O governo de Marrocos está a ponderar a possibilidade de incluir Portimão como um dos destinos das ligações marítimas com a Europa neste verão, de acordo com um comunicado citado pela imprensa doo país, que diz que as autoridades marroquinas e portuguesas estão em diálogo para estabelecer os detalhes.

A ligação entre os portos de Tânger e Portimão juntar-se-ia às ligações com os portos de Marselha (França) e Génova (Itália), já aprovadas, bem como à ligação entre Sète (França) e Nador, na costa nordeste de Marrocos.

Segundo as autoridades marroquinas, a linha marítima de ferry entre Tânger e Portimão teria uma capacidade inicial de 20 mil passageiros e 5 mil viaturas por semana.

Além disso, Marrocos prevê mobilizar mais um navio para as ligações de Tânger a Marselha e a Génova, aumentando a capacidade em 4 mil passageiros e mil veículos por semana.

No total, as autoridades marroquinas preveem que este reforço da capacidade de ligações marítimas entre o norte de África e a Europa se traduza num limite máximo de 48 mil passageiros e mais de 15 mil veículos por semana.

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Durante toda a época do verão — entre 15 de junho e 15 de setembro —, espera-se que possam atravessar o Mediterrâneo entre Marrocos, Portugal, França e Itália 650 mil passageiros e 180 mil viaturas.

Durante o período do verão, as autoridades marroquinas intensificam as ligações marítimas entre os seus portos e a Europa para dar resposta à grande procura de emigrantes marroquinos que regressam ao seu país no verão, bem como aos turistas marroquinos que procuram a Europa durante as férias.

De fora dos planos marroquinos estão, porém, os portos de Espanha, como tem notado a imprensa espanhola. Habitualmente, os portos espanhóis de Algeciras, Tarifa, Motril, Málaga, Almería e Ceuta costumam fazer parte da lista de destinos das ligações marítimas entre Marrocos e a Europa, mas este ano o país africano deixou-os de fora.

A decisão de excluir os portos espanhóis surge numa fase em que Marrocos e Espanha atravessam uma crise diplomática que no mês passado teve a sua maior expressão mediática, com as imagens de milhares de migrantes marroquinos a passarem ilegalmente a fronteira com o enclave espanhol de Ceuta.

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Ceuta e Melilha são as duas únicas fronteiras terrestres da União Europeia em África e Espanha e Marrocos sempre foram reputados internacionalmente como um exemplo de cooperação entre países na gestão de fluxos migratórios.

Todavia, a pressão de Marrocos para obter apoio internacional na crise interna motivada pela disputa do Saara Ocidental entre o governo marroquino e o povo sarauí (representado pela Frente Polisário) inverteu o cenário — sobretudo quando Espanha recebeu o líder da Frente Polisário, Brahim Ghali, para ser tratado contra a Covid-19 num hospital espanhol.

A crise migratória aprofundou-se quando, em resposta, Marrocos deixou de patrulhar as fronteiras e permitiu que mais de 9 mil pessoas entrassem ilegalmente no território europeu, obrigando Espanha a reagir perante os olhos do mundo.

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Segundo os jornais espanhóis, a exclusão está a ser mal recebida nas localidades de Espanha onde habitualmente desembarcava o maior número de pessoas, especialmente na região de Cádis.

Além disto, o governo marroquino impôs ainda preços máximos para que as viagens possam ser suportadas pelas famílias marroquinas: 995 euros para as viagens de longa distância e 450 euros para as viagens de média distância — para uma família de quatro pessoas.

O Observador contactou o Ministério da Administração Interna para saber mais detalhes sobre os impactos que a nova ligação poderá ter no país, nomeadamente no que respeita à imigração e à economia da região algarvia, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.