A Autoridade da Concorrência acusa a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) e os grupos privados CUF, Trofa Saúde, Hospital Particular do Algarve, Lusíadas e Luz Saúde de estarem envolvidos num acordo ou prática concertada restritivos da concorrência. Em causa está a contratação de serviços de saúde hospitalares privados por parte dos subsistemas de saúde públicos ADSE e IASFA (sistema de saúde das Forças Armadas)

Em comunicado, a AdC afirma que, com base nas provas recolhidas, existe “uma probabilidade razoável de estas empresas virem a ser sancionadas por haverem coordenado entre si a estratégia e o posicionamento negocial a adotar no âmbito das negociações comerciais com a ADSE e o IASFA, através e com a participação conjunta da APHP, desde, pelo menos, 2014 e até, pelo menos, 2019”.

O objetivo desta prática concertada era o de fixar preços e condições comerciais no quadro das negociações com a ADSE, para além da coordenação da suspensão ou da ameaça da denúncia das convenções com os sistemas de saúde públicos que servem milhares de beneficiários. Essas suspensões aconteceram em 2019 quando o sistema de saúde do Estado tentou alterar regras de regularização de faturação depois de ter reclamado a devolução de quase 40 milhões de euros supostamente pagos em excesso no passado.

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Outro argumento invocando pelos privados era a não atualização dos valores pagos por atos médicos e consultas há vários anos. A CUF terá sido a primeira a anunciar a intenção de suspender a aceitação de beneficiários abrangidos pelas convenções com a ADSE, mas outros grupos seguiram o mesmo caminho. A investigação da Autoridade da Concorrência foi aberta em março de 2019 depois de denúncias e notícias na comunicação social. No entanto, as práticas sancionadas terão ocorrido ao longo de seis anos.

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Os visados são os principais grupos privados de saúde em Portugal, bem como a associação que os representa e foram alvo de diligências de busca e apreensão em instalações das localizadas em Portimão, em Lisboa e no Porto em maio de 2019.

Estes grupos celebraram convenções com os subsistemas de saúde públicos, a ADSE que é protege trabalhadores e reformados do Estado, bem como famílias, e o Instituto de Ação Social das Forças Armadas, do qual beneficiam os militares e respetivas famílias. Só a ADSE tinha quase 1,2 milhões de beneficiários em 2019. O IASFA tinha mais de 100 mil beneficiários. Nos dois casos são pagas quotizações mensais por parte dos utilizadores.

A nota de ilcitude conhecida esta quinta-feira corresponde à acusação de práticas restritivas da concorrência, mas não equivale ainda a uma condenação. Neste fase, as empresas podem exercer o seu direito de audição e defesa face ao ilícito apontado. Só depois haverá, eventualmente, condenação e aplicação de uma coima.

A AdC assinala ainda que a Lei da Concorrência “proíbe expressamente os acordos entre empresas que, tendo por objeto restringir, de forma sensível, a concorrência no todo ou em parte do mercado nacional têm, pela sua própria natureza, um elevado potencial em termos de efeitos negativos”.