O bastonário da Ordem dos Psicólogos denunciou esta segunda-feira que “questões corporativas e históricas” estão a travar a autonomização dos serviços de psicologia em alguns hospitais do país, levando ao incumprimento de um despacho governamental de 2017.
“Às vezes, há questões corporativas e históricas que se colocam e que travam o funcionamento autónomo dos serviços de psicologia nos hospitais”, disse Francisco Miranda Rodrigues após uma visita ao Hospital de Barcelos, alertando ainda para o défice de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma realidade que considerou ainda mais preocupante face à pandemia.
Segundo Francisco Miranda Rodrigues, neste momento “pelo menos” 30% dos hospitais portugueses ainda não estão a cumprir um despacho de 2017 do então secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, que determina que os serviços de psicologia nos hospitais devem funcionar de forma autónoma.
“As pessoas ainda estão habituadas a determinada forma de trabalho em que se considera que deve estar sob alçada de outros profissionais, obrigatoriamente. É uma coisa completamente anacrónica, não faz qualquer sentido nos dias de hoje”, referiu o bastonário da Ordem dos Psicólogos.
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Lembrando que a psicologia é uma profissão regulada há apenas 11 anos, o bastonário admitiu que “talvez ainda haja necessidade de algumas outras áreas perceberem” que se trata de “um campo completamente autónomo de trabalho, com profissionais altamente qualificados, com muitos anos de formação e especialização”.
Entre essas outras áreas, apontou a psiquiatria, que é das que há mais anos trabalha com psicólogos. “Talvez haja psiquiatras, ou outros, que achem que isto [autonomização dos serviços de psicologia] possa pôr em causa o seu trabalho, mas isto não é pôr em causa o trabalho de ninguém, é colocar os psicólogos ao serviço de quem realmente precisa dos seus serviços a cada momento, em vez de os ter alocados apenas a um determinado serviço ou departamento”, frisou.
Francisco Miranda Rodrigues aludiu ainda à escassez de psicólogos no SNS, sublinhando que o problema se coloca com particular acuidade nos agrupamentos de centros de saúde, que contam com um total de apenas 250 daqueles profissionais. Para o bastonário, seriam precisos “pelo menos outros tantos” para se chegar a um “rácio satisfatório”. “Os centros de saúde são uma porta de entrada, é ali que se pode evitar problemas mais graves que acabam por chegar à última linha”, alertou, apelando à duplicação “urgente” do número de psicólogos.
Sublinhou que Portugal conta com 24 mil psicólogos, dos quais 5.000 especialistas em Psicologia Clínica e da Saúde. “Não é por falta de profissionais que há tanta falta de psicólogos no SNS. O problema é que o SNS não os contrata, há um bloqueio total, uma teia burocrática”, disse ainda. Avisou que, por causa da pandemia, a procura da psicologia “disparou”, tornando-se assim mais premente o reforço do número de profissionais nas unidades de saúde.