A Revolut recebeu 800 milhões de dólares em novo investimento, dando em troca uma participação na empresa que, contas feitas, avalia a totalidade do capital em 33 mil milhões de dólares (o equivalente a cerca de 28 mil milhões de euros). Essa é uma avaliação que, quando se compara esta que é a fintech mais valiosa do Reino Unido com os maiores bancos europeus (cotados em bolsa), coloca a Revolut no top 15 dos mais valiosos, com uma capitalização maior do que gigantes como o Deutsche Bank, o Credit Suisse e o espanhol CaixaBank.
A fintech (tecnológica financeira), que acumula 16 milhões de clientes em todo o mundo, acolheu nesta operação dois novos investidores: o SoftBank Vision Fund 2 (do conglomerado japonês SoftBank) e a Tiger Global Management. Estes 800 milhões de dólares vão “permitir à Revolut dar continuidade aos planos de crescimento, investindo, em particular, na inovação contínua dos produtos, centrados em dar resposta às necessidades diárias financeiras dos clientes”, diz a empresa em comunicado de imprensa, acrescentando que “também permitirá acelerar a expansão da oferta da Revolut para clientes nos Estados Unidos da América e a entrada na Índia, bem como outros mercados internacionais”.
Pouco antes da pandemia, em fevereiro de 2020, a Revolut tinha feito uma ronda privada de investimento que a avaliou em 5,5 mil milhões de dólares, o que significa que a avaliação total se multiplicou por seis no espaço de pouco mais um ano. Isto apesar de os prejuízos terem duplicado no último ano fiscal, sobretudo devido aos custos elevados com o investimento em mecanismos de controlo e compliance.
Em janeiro de 2021 candidatou-se a uma licença bancária no Reino Unido, para juntar às licenças que já detém para operar na zona euro. Uma empresa como a Revolut, pelas suas características, não consta dos principais índices de empresas bancárias da Europa, mas eis como se posicionaria no ranking dos 20 maiores bancos (cotados).
HSBC Holdings | 117 |
Sberbank of Russia | 92 |
BNP Paribas | 75 |
Banco Santander | 64 |
UBS | 58 |
Intesa Sanpaolo | 52 |
ING Groep | 49 |
Lloyds Banking Group | 46 |
Nordea | 46 |
Credit Agricole | 42 |
BBVA | 41 |
Barclays | 40 |
Revolut | 33 |
DNB Asa | 33 |
NatWest | 33 |
KBC Group | 32 |
SEB AB | 29 |
Credit Suisse | 26 |
Deutsche Bank | 25 |
UniCredit | 25 |
CaixaBank | 24 |
Capitalização de mercado dos maiores bancos europeus (aproximada), convertida em dólares norte-americanos.
Estes são valores que se comparam, também, com os 2,7 mil milhões (de dólares) que vale o Millennium BCP na bolsa de Lisboa. Em Espanha, além do Santander e o CaixaBank, o Sabadell vale 3,6 mil milhões de dólares e é de 4,5 mil milhões de dólares a avaliação do Bankinter, também presente em Portugal. A Revolut não está cotada em bolsa mas tem mantido a porta aberta a que isso possa acontecer nos próximos anos.
A Revolut atraiu milhões de clientes em todo o mundo, no início, por oferecer aos clientes um cartão em que se cobra zero, ou perto de zero, por uma série de operações (como conversão cambial e envio de dinheiro para outros países) pelas quais os bancos sempre cobraram comissões, por vezes elevadas. Entretanto, em abril último entraram em vigor novas comissões e limites aos levantamentos internacionais gratuitos (incluindo limites mais baixos mesmo para quem é cliente pagante, num dos vários planos de subscrição mensal disponíveis).
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Outra área onde a Revolut se tem posicionado é a do investimento em criptoativos como a Bitcoin. Com a pandemia em Portugal, tal como em toda a Europa, “triplicou” o número de clientes que transacionam Bitcoins e outras moedas digitais, revelou em entrevista ao Observador Ed Cooper, um dos principais gestores da Revolut, uma empresa que esta quinta-feira celebrou (apenas) o seu 6º aniversário.
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No comunicado de imprensa, Nikolay Storonsky, fundador e CEO da Revolut disse que “os investimentos da SoftBank e da Tiger Global são um voto de confiança em relação à nossa missão de criar uma super app global que permite aos clientes gerir todas as suas necessidades financeiras através de uma única plataforma”. “Esta ronda de financiamento transforma a Revolut na fintech mais valiosa do Reino Unido, demonstrando a confiança dos investidores de que podemos oferecer produtos que aumentam a expectativa e a exigência dos clientes em toda a indústria de serviços financeiros”, acrescentou.
Em Portugal, a Revolut terá mais de 600 mil clientes e, no final do ano passado, Nikolay Storonsky disse à Lusa que a empresa continua a trabalhar com a SIBS para ter acesso à rede Multibanco – SIBS que, recorde-se, tem como acionistas os principais bancos a operar em Portugal. Antes, em agosto de 2020, o Observador publicou uma reportagem especial onde se descreveu a “cultura de trabalho tóxica” que existiu, a dada altura, no call center que a empresa tem no Porto.
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