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“Naomi Osaka”. A vulnerável e honesta história de uma campeã

Este artigo tem mais de 3 anos

O nome da tenista é também o título de uma série documental de três episódios acompanha a atleta japonesa numa luta interior para descobrir quem é e o que quer representar. Está disponível na Netflix.

Naomi Osaka tem 23 anos. É neste momento a número 2 do ranking mundial do ténis, mas já esteve na primeira posição
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Naomi Osaka tem 23 anos. É neste momento a número 2 do ranking mundial do ténis, mas já esteve na primeira posição

Naomi Osaka tem 23 anos. É neste momento a número 2 do ranking mundial do ténis, mas já esteve na primeira posição

É atualmente a número dois mundial do ténis e a atleta feminina mais rentável de sempre — só em 2020, segundo a revista Forbes, ganhou 50,9 milhões de euros, 46,7 dos quais em patrocínios. Faz campanhas para marcas como Nike, Panasonic ou Louis Vuitton e é venerada no Japão. Mas, por detrás de tanto sucesso e do mediatismo, Naomi Osaka é uma jovem de 23 anos como qualquer outra, a tentar descobrir quem é e o que quer. Porém, talvez não seja exatamente como qualquer outra porque saltou muitas fases da vida — tinha aulas em casa, não convivia com amigos da mesma idade — e, numa jornada profundamente solitária e vulnerável, tem de aprender a defender aquilo em que acredita e a saber que limites é preciso impor entre o que é público e privado.

A nova série documental da Netflix, “Naomi Osaka”, explica quem é este fenómeno do ténis mas, sobretudo, expõe de forma crua e por vezes até desoladora o reverso de tudo isto. São três episódios que parecem curtos e divulgados com uma pressa desnecessária — há coisas que são deixadas à superfície e que mereciam mais tempo e mais contexto. Por exemplo, Cordae é identificado como músico (mas não se percebe que é também o namorado); não se sabe o que faz Mari, a irmã (foi também jogadora profissional de ténis e terminou a carreira no início de 2021); já não há imagens do quarto Grand Slam conquistado, em 2021, na Austrália; e muito menos do momento em que justificou a desistência de Roland Garros com problemas de saúde mental. Durante muito tempo, Naomi Osaka esteve perdida — e isso, em contrapartida, está muito presente nos capítulos de pouco mais de meia hora.

Em 2018 o seu mediatismo explodiu de forma alucinante quando ganhou o primeiro Grand Slam da sua carreira, o Open dos Estados Unidos. Tinha 21 anos. Não saboreou, dois dias depois estava de volta aos treinos. Venceu o Open da Austrália — um feito que já não era alcançado desde 2015, quando Serena Williams conquistou os dois títulos seguidos. Foi nessa fase que Osaka chegou a número 1 do mundo, sendo a primeira jogadora asiática a consegui-lo. É o Japão que representa e foi lá que nasceu, apesar de as suas origens estarem longe dos estereótipos.

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O pai, Leonard François, nasceu no Haiti mas estava a estudar nos EUA quando visitou Hokkaido, no Japão, e conheceu Tamaki Osaka. Os dois apaixonaram-se e, quando as filhas nasceram (Naomi a 16 de outubro de 1997 e Mari dois anos antes), ficaram com o apelido da mãe para facilitar a vida da família, que não era nada convencional naquele país. Tanto que, durante 15 anos, não houve qualquer relação com o lado materno.

Mudaram-se para Long Island, nos EUA, quando Naomi tinha três anos. Nessa altura, François já tinha o sonho de transformar as filhas em estrelas do ténis. Tudo porque no ano anterior, 1999, depois de ver jogar as irmãs Serena e Venus Williams em Roland Garros, Paris, França, ficou obcecado em replicar os métodos que Richard Williams usava para treinar as filhas. Apesar de nunca ter jogado ténis, começou a copiar tudo. Em 2006 a família mudou-se para a Florida para poder treinar melhor. Naomi e Mari chegavam a passar oito horas por dia nos campos de ténis. Tinham aulas em casa e não conviviam com outros miúdos.

Naomi Osaka tornou-se profissional pouco antes de fazer 16 anos. Na série documental confessa que gostava de ter tido a experiência da escola secundária ou da faculdade. “Não tenho bem noção da timeline, mas acho que as pessoas da minha idade estão na universidade agora ou algo assim”, diz.

A bolha em que viveu foi fruto de muitos sacrifícios. Naomi via a mãe trabalhar demasiadas horas e meteu na cabeça que teria de ser campeã, a melhor na sua área. Era esse o seu único foco. Até porque, como confessa a dada altura, não era assim tão boa jogadora quando era mais nova. O ténis não era inato e não foi uma paixão que descobriu sozinha. Neste aspeto, “Naomi Osaka” faz lembrar outro documentário, “Tiger” (disponível na HBO), onde se percebe que o jogador de golf foi basicamente um produto fabricado pelo pai — ainda não tinha dois anos e já batia bolas. Nenhuma destas pessoas teve propriamente escolha. Foi esta a única realidade que lhes deram a conhecer.

Depois da vitória no US Open, Naomi Osaka viu-se sozinha com os seus pensamentos numa mansão, longe da família, sem amigos, cheia de compromissos publicitários. Rapidamente as coisas começaram a correr mal e a luta interna que a tenista travou é incrivelmente transparente e honesta no documentário. Como se estivesse a pensar alto, ouvem-se excertos em voz off, gravados muitas vezes em noites em que não conseguia dormir. “Estou a perder jogos porque sou fraca mentalmente”, reconhece.

A morte de Kobe Bryant, o jogador da NBA (vítima de um acidente de helicóptero no início de 2020), que via como um mentor e de quem era próxima, fragilizou-a e desencadeou nela muitas questões. Em “Naomi Osaka”, o documentário, a busca por respostas é constante e nem precisa de ser relatada. O olhar revela muito — parece inúmeras vezes ausente, perdido entre demasiados conflitos. Na festa dos 22 anos, a tenista perguntou à mãe qualquer coisa como: “Achas que é aceitável para a minha idade o que fiz até agora?” Chega a ser avassalador o facto de alguém que foi pioneira em tantas coisas, sendo tão jovem ainda, ficar tão fragilizada ao ponto de achar que o que faz não é suficiente.

A nova série documental da Netflix, “Naomi Osaka”, explica quem é este fenómeno do ténis mas, sobretudo, expõe de forma crua e por vezes até desoladora o reverso de tudo isto

Quando George Floyd morreu, em maio de 2021, sufocado pelo joelho do polícia Derek Chauvin, Naomi Osaka sentiu que não podia continuar a ser imparcial em certos temas. Meteu-se num avião e marchou num protesto no Minnesota. Boicotou a semifinal do Western & Southern Championship (atitude semelhante à de outros profissionais, mas que ainda não tinha partido de nenhum atleta a competir individualmente) e quando regressou ao US Open, em 2020, apareceu com máscaras que envergavam nomes de afro-americanos assassinados recentemente. Tinha sete, o equivalente às partidas que precisaria de vencer até chegar à final. E chegou. E ganhou novamente. Recuperando de uma derrota no primeiro set (1-6), acabaria por derrotar Victoria Azarenka nos dois sets seguintes (6-3, 6-3).

Desde então ganhou o quarto Grand Slam, de novo na Austrália, e tem tido altos e baixos, com várias lesões. Aquilo que tem aumentado de forma sustentada é a sua confiança e o facto de não ter medo de mostrar quem é, incluindo as fraquezas. Revelou que teve várias depressões ao longo dos anos e, em Roland Garros, disse não conseguir enfrentar as conferências de imprensa. Foi multada, mas manteve a sua posição, desistindo da competição. Foi atacada nas redes sociais por figuras conhecidas, como a jornalista Megyn Kelly, que questionou o facto de Naomi Osaka não estar capaz de jogar, mas de aparecer nas capas de diversas revistas. A resposta foi rápida: as produções tinham sido feitas meses antes.

Também as suas raízes são constantemente postas em causa. Apesar de já representar o Japão há muito, o facto de ter decidido competir por esse mesmo país nos Jogos Olímpicos — este sábado, 24 de julho, entra em prova frente à chinesa Zheng Saisai — voltou a levantar a questão de ser uma mulher negra, que vive nos Estados Unidos desde os três anos, a dar a cara por um país asiático.

Podia ter feito outra escolha, mas Naomi Osaka decidiu ser japonesa. Podia ser politicamente correta e limitar-se a mostrar o seu melhor ténis, mas tem opiniões e prefere exercer o direito de manifestá-las. Podia continuar a cumprir os deveres das conferências de imprensa e desmoronar-se em privado, mas escolheu expor-se. E a vulnerabilidade e transparência podem ser a chave para se libertar no campo de ténis e voltar a reclamar o título de número um do mundo.

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