O Mediterrâneo sofreu em 30 anos um “colapso” da biodiversidade, uma das mais importantes no mundo, que está gravemente ameaçada, alertaram cientistas franceses num relatório divulgado esta segunda-feira
O relatório “Mediterrâneo Vivo” tem por base investigações aprofundadas sobre estudos publicados ao longo dos últimos 30 anos, reunindo a monitorização de mais de 80.000 populações animais nesta região do globo, onde “as alterações climáticas são mais rápidas e o impacto da atividade humana mais forte do que noutro lugar“. O documento é fruto do trabalho da Tour du Valat, instituto de investigação para a conservação das zonas húmidas mediterrânicas, situado no sul de França.
O grupo de investigadores constatou que as populações de vertebrados da bacia do Mediterrâneo diminuíram 20% entre 1993 e 2016, quebra que atingiu 52% nos ecossistemas marinhos e 28% nos ecossistemas de água doce (zonas húmidas e rios). De todas as espécies identificadas pelo estudo, os peixes são os mais afetados. O atum rabilho (Thunnus thynnus) viu a sua população adulta baixar 90%.
A maioria das espécies é duramente atingida pelas alterações climáticas e pela atividade humana, cujo impacto deve aumentar ao longo das próximas décadas”, disse Thomas Galewski, coordenador do estudo, citado por agências internacionais.
“Além disso, uma proporção importante das espécies é endémica da bacia do Mediterrâneo e evoluem em áreas restritas, tornando-as mais vulneráveis ainda”, precisou. O Mediterrâneo, uma das regiões do mundo com maior número de espécies endémicas, é o único mar rodeado por três continentes.
Berço de numerosas civilizações, é rodeado de regiões muito urbanizadas, que concentram mais de 500 milhões de habitantes e 360 milhões de turistas por ano (27% do turismo mundial).
Os investigadores constataram também o impacto “encorajador” de várias ações de conservação, como a fiscalização da caça e da pesca, a proteção dos habitats das espécies mais raras, o controlo das fontes de poluição ou mesmo o reforço de efetivos para reintroduções.
Algumas espécies como o íbex dos Alpes, o abutre europeu, o pelicano dálmata e a tartaruga comum (Caretta caretta) foram salvas por estas medidas.
Mas os cientistas notaram que há espaço de progressão entre os esforços de conservação e a natureza, pelo que exigiram uma melhor colaboração de todos os países, deplorando a falta de dados sobre algumas espécies, porque “a maior parte das informações registadas vem e países do Norte do Mediterrâneo“.