Seferovic marcou, Seferovic bisou. Em Guimarães, até pelo forte abraço que o suíço deu a Rui Costa no banco, parecia haver a convicção de que a Bota de Prata poderia estar definida. E fazia sentido, que mais não fosse pelo pormenor de Pedro Gonçalves nunca ter marcado um hat-trick na carreira. Arranque do jogo em Alvalade, um canto no lado direito, o médio ofensivo fora da área. Não, não seria possível. Mas foi. Aconteceu mesmo. E os dois golos marcados nos 20 minutos iniciais, coincidindo com os primeiros dois remates feitos à baliza, deram aquele último empurrão para o terceiro e decisivo golo na goleada frente ao Marítimo para novo troféu leonino.

Só um verdadeiro campeão consegue encher assim o Pote (a crónica do Sporting-Marítimo)

Fazendo dos insulares a principal vítima (cinco golos só nos dois jogos do Campeonato da presente temporada), Pedro Gonçalves chegou aos 23 golos na temporada que coincidiu com o título de campeão no Sporting depois de ter feito apenas cinco na última temporada pelo Famalicão, cinco nos derradeiros dois encontros após o triunfo diante do Boavista que selou a conquista do Campeonato. Com isso, e mesmo sendo um médio ofensivo a jogar em terrenos mais adiantados em Alvalade, escreveu mais um capítulo numa época histórica.

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25 anos depois, o Bota de Prata voltou a ser português. Em 2002/03, Simão, internacional então capitão da equipa do Benfica, fez os mesmos 18 golos do avançado do Boavista Fary, tendo assim de ser necessário recuar até 1996 quando Domingos Paciência, ex-treinador do Sporting então avançado do FC Porto, receber o prémio com 25 golos. Seguiram-se nomes como Jardel, Pena, McCarthy, Liedson, Meyong, Lisandro López, Óscar Cardozo, Lima, Jackson Martínez, Jonas, Bas Dost, Seferovic ou Carlos Vinícius. Português a ganhar isolado, nem um.

Em paralelo, e olhando apenas para a realidade dos melhores marcadores do Sporting em ano de título, Pedro Gonçalves juntou-se a um lote de jogadores de excelência que passaram pelo clube, como Mário Jardel, Jordão, Yazalde, Martins, Vasques e Peyroteo. Ponto comum? Todos avançados… menos Pote.

“Sim, estou muito orgulhoso com o prémio. É de um ano de muito trabalho. Quero agradecer a todos os que me apoiaram em momentos difíceis e nos bons também. Este prémio é para eles também. Melhor português desde os anos 90? Não sabia desses dados mas é um trabalho de equipa. Por isso quero agradecer aos companheiros e vou continuar a trabalhar para o ano conseguir outro”, destacou o jogador na zona de entrevistas rápidas da SportTV após o encontro, sem esquecer também a sua terra, Vidago, onde foi lançado fogo de artifício: “É um apoio incondicional. Estou muito feliz por eles, pela minha família. Tenho orgulho em ser vidaguense, espero que estejam tão contentes como eu. Estou aqui para isso também, para trabalhar pelo nome de Vidago”.

“É um prémio importante e merecido. Fez uma grande temporada, pelos golos que marcou e pelo que deu à equipa. É um miúdo cheio de talento, de personalidade… Estamos muito felizes por ele. Foi alguém que nos custou algum dinheiro, foi um negócio algo criticado e acaba a ser o melhor marcador”, frisou Rúben Amorim na flash interview, antes de adiantar outro ponto na conferência: “É muito importante e queremos mantê-lo. Se fica? Parece-me que só pagando a cláusula de rescisão… mas não gosto muito de falar disso, não é a minha área. Seleção? Merecer, merece, como outros no Sporting, mas também há muitos outros que fizeram por merecer. O selecionador tem muito por onde escolher e vai escolher bem. Vamos ter uma Seleção muito forte. Se forem jogadores do Sporting fico feliz, se não forem, é da maneira que não se desgastam e vão de férias”.