A poupança acumulada pelas famílias entre 2020 e 2023 deverá ultrapassar em 17,5 mil milhões de euros o valor estimado pelo Banco de Portugal antes da pandemia e a sua utilização em mais consumo poderá reforçar o crescimento da economia.

Esta ‘almofada’ de riqueza acumulada, como lhe chamou o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, não foi envolvida na revisão em alta das previsões de crescimento da economia portuguesa que o banco central apresentou esta passada quarta-feira, mas é considerada como um risco ascendente para a economia caso venha a traduzir-se em mais consumo.

“Se compararmos a poupança que projetávamos para a economia portuguesa em dezembro de 2019 com a atual, (…) nestes quatro anos (de 2020 a 2023) temos um aumento de 17.500 milhões de euros de poupança acumulada que não estava nas previsões de 2019”, precisou Mário Centeno. O valor acumulado não previsto anteriormente representa 11,9% do rendimento disponível, com Centeno a precisar que se trata “claramente de uma almofada financeira de crescimento se e quando as decisões das famílias face a esta poupança se puderem traduzir em aumentos de consumo”.

“Se as decisões sobre a utilização dessa riqueza acumulada forem distintas daquele que é o destino que todos os anos os portugueses dão à sua riqueza e, portanto, se houver uma propensão para consumir mais elevada desta forma de riqueza do que a habitual, temos de facto um risco em alta para a atividade económica vindo desta forma de riqueza adicional”, acrescentou o governador do Banco de Portugal.

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O BdP apresentou esta passada quarta-feira o Boletim Económico de junho com novas projeções para a economia portuguesa até 2023, ano em que aponta para um crescimento mais robusto do que aquele que antecipava em março, além de prever também uma evolução mais favorável do emprego e da taxa de desemprego.

Assim, para 2021, o BdP espera uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,8% (mais 0,9 pontos percentuais do que o esperado em março), estimando crescimentos de 5,6% (mais 0,4 pontos percentuais) em 2022 e de 2,4% em 2023. O supervisor do setor bancário espera também que a economia recupere o nível de 2019 na primeira metade de 2022.

Do lado do emprego, a previsão do Banco de Portugal é que este cresça 3,6% no conjunto dos três anos do cenário (incluindo 1,3% este ano e igual valor no próximo) e que a taxa de desemprego depois de atingir este ano os 7,2% registe recue para os 6,8% em 2023. Apesar da evolução positiva desta componente, Mário Centeno referiu que a população ativa ainda está a cair em Portugal, sendo essa queda “um sinal de preocupação” que deve, segundo o governador, “manter-nos bastante atentos a desenvolvimentos no mercado de trabalho”.