A exposição “Apofenia”, do coletivo Las Palmas, com curadoria de Bruno Marchand, abre este sábado ao público na Culturgest Porto, onde vai permanecer até 05 de setembro, com 33 obras de 22 artistas nacionais e estrangeiros, indica o programa.

Inserida no projeto “Reação em Cadeia”, da Culturgest e da Fidelidade Arte, que envolve os artistas na escolha dos que lhes sucedem, a exposição, no Porto, expande-se a mais sete criadores e a mais peças, duplicando o número de obras, em relação à mostra apresentada no início do ano, em Lisboa, sacrificada, no tempo, pela declaração do estado de emergência e pelo seu confinamento.

Aires de Gameiro, Nuno Ferreira e Pedro Cabrita Paiva, do núcleo fundador do Las Palmas, estão entre os artistas envolvidos em “Apofenia”, a que se juntam mais 19, vindos de oito diferentes países, incluíndo Portugal e o projeto “primeira desordem”, de João Marques e Hugo Gomes, outro nome fundador do coletivo, aqui implicado numa “pesquisa furtiva e clandestina” sobre “o funcionamento do espaço urbano e os seus contornos sociais, culturais e políticos”.

Las Palmas surgiu em 2017, em Lisboa, por iniciativa de Aires de Gameiro, Hugo Gomes, Nuno Ferreira e Pedro Cabrita Paiva, e tem acolhido jovens artistas, muitos em início de carreira, de diferentes origens, “deixando um vinco indelével na história da arte contemporânea e da curadoria em Portugal”, como escreveu o crítico e curador José Pardal Pina, na revista de arte Umbigo, no final do ano passado, quando “Apofenia” abriu em Lisboa.

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A exposição estabelece-se assim como uma soma de percursos que se cruzam no coletivo Las Palmas, tomando por nome “Apofenia”, o termo usado para “a capacidade de reconhecer figuras, padrões ou conexões em dados aleatórios, como a forma de um animal numa nuvem, o perfil de um rosto no recorte de uma montanha ou a forma de um continente na superfície de uma torrada”, como enumera o texto de apresentação da mostra.

E prossegue: “Sabemos que nenhuma dessas figuras é fruto de uma intenção prévia. Elas resultam da apetência do nosso cérebro para agrupar dados aleatórios em grupos que fazem sentido, do seu irreprimível impulso de tornar uma abstração em algo reconhecível e concreto”.

A mecânica da apofenia pode ajudar assim a explicar “parte da história desta exposição”, uma vez que o projeto Las Palmas “não serve exclusivamente para mostrar as obras dos seus fundadores, mas antes para explorar, através de exposições individuais e coletivas, um território — desta feita, um território que se vai construindo à medida que se avança no caminho”, acrescenta.

Arno Beck e Stefan Klein, da Alemanha, Catherine Telford-Keogh, do Canadá, Guillermo Ros, de Espanha, Holly Hendry e Rowena Harris, do Reino Unido, Jason Dodge, dos EUA, Line Lhyne, da Dinamarca, e Lito Kattou, de Chipre, são alguns dos artistas que contribuem para a construção desse percurso, assim como os portugueses Carlota Bóia Neto, Eduardo Fonseca e Silva, Francisca Valador, Hugo Brazão, Isabel Cordovil, José Taborda, Lea Managil, Maria Miguel von Hafe, Rui Castanho e Sara Graça,

A abordagem dos artistas “não é retórica, nem discursiva, nem se pode ler na superfície das suas obras quaisquer laivos de moralismo ou de intenção salvífica relativamente aos problemas do mundo”, garante o texto de apresentação de “Apofenia”. “O que lhes parece interessar, sobretudo, é a possibilidade de explorar uma ambiguidade radical — algo que voga entre estados, não se fixando nunca”.

Essa vontade traduz-se na multiplicidade – e na ambiguidade – de formatos e técnicas usados: desenhos que parecem impressões, pinturas que não usam tinta, esculturas que se expandem no espaço.

“Las Palmas é um campo de liberdade e experimentação em curso. Um risco partilhado entre pares”, nacionais e estrangeiros, conclui o texto de apresentação.

“Apofenia” é a sexta exposição do ciclo “Reação em Cadeia”, que implica os artistas expostos, na Fidelidade Arte, em Lisboa, e na Culturgest Porto, na escolha dos seus sucessores.

Ângela Ferreira, Jimmie Durham e Evan Roth, dos EUA, Elisa Strinna, de Itália, e Alicia Kopf, de Espanha, foram artistas anteriores do projeto.

A Las Palmas segue-se a exposição “Moon Foulard”, do artista mexicano Rodrigo Hernández, já patente em Lisboa, até 20 de agosto.