Ainda estava longe daquilo que poderia ser projetado no início do ano mas o Grande Prémio de Espanha acabou por ser um sinal de que a passagem do Mundial para a Europa, o maior trabalho de desenvolvimento na equipa e a adaptação dos compostos dos pneus à moto mostraram um Miguel Oliveira a melhorar em relação às três primeiras provas de 2021, conseguindo a melhor qualificação até aí e o melhor resultado em corrida, ainda que sem conseguir entrar no top 10. Esse era o desafio para a próxima corrida em Le Mans, no Grande Prémio de França, e com sinais positivos que mostravam que as diferenças para os da frente iam diminuindo.

Miguel Oliveira sofre queda a três minutos do fim mas consegue melhor qualificação do ano no Grande Prémio da França

Depois de ter terminado as duas sessões iniciais de treinos livres com o sexto melhor tempo combinado, rodando em pista molhada de manhã e em piso seco à tarde, o português da KTM conseguiu o apuramento direto para a Q2 com o quarto registo e foi melhorando a cada volta as marcas, chegando ao sexto posto antes de sofrer uma queda no primeiro setor a três minutos do final que impediu que conseguisse outra volta lançada e ficasse à mercê do que os adversários conseguiriam fazer, acabando assim com o décimo registo de qualificação.

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Entrei no primeiro setor e estava a chover. Os comissários não mostraram a bandeira da chuva e acabei por cair. A queda foi rápida mas sem consequências fisicamente. Sem isso poderia ter feito melhor mas estou confiante e otimista para a corrida. Tenho-me sentido confiante em todas as corridas. Às vezes, lutamos com a mota. Aqui tem havido altos e baixos mas temos sido competitivos em todas as condições. Estou a perceber a mota e os pneus”, explicou.

A qualificação para o Grande Prémio de França mostrou bem a competitividade e o grau de imprevisibilidade que se poderia esperar em corrida, entre a desilusão da Suzuki (Joan Mir e Álex Rins não passaram da Q1) e de Pecco Bagnaia (atual líder do Mundial que saía da 16.ª posição), a grande melhoria das Honda (Marc Márquez, Takagami e Pol Espargaró) e a surpresa das Yamaha, que passaram um pouco ao lado no primeiro dia de treinos livres mas conseguiram os lugares 1, 2 e 4 na grelha na última volta com Fabio Quartararo, Maverick Viñales e Franco Morbidelli, superando as Ducati de Jack Miller e Johann Zarco. A emoção era uma certeza.

Jack Miller mostrou a enorme confiança depois da vitória em Espanha e saiu para a liderança, com Quartararo a evitar qualquer confusão e a descer para terceiro entre um arranque muito mau de Zarco e uma saída cautelosa de Miguel Oliveira, a escolher sobretudo as melhores trajetórias evitando confusões nas curvas iniciais para começar depois a impor o seu ritmo de corrida. Com isso, o português chegou a descer para a 12.ª posição mas aproveitou uma saída de pista de Franco Morbidelli e muita confusão a afetar pilotos como Valentino Rossi e Pol Espargaró para saltar para oitavo, caindo depois várias posições com a chegada agressiva da chuva. Num ápice, uma corrida claramente para top 10 colocou o português no 16.º posto. Tudo tinha mudado.

Jack Miller, que andou num despique de fazer faísca com Quartararo, passou pela gravilha numa curva mais longa, Joan Mir e Álex Rins saíram em curvas mais apertadas e deitaram por terra as aspirações da Suzuki, Maverick Viñales mostrou que é tudo menos um piloto a correr em pista molhada, Marc Márquez aproveitou para saltar para a liderança sabendo que estava mais confortável à chuva do que o francês e que tinha uma vantagem confortável antes de uma queda perigosa sobre o ombro na curva 14 que lhe estragou a corrida.

Apenas em volta e meia, Miguel Oliveira conseguiu subir de 14.º para 11.º, atrás de Danilo Petrucci e de Viñales, fazendo em dois momentos distintos os melhores registos da corrida, sendo que na frente Jack Miller, mesmo depois de duas penalizações de volta longa, saltou para a liderança na mesma volta em que Quartararo foi punido também com uma volta longa. A 15 voltas do fim, o piloto da KTM já ia na nona posição, tinha todas as condições para conseguir ainda chegar a um pódio tendo em conta que estava a ganhar um segundo por volta a Zarco ou Nakagami, mas teve uma saída de pista na curva 3 e deitou por terra aquele que seria de forma garantida o melhor resultado da temporada, perspetivando no mínimo um sexto lugar como no ano passado.

Depois do que tinha acontecido já no Grande Prémio de Portugal, com uma queda que condicionou o resto da corrida, Miguel Oliveira voltou a ir ao asfalto quando iria fazer o melhor resultado de 2021 e encostaria em termos de classificação no companheiro de equipa Brad Binder. E seguiram-se mais quedas, entre Álex Rins e Marc Márquez, com Aleix Espargaró a abandonar também por problemas técnicos. Na frente, Jack Miller aproveitou uma corrida feita à medida para somar a segunda vitória do ano, neste caso consecutiva, à frente de Johann Zarco e Fabio Quartararo, com um grande resultado também para a Tech3 por Danilo Petrucci, que subiu à quinta posição depois da descida de Nakagami para o sétimo lugar à frente de Pol Espargaró. E, quase sem se perceber, Pecco Bagnaia ainda foi a tempo de conseguir um importante quarto lugar em Le Mans.