Não foi uma, nem duas, nem dez, nem 100. Ao todo, a BBC recebeu um total de 6.417 queixas de telespectadores após o Dinamarca-Finlândia, pela forma como foram divulgadas imagens de Christian Eriksen após o colapso já perto do intervalo e da paragem cardíaca que colocou a vida do jogador em risco. “Todos na BBC estão à espera que o Christian Eriksen tenha uma recuperação plena. Pedimos desculpa a todos aqueles que tenham ficado perturbados com as imagens da transmissão. A cobertura feita no estádio é controlada pela UEFA, que é a principal broadcaster, e assim que o jogo foi suspenso tirámos a cobertura do ar logo que possível”, justificou.

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A UEFA veio depois dizer que todos os proprietários dos direitos de transmissão podiam fazer os cortes que entendessem, o realizador do jogo veio negar qualquer voyeurismo na forma como seguiu o que se passou, uns dias depois já era um não assunto. Enquanto isso acontecia, a seleção dinamarquesa recuperava do choque que teve influência direta na derrota com a Finlândia após um reatamento que nunca deveria ter acontecido. Seguiu-se mais um desaire, com a Bélgica. Mas algo estava a mudar e com o médio na cabeça de todos.

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“A primeira coisa que mostrei aos rapazes quando nos juntámos foi uma foto de Wembley, de quando lá estivemos no outono. Disse-lhes que íamos lá voltar. Mesmo em Baku, parecia que estávamos a jogar novamente num estádio dinamarquês devido ao apoio dos nossos adeptos. Estamos profundamente gratos. Importância de Eriksen? Todos os dias pensamos nele. Faz parte da equipa, que demonstrou a todos a melhor forma de atuar: com carinho e compaixão”, comentou no final do encontro dos quartos de final o selecionador dinamarquês, Kasper Hjulmand, a propósito da terceira vitória seguida entre Rússia (4-1), País de Gales (4-0) e Rep. Checa (2-1).

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“A situação do Christian fez algo ao nosso grupo. Crescemos e estamos seguros juntos. Sabemos que podemos ter confiança nas pessoas que estão à nossa volta, sabemos que se existe um com algum tipo de problema, está lá ao lado pelo menos outro para ajudar. Isso dá-nos muita segurança e também deixou bem o Christian. Em campo, sabemos que podemos pressionar porque o jogador do lado está sempre atrás de nós para nos apoiar. Ir jogar a Wembley uma meia-final? É enorme, é uma loucura. Queríamos ir a Wembley e agora vamos mesmo mas iria estar a mentir de dissesse que estamos bem com o que se passou. Agora temos de aproveitar e recuperar, temos mais um jogo daqui a quatro dias”, referiu também o capitão dinamarquês, Simon Kjaer.

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Os contornos são diferentes, os caminhos também, mas a Dinamarca escreveu a sua história de sonho como em 1992, quando se sagrou campeã europeia. E os sinais de Eriksen também ajudam nessa recuperação.

Naquela que foi a sua primeira aparição pública desde que deixou a unidade hospitalar onde ficou quase uma semana depois da paragem cardíaca no jogo com a Finlândia, o médio, que tem estado na sua casa em Odense em repouso, tirou uma fotografia com um jovem fã na praia de Tidvilde Strand, no norte do país, a cerca de 60 quilómetros de Copenhaga. “Fiquei nervoso e sem palavras quando lhe fui pedir para tirar a fotografia. Mas estou muito feliz. Estávamos numa sessão fotográfica para um anúncio quando vi que ele estava a almoçar. Ele disse logo que sim”, contou a criança, Bjorn Bindzus, ao jornal BT, após partilhar a imagem no Instagram.

Sobre o futuro, nada. E nem mesmo da parte do Inter, campeão italiano e clube do dinamarquês, existe algum tipo de pressa nesse sentido. “Antes do futebolista estou a pensar no homem. Espero que ele recupere completamente em termos de saúde. Depois sim, vamos pensar no aspeto desportivo. Acho que neste momento isso é o menos importante”, destacou Beppe Marotta, diretor desportivo do conjunto de Milão, à RAI. A dúvida sobre um eventual regresso mantém-se mas acaba por ser uma questão secundária nesta fase. Esta quarta-feira, num estádio de Wembley que pisou quando jogava no Tottenham, Eriksen não estará presente de forma física mas vai continuar a marcar presença de muitas outras formas. E esse é também o segredo da Dinamarca.

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