois pontos do que Pecco Bagnaia (66-64) com Maverick Viñales (50), Joan Mir (49) e Johann Zarco (48) por perto. Já Miguel Oliveira, que somou pela primeira vez cinco pontos numa corrida, mantém-se num modesto 17.º lugar com apenas nove pontos em quatro corridas, longe dos 21 de Brad Binder (décimo).

“Foi uma corrida dura, muito difícil, sobretudo pela temperatura mais elevada face a ontem [sábado]. Desde o início que me senti um pouco limitado, com o sobreaquecimento dos pneus. Tornou-se bastante difícil rodar sem cair. Depois fui ficando com a moto mais leve e isso ajudou-me a acabar na 11.ª posição, ainda assim, longe do meu objetivo e do que sei que sou capaz de alcançar e dos objetivos da equipa”, comentou no final da corrida Miguel Oliveira à sua assessoria de imprensa, colocando já atenções nos testes que irá realizar no início da nova semana também na Andaluzia por forma a poder melhorar o rendimento da moto neste arranque.

“Não podemos ficar contentes com o 11.º lugar, porque tínhamos algumas expectativas depois da boa qualificação do Brad [Binder] e da consistência que demonstrou no warm up. Tivemos várias quedas e infelizmente o Brad teve uma na segunda volta. Aí acabou a corrida dele… Foi duro para o Miguel partir de 16.º, pois esteve muito tempo no meio do tráfico. Temos de aceitar o 11.º lugar mas podemos ver o quão alto está o nível e agora temos de trabalhar no teste de amanhã [segunda-feira] para encontrar algo extra para a moto. Foi positivo ter três motos nos pontos, mesmo que o nosso objetivo não seja estar apenas no meio do pelotão. A meta agora é melhorar em Le Mans”, destacou também no final o chefe da KTM, Mike Leitner.