Malala Yousafzai, que sobreviveu a balas dos talibãs por defender a educação das mulheres em 2012, afirma que a comunidade internacional não pode assistir ao recuo de décadas no Afeganistão.

Em entrevista à televisão pública britânica BBC, a ativista paquistanesa de 24 anos alertou que o Afeganistão vive neste momento “uma crise humanitária”.

Devemos tomar posições corajosas para defender as mulheres e as meninas” no Afeganistão, sublinhou Malala que, quando tinha 15 anos foi baleada na cabeça por um talibã quando regressava a casa num autocarro escolar.

Malala recebeu tratamento hospitalar no Reino Unido, onde se instalou e se formou na Universidade de Oxford.

“Não tive contacto com o primeiro-ministro [britânico], Boris Johnson”, disse a ativista, mas, advertiu, os líderes mundiais “têm um importante papel de liderança a desempenhar agora e devem adotar posições corajosas para proteger os direitos humanos“.

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Os países devem abrir as suas fronteiras aos refugiados afegãos, às pessoas deslocadas“, disse a prémio Nobel, apelando também a que se “garanta que os meninos e as meninas refugiados tenham acesso à educação” e que “os seus futuros não se percam”.

A entrada dos talibãs em Cabul no domingo precipitou a saída do país do Presidente afegão, Ashraf Ghani, após terem tomado o controlo de 28 das 34 capitais provinciais em dez dias, e sem grande resistência das forças de segurança governamentais, no âmbito de uma grande ofensiva iniciada em maio – altura em que começou a retirada das tropas norte-americanas e da NATO do país, que deverá ficar concluída no final deste mês.

Um porta-voz do movimento islâmico radical, que governou no Afeganistão entre 1996 e 2001, disse no domingo à BBC que os talibãs pretendem assumir o poder no Afeganistão “nos próximos dias”, através de uma “transição pacífica”, 20 anos após terem sido derrubados por uma coligação liderada pelos Estados Unidos, pela sua recusa em entregar o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Esta segunda-feira, numa mensagem de vídeo, o ‘mullah’ Baradar Akhund, chefe do gabinete político talibã no Qatar, fez a primeira declaração pública de um líder talibã após a conquista do país, anunciando o fim da guerra no Afeganistão, com a vitória dos talibãs, após a fuga no domingo do Presidente, Ashraf Ghani, e a captura de Cabul.

Com a partida de Ghani, um grupo de líderes políticos formou o Conselho de Coordenação para a transição de poder para os talibãs, composto pelo ex-presidente afegão Hamid Karzai, o presidente do Alto Conselho para a Reconciliação, Abdullah Abdullah, e o líder do partido Hizb-e-Islami e antigo senhor da guerra, Gulbuddin Hekmatyar.

No entanto, os talibãs não forneceram, até agora, informações sobre como funcionará o processo de transição ou a tomada do poder.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou esta segunda-feira perante o Conselho de Segurança “os talibãs e todas as partes [no conflito afegão] a respeitarem e a protegerem o direito humanitário internacional e os direitos e liberdades de todas as pessoas”, declarando-se “particularmente preocupado com relatos de cada vez mais violações dos direitos humanos das mulheres e das meninas afegãs”.

“Estamos a receber informações assustadoras que dão conta de violações graves dos direitos humanos em todo o país”, frisou o secretário-geral na sede da ONU, em Nova Iorque.

“Os próximos dias serão decisivos. O mundo está de olhos postos em nós. Não devemos nem podemos abandonar a população do Afeganistão”, sustentou, numa altura em que milhares de pessoas estão concentradas no aeroporto de Cabul tentando desesperadamente sair do país.