O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português, Francisco André, considerou hoje, após uma visita a um campo de deslocados, que a forma como o conflito em Cabo Delgado, Moçambique, afeta as crianças deve motivar um “sobressalto cívico” para mobilização de maiores ajudas.

A situação “deve causar em nós um sobressalto cívico para nos empenharmos muito na resposta a este drama humanitário que aqui se vive”, referiu, admitindo que uma geração pode estar em risco no norte de Moçambique. O governante falava em Metuge, um dos distritos de Cabo Delgado que acolhe muitos dos 732.000 deslocados do conflito armado que assola a região há três anos e meio – com alguns ataque reivindicados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico e com um total de mortes estimado em cerca de 3.000.

Estima-se que cerca de metade dos deslocados sejam crianças que assistiram a assassínios e perseguições brutais e que agora estão privadas de escolas, habitação e alimentação, tal como os adultos. “É chocante ver as condições em que vivem muitas destas crianças”, referiu Francisco André, em contraponto com as que têm condições de vida noutras paragens.

“É muito importante percebermos que há muitas outras realidades”, como as do norte de Moçambique, “que devem suscitar empenho e energia para podermos ajudar”, acrescentou.

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O secretário de Estado português aproveitou para destacar o instrumento de resposta rápida do instituto Camões, que permite apoiar projetos como a iniciativa Karibu, desenvolvida pela organização Helpo em Pemba – capital provincial de Cabo Delgado – e assim “dar esperança e educação a crianças deslocadas”. Em Metuge, Francisco André disse ter ficado com um retrato importante para continuar a dinamizar formas de apoio humanitário.

“As necessidades continuam a ser muito grandes, há falta de acesso a serviços básicos”, referiu Alexandra Ferro, membro da Organização Internacional das Migrações (OIM) no local e que acompanhou a visita de hoje. Os centros de acolhimento de deslocados são dirigidos pelo Governo moçambicano com apoio de agências e organizações humanitárias.

Já no sábado, na chegada a Cabo Delgado, Francisco André pediu o envolvimento de outros países da União Europeia (UE) no apoio a Moçambique face à violência armada no norte. O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português vai trabalhar em Moçambique até quarta-feira e, além de visitar Cabo Delgado, tem previstos encontros com membros do Governo na capital moçambicana, reuniões que vão preparar a próxima cimeira bilateral, bem como a negociação do próximo Programa Estratégico de Cooperação 2022-2026.

Na segunda-feira será também assinalada “a chegada do primeiro lote de vacinas contra a covid-19” doadas por Portugal a Moçambique, segundo uma nota divulgada pelo gabinete secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português.