Os últimos dias de Rui Costa têm sido no mínimo conturbados, com viagens pelo meio a começar por aquela que fez a Milão onde “fechou” João Mário, na passada terça-feira. Aí, a 6 de julho, Rui Costa era aquilo que queria ser: administrador da SAD, responsável por todo o futebol profissional, vice-presidente do clube como número 2 e o delfim apontado à liderança no final do sexto mandato de Luís Filipe Vieira, em 2024. Hoje, uma semana depois, tudo mudou e de forma radical. Hoje, Rui Costa é aquilo que considera ter de ser. E foi com essa base que falou na reunião dos órgãos sociais do Benfica, explicando os argumentos para um cenário de eleições antecipadas.
Como o Observador tinha avançado esta segunda-feira, a ideia reinante entre os elementos da Direção passava por segurar os destinos do clube com a mesma equipa sem Luís Filipe Vieira pelo menos num prazo de 90 dias, permitindo que pudessem ser fechados os processos mais imediatos no seio do Benfica e da SAD: fechar os plantéis do futebol profissional e das modalidades para nova temporada de 2021/22; garantir a maior procura possível do empréstimo obrigacionista em curso; e gerir da melhor forma este momento da vida benfiquista, com todo o impacto que provocou (ou continua a provocar) em termos internos e junto de entidades externas.
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O tema Vieira, esse, não sendo o suficiente para criar divergências de fundo no seio da Direção, é analisado de formas ligeiramente diferentes entre vices, vogais e suplentes da Direção. Há quem considere que, perante o que está em causa, o presidente dos encarnados não tem condições para voltar, mas também há quem pense ainda tratar-se de uma indiciação que carece de prova factual. O certo é que, apesar dessa perceção diferente no que toca à posição atual do presidente auto-suspenso, o comunicado que resumiu os principais pontos do encontro realizado esta tarde/noite entre os órgãos sociais voltou a não fazer uma única alusão a Vieira.
Dúvida: será Rui Costa candidato no próximo ato eleitoral? À partida, sim. Segundo o que foram explicando ao Observador, o agora presidente interino assumiu uma postura de verdadeiro número 1 na altura de assumir o comando do clube face à suspensão de Vieira e, se os próximos tempos correrem de feição, é quase certo que irá apresentar-se a sufrágio – e com algumas prováveis alterações na lista aos órgãos sociais. E Vieira? Em termos estatutários, nada o impede. Mas sendo quase certo de que não deverá voltar à Luz como presidente do Benfica, tendo em conta que os órgãos sociais pedirão a demissão em bloco entre setembro e outubro, também é quase líquido de que não irá fazer parte de qualquer lista às eleições a não ser que existisse um autêntico terramoto na operação Cartão Vermelho, que levou ao seu afastamento do clube, mas ao contrário e favor de Vieira.
“O plenário dos Órgãos Sociais do Sport Lisboa e Benfica esteve reunido esta tarde. Foi analisada em pormenor a situação do Clube e de todo do grupo Benfica, em clima de coesão e unidade. Comum a todos os intervenientes a preocupação de defender os interesses da instituição acima de quaisquer outros. Ficaram unanimemente identificados os objetivos de curto prazo a que se torna imperativo dar resposta: Preparação da época desportiva no futebol; qualificação para a Champions League; preparação da época desportiva nas diversas modalidades; garantir a normalidade na gestão; assegurar um adequado fecho do mercado de contratações e vendas; conclusão, com sucesso, do empréstimo obrigacionista em curso; unidade no universo benfiquista”, referiu no final do encontro um comunicado assinado pelo presidente da Mesa, António Pires de Andrade.
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“Foi sublinhado que a Direção do Sport Lisboa e Benfica está seriamente empenhada em garantir que esses objetivos sejam alcançados, pelo que terá uma atuação intransigente em relação às matérias abordadas. Nessa perspetiva irá trabalhar, com dedicação, firmeza e sentido das responsabilidades para garantir a estabilidade e tranquilidade necessárias a fim de que as prioridades definidas sejam resolvidas com sucesso no tempo estritamente indispensável. O presidente da Direção, Sr. Rui Costa, sublinhando a unanimidade de todos os vice-presidentes, informou o plenário que, finda essa missão, irá promover todas as diligências tendentes à realização de uma consulta aos sócios. O ato eleitoral deverá ocorrer até ao final do corrente ano. O plenário faz um apelo à união e ao sentido de responsabilidade de todos os benfiquistas na construção de um Benfica cada vez maior”, concluiu a mesma missiva, que mais uma vez não fez qualquer alusão a Luís Filipe Vieira.
“Saúdo os órgãos sociais do Sport Lisboa e Benfica por admitirem a realização de eleições antecipadas. Ainda que o façam timidamente, denotam sensatez neste momento negro na vida do clube. Como defendi, dar voz aos sócios é o único modo de legitimar uma direção e o Benfica, em momento algum, pode temer a vontade dos benfiquistas”, declarou depois do comunicado oficial o antigo candidato à liderança, João Noronha Lopes.
“O próximo ato eleitoral será também uma oportunidade para voltarmos a honrar as melhores práticas democráticas. Essas implicam a existência de um regulamento eleitoral transparente, aprovado pelos sócios, que garanta condições de igualdade a todas as candidaturas e um ato eleitoral livre de dúvidas. Aguardarei por esclarecimentos adicionais quanto a esta matéria. Falta no entanto um compromisso concreto quando à data do ato eleitoral, que deveria ser estabelecida desde já. Essa decisão deve ser tomada livre de tacticismos e plena de benfiquismo. Que esse momento sirva para virar a página e para proteger os interesses do Benfica”, frisou.