A aluna do ensino superior Sara Martinho, da “prestigiada” Sorbonne, em Paris, escolheu o Museu do Côa para fazer um estágio por considerar que está perante uma referência da cultura mundial e da arte pré-histórica em particular.

A jovem estudante do ensino superior, de 21 anos, tem pais portugueses e ela própria dupla nacionalidade (francesa e portuguesa), sendo um dos seus objetivos, após terminar os estudos, fixar-se no território do Vale do Côa, onde tem familiares, para ali desenvolver a sua atividade profissional em línguas aplicadas (espanhol e português) ou turismo. “Paris é uma cidade bonita, (…) mas muito atribulada. Aqui será minha escolha de futuro”, disse à Lusa.

“Tudo começou há três anos em Paris, quando decidi escolher o Museu do Côa para pôr em prática o que aprendi ao longos de três anos, na Sorbonne, e daí elaborar a minha tese de mestrado, porque considero que o Vale do Côa é uma referência mundial na arte rupestre, muito falada pelos meus professores em várias disciplinas curriculares”, explicou Sara Martinho.

Na escolha temática desta aluna da célebre universidade francesa pesou a relevância que atingiu o património rupestre do Vale do Côa e os mais de 25.000 anos de história que ele testemunha.

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“A Arte do Côa teve um peso significativo já que nem sempre se consegue aliar uma prestigiada universidade europeia com um local que é Património Mundial da Humanidade”, frisou.

Durante o seu percurso académico, iniciado em Paris, Sara Martinho também passou um ano pelo Porto, ao abrigo do Programa Erasmus. Foi aí que percebeu que a missão era fixar-se no interior de Portugal, em concreto na região do Côa.

“Primeiro fixei-me no Porto, porque sempre quis conhecer Portugal. Depois fazer o estágio no Museu do Côa, porque também estudo português. O meu estágio foi aceite o que poderá ser o início de uma caminhada para me fixar e trabalhar neste território do interior de Portugal”, vincou a estudante à Lusa.

Sara Martinho tem dois objetivos: praticar a língua portuguesa para melhor a conhecer, para depois se dedicar a trabalhos de tradução, e perceber o significado das gravuras rupestres do Parque Arqueológico do Vale do Côa, que têm um contexto mundial.

“Só por si, o nome da minha Universidade [Sorbonne] é reconhecido internacionalmente. Se lhe acrescentar a minha passagem pelo Vale do Côa, que é conhecido a nível mundial pela sua arte pré-histórica, enriqueço de sobremaneira o meu currículo”, enfatizou.

Sara Martinho não tem dúvidas sobre a vontade de permanecer em Portugal, depois de acabar o estágio, porque encontrou um “quadro de vida muito diferente” do que é vivido numa grande cidade como Paris.

“Apesar de viver em Paris, apercebo-me do desenvolvimento destes territórios do interior de Portugal como o do Vale do Côa, e penso que, mais tarde, fixarei aqui a minha vida. Paris é uma cidade bonita e tem todas as vantagens, mas é uma cidade muito atribulada. Aqui, atendendo à paisagem e à qualidade de vida, será minha escolha de futuro”, indicou a jovem estudante à Lusa.

Sara disse à Lusa que houve uma certa admiração por parte da sua orientadora por ter conseguido um estágio no Museu do Côa, “precisamente pela relevância que tem a nível mundial na arte rupestre, porque é citado por muitos investigadores a nível europeu e mundial”.

“Com a pandemia é muito difícil encontrar uma instituição para fazer estágio e mestrado, e quando souberam que fui aceite pela Fundação Côa Parque [FCP], ficaram admirados”, observou.

Agora o dia-a-dia de Sara é repartido pela tradução de documentos para espanhol e pelo contacto com os guias do Museu e do Parque Arqueológico e com o público que o visita.

Por seu lado, a presidente da FCP, Aida Carvalho, com uma larga experiência ligada ao ensino superior, disse à Lusa que é uma honra receber estagiários com o perfil como o de Sara, após uma troca de correspondência entre a Fundação e a Universidade Sorbonne.

“Tudo começou em março quando a instituição de ensino superior manifestou que tinha uma aluna que pretendia fazer o estágio nesta instituição, e nós a acolhemos em boa hora. Isto denota o posicionamento que a FCP tem adquirido ao longos dos anos, sendo um bom sinal quando alunos de universidades estrangeiras escolhem o Vale do Côa para estagiar”, vincou a também docente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

Aida Carvalho disse que se trata de “um facto curioso”, já que a maioria dos alunos escolhe os grandes centros urbanos para se fixar. No caso da Sara Martinho, foi precisamente o inverso.

A Universidade Sorbonne e a Fundação Côa Parque delinearam um programa de estágio direcionado para esta fase de ‘academização’ da aluna, que passa pela aquisição de competências nas áreas do atendimento ao público e trabalhos de tradução.

“Este é um bom exemplo da mobilidade de estudantes na Europa, pois esta geração sente-se cada vez mais europeia”, rematou Aida Carvalho.