“O Benfica está primeiro. Perante os eventos dos últimos dias, no âmbito da operação Cartão Vermelho, em que sou diretamente visado, e enquanto o inquérito em curso puder constituir um fator de perturbação, suspendo com efeitos imediatos o exercício das minhas funções como presidente do Benfica, bem como de todas as participadas do clube. Apelo a todos para que se mantenham serenos na defesa do bom nome da grande instituição que é o Benfica.”

Medidas de coação serão conhecidas no sábado após interrogatório de Luís Filipe Vieira

Foi desta forma, através da leitura de um comunicado à entrada para o Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa, que Magalhães e Silva, advogado de Luís Filipe Vieira no processo, anunciou a suspensão do líder dos encarnados nos últimos 18 anos. Surpresa na Luz? Nenhuma. Era algo que estava previsto. Aliás, de acordo com o que apurou o Observador, a medida mais não fez do que antecipar aquilo que poderia surgir no âmbito das medidas de coação da operação Cartão Vermelho. Ou seja, e mesmo que a defesa considere que as acusações não têm fundamento, o que está em causa na investigação levaria de forma quase inevitável a esse cenário. E, nas últimas 36 horas, tudo o que foi falado em reuniões da Direção e da SAD entroncava nessa mesma ideia.

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Em resumo, e depois de um primeiro encontro onde não ficou propriamente definido um sucessor embora o nome de Rui Costa estivesse sempre na frente, ficou mesmo definido que seria o ex-jogador e capitão do clube a subir de número 2 (cargo que de 2016 e 2019 pertenceu a Domingos Almeida Lima) a número 1 mas num plano mais institucional, na medida em que haverá uma revisão/reforço de pelouros no clube e na SAD.

Grupo de sócios faz queixa de Rui Costa por violação dos estatutos, Rui Costa refuta acusações – e vai assumir lugar de Vieira se necessário

De acordo com o que conseguiu confirmar o Observador, a Direção do Benfica reuniu esta tarde para operacionalizar e colocar em prática esse plano que já tinha sido delineado antes. Rui Costa assumirá o comando do clube, Domingos Almeida Lima terá um papel mais presente em tudo o que tenha a ver com a parte institucional e ligação com as Casas do Benfica (um ponto importante em termos futuros), José Eduardo Moniz ficará com maior presença na parte da comunicação, não só a nível de meios do clube mas externa – que pode ser reforçada se assim for entendido, como aconteceu com o departamento jurídico a determinado momento –, Fernando Tavares continuará a fechar os plantéis das modalidades para a próxima temporada dentro de um orçamento que já foi aprovado em Assembleia Geral. Sílvio Cervan e Varandas Fernandes são os outros vices, Jaime Antunes e Rui Vieira do Passo são os suplentes. Objetivo? Criar condições para que Rui Costa, sendo o novo número 1 de forma provisória, possa ficar livre para manter a preparação da próxima época do futebol.

“O Sport Lisboa e Benfica informa que, nos termos que se encontram estatutariamente previstos e em virtude da comunicação realizada hoje pelo Presidente da Direção, Luís Filipe Vieira, o vice-presidente Rui Manuel César Costa, assume, com efeitos imediatos, a Presidência do Sport Lisboa e Benfica, nos termos da alínea a) do número 3 do artigo 61 dos estatutos do Clube. Esta nomeação tem o apoio unânime dos membros da Direção do Sport Lisboa e Benfica”, anunciou o clube em comunicado oficial emitido ao final da tarde.

Em relação à SAD, o mesmo se passa mas com Domingos Soares Oliveira. Rui Costa ficará também como líder “no papel” da sociedade, por liderar de forma interina o clube, mas é o CEO que vai manter tudo o que estava a ser feito – e que atravessava vários pontos, desde as contas entre saídas, entradas e possíveis receitas para construir o novo plantel; o novo empréstimo obrigacionista; a renovação de contratos com main sponsors como já sucedeu com a Adidas e a Emirates. Outros projetos em curso, como o naming do Estádio da Luz ou o Campus do Seixal, poderão agora ficar “congelados”, pelo menos enquanto não houver solução definitiva na liderança.

“A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD (“Benfica SAD”) informa, nos termos e para os efeitos previstos no artigo 248.º-A do Código dos Valores Mobiliários, que o Conselho Fiscal da Benfica SAD suspendeu o Presidente do Conselho de Administração, Luís Filipe Vieira, em conformidade com o disposto no número 1, alínea b) do artigo 400.º do Código das Sociedades Comerciais (“CSC”), na sequência de um pedido que lhe foi dirigido pelo mesmo, tendo em consideração que se encontra em curso um inquérito no âmbito de uma investigação criminal que o envolve e no contexto da qual foi detido”, anunciou a Benfica SAD em comunicado à CMVM.

“Em conformidade, com efeitos imediatos e por prazo indeterminado, nos termos previstos na lei, encontram-se suspensos todos os poderes, direitos e deveres do presidente do Conselho de Administração, Luís Filipe Vieira, exceto os deveres que não pressuponham o exercício efetivo de funções. Durante esse período de suspensão, e em conformidade com o disposto no número 2, do artigo 400.º do CSC, desempenhará as funções de Presidente do Conselho de Administração Rui Manuel César Costa, até agora vogal do Conselho de Administração, mantendo o Conselho de Administração todas as suas atribuições e competências nos termos previstos na lei e nos estatutos”, continuou, abordando depois a questão do empréstimo obrigacionista.

“A Benfica SAD informa ainda que, como já indicado no comunicado divulgado em 7 de julho de 2021, será solicitada a aprovação pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários de uma adenda ao prospeto aprovado em 1 de julho de 2021. Nos termos já previstos nesse prospeto, conforme vier a ser alterado pela mencionada adenda, os investidores que já tenham transmitido as suas ordens de subscrição poderão revogá-las ou modificá-las até 16 de julho de 2021 ou até três dias após a data de aprovação da adenda, caso esta venha a ser aprovada após 13 de julho de 2021″, concluiu o comunicado enviado ao final da tarde à CMVM.

“A justiça seguirá o seu caminho. E os estatutos, quer do Sport Lisboa e Benfica, quer da Sport Lisboa e Benfica Futebol SAD, existem para dar enquadramento adequado a momentos como aquele que vivemos. Relativamente aos Órgãos Sociais do Benfica, em particular no que à Direção diz respeito, os mesmos já expressaram de forma inequívoca que serão firmes e determinados na defesa da instituição que temos a honra de representar (…) A nós, estrutura profissional, compete-nos dar continuidade ao trabalho que temos vindo a desenvolver e do qual tantos e tantos benfiquistas se orgulham (…) O futuro não pode, nem deve, ser travado. Pelo contrário. É nos momentos de maiores adversidades que as grandes equipas se afirmam”, tinha dito antes Domingos Soares Oliveira, administrador da Benfica SAD, numa carta interna, a que o Observador teve acesso, enviada a todos os responsáveis e colaboradores encarnados na quarta-feira. A mensagem foi reforçada já depois desse email.