Faltavam ainda três minutos, o tempo de descontos dado pelo árbitro Luís Godinho, e o banco do Sporting estava todo de pé. Por norma, esse é o momento em que o treinador principal apela à serenidade, à calma, à contenção. Rúben Amorim não. Rúben Amorim estava até a sorrir, revelando uma confiança que foi uma das principais marcas do novo campeão. No final, enquanto Frederico Varandas pediu alguns segundos sozinho depois de abraçar o vice e amigo Francisco Salgado Zenha, o técnico trocava um abraço ainda mais longo com o diretor desportivo e amigo Hugo Viana. Mais uma vez, o espírito de família imperou. E fez a diferença.

Rúben Amorim tornou-se mais um jogador a ser depois também campeão como treinador, depois de Juca, Mário Lino, Mário Wilson, José Maria Pedroto, Fernando Mendes, Artur Jorge, Toni, António Oliveira, Augusto Inácio, Jaime Pacheco e Sérgio Conceição. Com isso, e apenas num ano e meio, ganhou três troféus: duas Taças da Liga (uma pelo Sp. Braga, outra pelo Sporting) e agora um Campeonato. E, em paralelo, tornou-se apenas o segundo elemento a ganhar como jogador e treinador entre Sporting e Benfica depois do saudoso Mário Wilson.

“Principalmente o staff passou maus momentos e teve hoje a recompensa. O mérito é dos jogadores que acreditaram, que são muito humildes. É o reflexo da nossa época. Fomos melhores, sofremos mas conseguimos no fim. Eu sentia o peso, é algo que realmente me tiram de cima, pelo Campeonato, pela aposta arriscada, queria ganhar pelo clube e também por outras razões que não são nada saudáveis. Toda a gente precisa de tempo”, começou por destacar o treinador na zona de entrevistas rápidas da SportTV.

“O Paulinho marcou um golo, falhou três ou quatro. Ganhámos, esta época só podia acabar assim: com muito sofrimento, com um golo do Paulinho e com esta gente toda. Vou sentir o clube de uma forma diferente da que sentia quando aqui cheguei. Isso não há dúvida. Não vou a lado nenhum, a não ser que paguem tudo. Se Deus quiser cá estaremos. Ainda vou trabalhar com mais prazer. Eu só fiz duas promessas, quando nasceu o primeiro e o meu segundo filho. A bola entra, somos ou não somos campeões… é sorte. Agora tenho de passar no curso, vai ser muito difícil. O ano passado tivemos a época com mais derrotas, esta fomos campeões… É por isto que o futebol é tão bonito”, prosseguiu Rúben Amorim, entre algumas mensagens nas entrelinhas.

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“Obrigado aos jogadores. Foi muito difícil porque fomos muito criticados e aproveitámos para trabalhar. Era normal. Mas eles merecem, o Alex, o enfermeiro, a malta do scouting a carregar malas quando era preciso… Foi a tempestade perfeita. O jogo na Madeira foi muito especial. Fico mais orgulhoso para não termos justificado eliminações na Liga Europa, encaixámos as críticas todas. É um orgulho ver que os jogadores não se queixaram de nada. É o caráter deste grupo, onde não havia vedetas. Falo muito do Vitorino [Antunes], do João Pereira, porque são jogadores que dão tudo quando entravam e quando era preciso”, destacou o técnico.

“Eu acredito sempre, sempre acreditei noutros clubes e aqui não é diferente. Agora, para o próximo ano, as competições europeias… Vai ser difícil, muito difícil. Se não vencêssemos hoje já iam falar do autocarro que andou a passear… enfim. Os sportinguistas levaram com isto durante muito tempo, que aproveitem. Finalmente vou dormir bem e preparar o Benfica porque temos um jogo muito importante e queremos continuar a vencer”, concluiu Rúben Amorim na flash interview após o encontro.

Mais tarde, na conferência de imprensa, o treinador começou por explicar o porquê de ter toda a equipa técnica ao seu lado naquele momento, ainda conseguiu responder a duas perguntas mas viu a sala “invadida” pelos jogadores com baldes de gelo para o habitual banho e um momento que mostrou bem a cumplicidade que existe no grupo quando Pedro Gonçalves agarrou no microfone para dizer “O mister Amorim está castigado por ter sido campeão”. Ato contínuo, todos cantaram “E o Amorim está castigado…”. E ainda houve tempo para um momento de humor de Gonzalo Plata, dizendo que não jogou porque o treinador não o colocou a jogar.