Bukayo Saka ia marcar o sexto penálti de Inglaterra. Pickford tinha acabado de parar o remate de Jorginho, prolongando a decisão de grandes penalidades para a segunda série. O jovem avançado do Arsenal, de apenas 19 anos, atirou para a direita da baliza. Donnarumma, com o seu metro e noventa e seis, voou e defendeu. Metros à frente, os colegas de equipa desataram a correr. Na linha técnica, Mancini já chorava abraçado a Vialli. Itália tinha acabado de conquistar o Campeonato da Europa graças à defesa de Donnarumma mas o guarda-redes, ainda incrédulo, limitou-se a dar alguns passos em frente e quase não festejou, sendo engolido pelos companheiros instantes depois.

O guardião do AC Milan, que está prestes a ser oficializado enquanto reforço do PSG, não fez qualquer defesa ao longo da final do Euro 2020, sofreu um golo e guardou as intervenções para as grandes penalidades, já que parou o remate de Saka e também o de Sancho, com Rashford a acertar no poste. Ainda assim, a maior surpresa terá surgido já depois do apito final e mesmo antes de Chiellini levantar o troféu — Donnarumma, de apenas 22 anos, foi eleito o melhor jogador do torneio, tornando-se apenas o segundo guarda-redes a consegui-lo na história da competição. Antes, só Peter Schmeichel havia conquistado a distinção, em 1992 e quando a Dinamarca foi campeã europeia, sendo que Oliver Kahn foi o melhor jogador do Mundial 2002.

Foi ameaçado, continua sem clube (oficialmente) e bateu o recorde de uma lenda: a noite de Donnarumma, o agora mal-amado em Milão

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Neste Europeu, Itália tornou-se a única equipa na história da competição a ganhar duas decisões por penáltis na mesma edição (antes da final, eliminou Espanha na meia-final também nas grandes penalidades) e esse fator, obviamente, pesou na hora de escolher Donnarumma como a melhor individualidade do Euro 2020. Curiosamente, o guarda-redes começou a temporada que agora terminou numa extraordinária decisão por penáltis: contra o Rio Ave, no Estádio dos Arcos e no playoff de acesso à Liga Europa, quando foram necessários 24 remates para os italianos afastarem os vilacondenses.

Após ter sido o segundo guarda-redes mais novo de sempre a jogar na Serie A, com 16 anos e 242 dias, apenas superado pelo também antigo guardião do AC Milan Giuseppe Sacchi 73 anos antes, Donnarumma tornou-se uma autêntica referência no AC Milan mesmo tendo ganho apenas uma Supertaça, cumprindo de 2015 até hoje um total de 251 encontros oficiais. Esta época, que marcou uma espécie de ressurgimento que culminou com o regresso à Liga dos Campeões, foi a mais complicada para o internacional, que chegou a ver a família ameaçada de morte depois de assumir que iria sair no final da temporada, a última com contrato, a custo zero. No Euro 2020, Donnarumma superou a maior série consecutiva sem sofrer golos por Itália que ainda pertencia a Dino Zoff desde os anos 70 (e que acabou nos oitavos de final, contra a Áustria) e alargou um registo absolutamente impressionante: a representar Itália desde os 17 anos, entre seleções jovens e seleção principal, nunca sofreu mais do que um golo em qualquer jogo.

Gianluigi Donnarumma, conhecido entre os amigos por Gigio ou até Topo Gigio, é o herdeiro por direito de outro Gianluigi: Gigi Buffon, o histórico guarda-redes italiano que nunca foi campeão europeu mas conquistou o Mundial 2006.