Se dúvidas ainda existissem em relação ao quadro feminino de Roland Garros, a vitória de Maria Sakkari contra a campeã em título, Iga Swiatek, foi a última prova de que algo ia mudar no Grand Slam francês. Mais: com esse triunfo, a grega, que nunca passara a primeira semana num Major até 2021, tornava-se a tenista mais cotada em prova, sendo que nem essa 17.ª posição no ranking valeu nas meias. A surpresa não era grande – era maior.

Porque antes já tinha existido a desistência de Naomi Osaka, depois da recusa em participar nas conferências de imprensa antes e depois dos jogos mesmo explicando que teria de evitar esses momentos por uma questão de saúde mental (o que lhe valeu uma multa, na primeira vez que aconteceu antes do abandono). E a saída por lesão da líder da hierarquia WTA, Ashleigh Barty. E as derrotas de nomes como Svitolina, Serena Williams, Sofia Kenin ou Azarenka, que passavam a ter outra margem no caminho até ao final. As favoritas caíram, umas atrás das outras. E a final ficou para duas ilustres desconhecidas, pelo menos em contexto de Grand Slams, sendo que as meias já tinham sido um marco histórico no circuito por terem pela primeira vez quatro tenistas fora das 15 melhores, algo que acontecera apenas uma vez até hoje no Open da Austrália de… 1978.

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De um lado, Barbora Krejcikova. Se a checa tivesse ficado pelos quartos já teria sido protagonista de uma história de sonho mas quis mais, arriscou mais e conseguiu mais: frente a Maria Sakkari, a número 33 do mundo teve um jogo de mais de 3h15 para aumentar as duas melhores semanas da carreira em quadros individuais, chegando até a salvar um match point para vencer a grega por 7-5, 4-6 e 9-7. Em pares, Krejcikova ganhou Roland Garros e Wimbledon em 2018, foi à final do Open da Austrália este ano e atingiu mais cinco meias-finais de Majors; em singulares, fazia apenas a quinta participação, tendo como melhor registo a quarta ronda em Paris no ano passado. E foi neste contexto que chegou pela primeira vez a uma final do Grand Slam aos 25 anos.

Do outro lado, Anastasia Pavlyuchenkova. A russa já tinha eliminado na terceira ronda a terceira cabeça de série do torneio, Aryna Sabalenka, venceu logo de seguida Viktoria Azarenka e ganhou nos quartos a Elena Rybakina. Tudo a três sets contra adversárias mais cotadas, tudo com uma enorme capacidade de resistências nas fases decisivas até ao triunfo com a eslovena Tamara Zidansek para carimbar a primeira final de sempre num Grand Slam, onde está desde de forma constante desde 2008 com seis presenças nos quartos de todos os Majors até 2021. Agora, aos 30 anos, não só atingia o jogo decisivo como partia até com algum favoritismo.

Entre problemas nas costas, que levaram mesmo à entrada de assistência médica no final do segundo set, a russa Pavlyuchenkova tentou de tudo depois de um mau início mas foi Barbora Krejcikova que deu continuidade à sua história de sonho, conquistando Roland Garros apenas na quinta participação no quadro de singulares após um encontro algo irregular mas que acabou com a checa a olhar para o céu em homenagem a Jana Novotna, antiga vencedora de Wimbledon que foi sua treinadora e que faleceu no ano de 2017.

O encontro começou com uma imagem diametralmente oposta a tudo o que se seguiria no primeiro set: Barbora Krejcikova entrou nervosa, fez duas duplas faltas no seu serviço, sofreu o break e colocou-se numa posição que poderia permitir que Pavlyuchenkova ganhasse confiança para jogar com a sua maior experiência. No entanto, a checa fez logo de seguida o contra break, segurou a seguir o seu serviço e arrancou uma série de seis vitórias consecutivas que fecharam o set com 6-1 mesmo tendo uma desvantagem de 0-30 no último encontro. O segundo set foi totalmente diferente, com a russa a começar com 3-0 e a conseguir fechar com 6-2 entre alguns problemas nas costas, mas a checa superou o inevitável desgaste físico depois da autêntica maratona que teve nas meias-finais, recuperou o seu melhor jogo e fechou a partida e a vitória final com 6-4.