O negociador chefe do movimento fundamentalista islâmico talibã, Abdul Ghani Baradar, reuniu esta quarta-feira com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, informou o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

Fontes citadas pelo jornal afirmaram que o encontro ocorreu na cidade portuária de Tianjin, embora, até agora, o ministério dos Negócios Estrangeiros da China não tenha divulgado informações.

Uma das fontes enfatizou que a posição de Pequim sobre o conflito é que “deve ser resolvido pelo Afeganistão” e que a situação “não deve ameaçar a segurança da China”.

A China e o Afeganistão partilham cerca de 60 quilómetros de fronteira na região semiautónoma de Xinjiang, no extremo noroeste da China, que é habitada sobretudo pela minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure.

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Xinjiang foi palco de ataques terroristas e violentos confrontos étnicos entre os uigures e a etnia predominante da China, os Han, em 2009.

Alguns destes ataques foram incentivados por grupos terroristas formados por uigures que fugiram de Xinjiang para o Afeganistão e o Paquistão.

Com o objetivo de “combater o terrorismo” e as reivindicações separatistas da população de Xinjiang, Pequim lançou uma campanha que, a partir de 2017, levou à detenção e internamento de cerca de um milhão de uigures, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.

Aproveitando a fase final da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, os talibãs conseguiram os maiores ganhos territoriais dos últimos 20 anos de guerra, controlando cerca de 125 dos 407 distritos do país.

Os Estados Unidos reagiram com apoio aéreo às forças do Governo afegão, algo que os talibãs consideram uma violação dos acordos que previam a retirada das tropas norte-americanas do país em troca de os talibãs começarem a dialogar sobre uma solução política para o conflito com o Governo de Cabul.

Embora a posição oficial da China seja de não interferência nos assuntos internos de outros países, Pequim quer aproveitar a saída das tropas norte-americanas para ter um papel mais relevante na solução do conflito, apontou o South China Morning Post.

Um especialista em relações internacionais citado pelo jornal acredita que os talibãs são úteis para a China porque podem “conter de alguma forma outras organizações terroristas” no Afeganistão, o que é “útil para a segurança da China e da região”.

Há menos de duas semanas, o Presidente chinês, Xi Jinping, expressou o seu apoio ao executivo de Cabul, durante uma conversa com o homólogo afegão, Ashraf Ghani, na qual assegurou que Pequim “vai continuar a desempenhar um papel construtivo”, e pediu para concluir as negociações sobre a paz com um “acordo político”, assinado o mais rapidamente possível.

A China recebeu uma delegação talibã, em 2019, que se reuniu, em Pequim, com o então representante especial do Governo chinês para o Afeganistão, Deng Xijun.