Enviado especial do Observador, em Tóquio

Quando ganhou a primeira final individual destes Jogos, nos 100 metros livres, Caeleb Dressel não resistiu em termos emocionais a uma surpresa preparada pela NBC, que ainda na zona de entrevistas rápidas dos canais de televisão com direitos viu toda a família junta a fazer a festa pela medalha de ouro que tinha acabado de vencer. Foi quase como uma descompressão da tensão acumulada de não poder falhar, de ter o peso do mundo sobre os seus ombros como Simone Biles descreveu antes de desistir das primeiras decisões na ginástica. E chorou.

Caeleb Dressel até pode dar medalhas mas ninguém lhe tira a bandana. É a sua força. E valeu-lhe mais um ouro olímpico

“Era muita pressão, muita pressão”, assumiu depois a mulher, Meghan Dressel. Por mais que seja e continue a ser comparado com Michael Phelps, Caeleb é diferente em muitas coisas do mais medalhado de sempre nos Jogos Olímpicos. E é desde pequeno, pela educação que teve, pela forma de ser, pelo contexto familiar e religioso em que foi enquadrado desde pequeno para controlar os sinais de rebeldia que mostrou desde novo. No entanto, há três pontos em comum entre ambos: a preparação em ano olímpico, a pressão e as vitórias. Esse era o grande desafio para o americano de 24 anos, que tinha na sua própria sombra o grande adversário em Tóquio.

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Não cedeu. E este sábado mostrou que é a grande figura da atualidade na natação masculina, com uma exibição de luxo na sessão matinal só ao alcance de extraterrestres que passam pelo desporto para marcar uma era.

Tudo começou com a final dos 100 metros mariposa, marcada para as 10h30. A “claque” dos EUA, desta vez numa zona mais central da piscina, sabia que tinha todas as condições para começar o dia em festa com o prodígio que ganhou sete ouros nos Mundiais de 2017 e um recorde de oito medalhas nos Mundiais de 2019. Menos de um minuto depois, vitória com novo recorde mundial de 49,45, acima da melhor marca que era sua e do melhor registo olímpico que registara nas meias-finais. Kristof Milak, da Hungria, não teve mesmo hipóteses.

Seguiram-se as vitórias da australiana Kaylee McKeown na final dos 200 metros costas, que conseguiu ganhar nos últimos 50 metros à canadiana Kayle Masse, e da americana Katie Ledecky na final dos 800 metros livres, naquela que foi a primeira prova em Tóquio onde deixou uma verdadeira demonstração de força – mesmo ficando longe do seu recorde mundial – contra a australiana Ariarne Titmuns, para quem tinha perdido os 200 e os 400 metros livres (antes ganhara os 1.500 metros livres mas sem oposição). Foi tempo então de cerimónia de entrega de medalhas, a primeira do dia, com Caeleb Dressel a receber o ouro pelos 100 metros mariposa e a ouvir o hino de mão no peito como toda a delegação americana na piscina e com a bandana no punho às 11h05.

Tempo para muitas fotografias? Nem por isso. O americano tirou apenas as habituais no pódio, passou pela primeira posição onde se encontram os repórteres fotográficos e virou logo à esquerda para ir trocar de roupa e aparecer na segunda meia-final dos 50 metros livres, às 11h16, onde voltou a conseguir um primeiro lugar que lhe garantiu acesso à corrida decisiva deste domingo. Nem por isso Caeleb Dressel parou e, ato contínuo, saiu da primeira principal e foi para a piscina ao lado, onde se realizam as provas de saltos para a água, onde ficou 15 minutos a fazer vários estilos de um lado para o outro como se estivesse fresquinho e em ritmo de férias.

Antes da primeira meia-final dos 50 metros livres femininos, Dressel já tinha deixado a piscina secundária, num breve até já antes de reentrar em ação na piscina principal, onde fez parte da equipa dos EUA que participou na disputada corrida dos 4×100 estilos mistos com Ryan Murphy (costas), Lydia Jacoby (bruços), Torri Huske (mariposa). A última passagem a nadar livres já chegou demasiado tarde, até porque Jacoby teve problemas com os óculos durante a prova, e a equipa americana não foi além do quinto lugar atrás da Grã-Bretanha (embora tenha entrado na última passagem na sétima posição, com Dressel a ganhar ainda duas), que bateu o recorde mundial, da China e da Austrália, que no final conseguiram surpreender a surpreendente Itália. Às 11h48 acabava o dia de Caeleb Dressel, num total de 78 minutos só ao alcance dos melhores entre os melhores.