Renato Mendes, de 34 anos, foi o vencedor da segunda edição da FLAD (Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento) Science Award Atlantic com o projeto JUNO, que prevê a travessia pelo Atlântico (do Porto aos Açores) de um veículo autónomo de superfície autossustentável — o Caravel — que permitirá recolher dados de longa duração e também perceber o impacto da poluição no oceano. Como prémio, o investigador do Laboratório Colaborativo para o Atlântico (CoLAB+ Atlatic) vai receber 300 mil euros de financiamento em três anos.
É um passo importante para aquilo que se quer uma observação em rede do espaço Atlântico português e não só”, disse Renato Mendes ao Observador.
Em comunicado, a FLAD indica que o projeto vai “permitir aumentar significativamente o conhecimento do Oceano Atlântico nas suas diferentes dimensões” e vai ser possível “observar fenómenos dinâmicos, em especial os de curta duração – como a proliferação ocasional de algas, o desenvolvimento de frentes oceânicas ou as aglomerações de detritos flutuantes”.
Renato Mendes confessou ao Observador que “não estava nada à espera de receber o prémio” e contou que a candidatura foi “escrita durante o confinamento” — o que nem sempre foi fácil porque tem uma “filha pequena” e as “creches estavam fechadas”.
O Caravel é um veículo autónomo de superfície, que se autocomanda, e que, de acordo com o comunicado, “vai trazer vantagens consideráveis para o estudo do Oceano Atlântico, com uma recolha de dados de forma consistente e num horizonte temporal longo”. Além disso, movimenta-se com recurso à energia gerada pelas ondas e com painéis solares para períodos “em que a ondulação não é suficiente”. Isso faz com que a viagem seja “inteiramente sustentável”.
A recolha de dados científicos é “fundamental” para o estudo das “alterações climáticas, da poluição marítima e da monitorização de ruído e a pesca” lê-se no comunicado. Contribuiu ainda para alcançar um dos objetivos fundamentais da Década das Nações Unidas da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável 2021-30, que passa pela partilha de dados oceânicos.
“Reduz muito até o risco humano. Reduz a logística humana e a logística de colocar um navio na água. Com um veículo autónomo deste tipo, precisamos de dois dias. À partida, o que esperamos é que em dois dias ou no mesmo dia a gente consiga colocar o veículo na água e observar um fenómeno”, explicou Renato Mendes ao Observador.
Este projeto também assenta no “trabalho conjunto entre várias disciplinas” e terá como parceiros nacionais o Colab +Atlantic, o laboratório de Sistemas e Tecnologias Subaquáticas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e, como parceiro americano, o Prof. Pierre Lermusiaux, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Sobre eventuais problemas legais relacionados com o facto de o navio “não ter ninguém”, Renato Mendes lembrou que este veículo “tem um sistema como quase todos os navios de médio grande porte. “Portanto, qualquer navio consegue ver no seu radar. Tem uma luz sinalizadora. Qualquer comandante de navio vai vê-lo na água e no seu mapa“, acrescentou em declarações ao Observador.
O júri que avaliou as candidaturas é composto por Elsa Henriques, membro do Conselho FLAD e professora do Instituto Superior Técnico; Miguel Miranda, Professor Catedrático na Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa e presidente do IPMA e Pedro Camacho, professor Catedrático na Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, presidente do LAETA e cientista convidado na NASA.
Elsa Henriques destaca este projeto poderá revolucionar a forma “como conhecemos e lidamos com o oceano, enquanto Miguel Miranda salientou a ambição do projeto, apesar da aparente simplicidade e conjetura que “antecipa o futuro de monitorização oceânica pan-atlântica”. Por sua vez, Pedro Camacho diz que “combina excelente investigação científica” com a “promoção da literacia oceânica”.