A artista plástica Ema Berta, pintora, antiga professora da Escola Superior da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, morreu na noite de quinta-feira, em Cascais, aos 77 anos, disse esta sexta-feira à agência Lusa fonte próxima da família.
Nascida em Sintra, em 13 de fevereiro de 1944, Ema Berta Sena dos Santos, autora de séries como “Florestas e Mares” e “Índios e Outras Gentes”, formou-se em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (ESBAL), que concluiu a par de estudos de Filologia Germânica, e expôs individualmente, sobretudo em instituições de Portugal e França, onde se fixou em Paris, nos anos de 1990, e onde manteve um ateliê durante cerca de uma década. Entre as suas principais obras contam-se também as séries “Seres Felinos”, “Elasippos”, “Meninas” e “Florestas do Arco-Íris”.
Ema Berta pertenceu à direção da Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), e lecionou Desenho, na Escola Superior de Arte, Design e Artes Decorativas da Fundação Ricardo Espírito Santo, antes de se fixar em Paris.
A pintora está representada em coleções públicas e privadas de instituições como Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos, Museu da Água, em Lisboa, Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, Museu do Desenho, em Estremoz, Museu Municipal de Sintra.
O Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves, possui um núcleo de obras da pintora, nomeadamente da série “Índios”, que a artista concebeu na sequência de uma viagem ao Canadá e do contacto com a herança cultural das chamadas Primeiras Nações (First Nations), que reforçaram a sua perspetiva do multiculturalismo e das diferentes realidades humanas. A derradeira grande exposição individual da artista, “A Luminosa Exaltação das Sombras”, realizou-se no Museu Nadir Afonso, que a acolheu de outubro de 2018 a abril do ano seguinte.
Com uma expressão marcada sobretudo pelo ‘neo-figurativismo’, era reconhecido em Ema Berta um “traço personalizado e surpreendente”, como escreveu o pintor Fernando de Azevedo, cofundador do Grupo Surrealista de Lisboa, num dos seus catálogos: “[Em Ema Berta] está em jogo uma intuição narrativa a tal ponto convicta e segura de si, que não precisa de ser exata, nem deixar de o ser. Esta ambiguidade é fundamental [na pintora], porque é nela, ou a partir dela, ou chegando a ela, que o poder transfigurador atinge altura e se significa”.
Ema Berta expôs, entre outras instituições, na Galerie de La Maison de l’Europe e na Galerie Etienne de Causans, em Paris, no Palácio Nacional de Mafra, na Galeria do Consulado de Portugal em Toronto, no Canadá, no Museu da Água, no Mosteiro dos Jerónimos, no Teatro Romano, na antiga Galeria Tempo e na Barata, na ESBAL e na SNBA, em Lisboa, na Cooperativa Árvore, no Porto, na Galeria de Arte Moderna, no Rio de Janeiro.
Participou também na Bienal de Cerveira, na Bienal de Arte dos Açores e Atlântico, na Bienal de Heidelberg, na Alemanha, na 1990, na FIAC’97, em Paris. Em 2004, concebeu o painel de azulejos para o viaduto Algueirão/Mem-Martins.
“Graças à sua arte, Ema Berta permite-nos reencantar o mundo, o nosso mundo”, escreveu o psicanalista francês Pierre Lévy-Soussan, citado sobre a pintora, num dos seus catálogos.
A ministra da Cultura lamentou esta sexta-feira “profundamente” a morte da artista plástica. Num comunicado esta sexta-feira divulgado pelo Ministério da Cultura, no qual recorda o percurso da artista, Graça Fonseca salienta que Ema Berta “teve um percurso singular nas artes plásticas portuguesas, com uma obra que se destaca pela sua expressividade cromática ousada, em que as figuras, as cores e as técnicas servem uma intenção narrativa particularmente vincada”.