A supervisão do Banco de Portugal “falhou em toda a linha” no que diz respeito ao Novo Banco. Não antecipou nem viu os problemas que estavam a avolumar-se no banco e chegou tarde quando foi preciso lidar com eles. Esta foi a visão apresentada pelo deputado socialista Fernando Anastácio, o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito às perdas do Novo Banco, que está nesta sexta-feira a apresentar aos colegas da comissão a sua proposta de relatório final. O deputado do PSD Duarte Pacheco diz que os parlamentares do partido irão votar contra o documento, apresentando propostas de alteração a um documento que tem um “enviesamento socialista”, na defesa do PS e no ataque ao PSD, que estava no governo quando houve a resolução.
Também Cecília Meireles, do CDS-PP, diz que não é um relatório, é uma “narrativa parcial“, um “ajuste de contas entre um governo que estava [PSD-CDS] e um governo que entrou [PS] e um ajuste de contas entre um governador que saiu [Carlos Costa] e um governador que entrou [Centeno]”. Além disso, a deputada do CDS-PP diz que também há um “branqueamento” em relação ao que foi feito (ou não feito) na era de Vítor Constâncio.
O PS, por João Paulo Correia, pede aos deputados do centro-direita que primeiro leiam o relatório que só lhes chegou à caixa de e-mail às 10h38 (como indicou Fernando Negrão) desta terça-feira, por terem feito já críticas que, na opinião do PS, não correspondem ao que está escrito. Porém, Duarte Pacheco, do PSD, revelou que Fernando Anastácio lhe enviou “previamente” o documento, antes de os serviços do parlamento o terem enviado esta manhã aos deputados da comissão.
As “nuvens” e “penumbras” com que se deparou a comissão de inquérito ao Novo Banco
Pelo que disse Fernando Anastácio na apresentação do relatório que redigiu, é “quase um consenso” que a supervisão “falhou em toda a linha”. “Fica claro que houve uma falha permanente e sistemática”, atirou o relator. Por outro lado, Fernando Anastácio também disse que é “consensual” que “a capitalização [inicial] do banco foi insuficiente”. E salientou que o mecanismo montado depois da venda limitou a capacidade de intervenção no banco, sobretudo devido “às imposições feitas pela Comissão Europeia”.
Sobre os grandes devedores, Fernando Anastácio, o deputado do PS que redigiu o relatório, diz que nesta comissão “houve comportamentos altamente deploráveis, embora não surpreendentes, que mostram que havia uma relação, uma teia, uma prática que não é a prática dos empresários portugueses, mas uma relação promíscua” com o grupo BES, com “claro prejuízo dos portugueses”. “Temos de ser capazes de perceber o que são os empresários portugueses, isto é uma imagem muito má que não é representativa mas tem de ser exposta” e a comissão de inquérito deu “um ótimo contributo a expor estas práticas”.
Fernando Anastácio argumentou, ainda, que o Lone Star – que celebrou com o Estado um contrato “desequilibrado” em seu favor – perdeu uma boa oportunidade para atenuar “uma certa desconfiança” que existe na sociedade portuguesa sobre quem são as pessoas que tomam as decisões no âmbito deste processo. O relatório é também muito crítico para a administração liderada por António Ramalho, por não ter uma postura “salutar” nestes trabalhos, embora não tenham sido colocados no documento recomendações específicas para a administração.