As autoridades norte-americanas estão atentas a ameaças do Estado Islâmico junto ao aeroporto de Cabul, a capital do Afeganistão, onde desde a semana passada se vive uma situação caótica, à medida que os países ocidentais tentam retirar milhares de cidadãos do país agora controlado pelo grupo fundamentalista islâmico dos talibãs.
A notícia é avançada pela estação televisiva norte-americana NBC, que cita duas fontes não identificadas do setor da defesa dos EUA.
De acordo com a NBC, existirão ameaças específicas do Estado Islâmico contra o aeroporto de Cabul e, sobretudo, contra os cidadãos com ligações ao Ocidente que estão a abandonar o país depois de os talibãs terem invadido Cabul e assumido o controlo do país.
Devido a estas ameaças, as forças armadas dos EUA estão a equacionar modos alternativos de transportar para o aeroporto as pessoas que necessitam de ser retiradas do Afeganistão. “Estamos a executar um caminho alternativo“, disse uma das fontes à NBC.
A notícia surge no mesmo dia em que as autoridades norte-americanas emitiram um aviso para que todos os cidadãos dos EUA evitassem dirigir-se ao aeroporto de Cabul devido a ameaças de segurança. “Aconselhamos os cidadãos dos EUA a evitarem viajar para o aeroporto e a evitar as portas do aeroporto neste momento, a não ser que tenham recebido instruções individuais de um representante do governo dos EUA nesse sentido“, disse a embaixada norte-americana no Afeganistão em comunicado.
O Estado Islâmico, uma organização terrorista e fundamentalista islâmica inicialmente fundada por ramos que se separaram da Al-Qaeda, aproveitou a Primavera Árabe e a guerra civil na Síria, em 2011, para se estabelecer na região e impor um califado, baseado na interpretação literal do Alcorão e na aplicação estrita da sharia. Em 2014, ano em que dominava um território que ocupava grande parte da Síria e do Iraque, a organização proclamou o califado — e foi responsável por múltiplos atentados terroristas na Europa.
O Estado Islâmico viria a ser largamente derrotado pelo Ocidente em 2017, ano em que os territórios da Síria e do Iraque foram libertados dos extremistas, mas mantém ainda algumas fações ativas em várias partes do mundo (veja-se, por exemplo, o caso da insurgência em Cabo Delgado, no norte de Moçambique).
Em 2015, no âmbito dos seus esforços para impor um califado global que unisse todos os muçulmanos do mundo sob a sua liderança, o Estado Islâmico estabeleceu um ramo no Afeganistão — o Estado Islâmico de Khorasan, o nome da província histórica da Pérsia que abrange uma parte significativa do Afeganistão contemporâneo.
Desde essa altura, os combatentes do Estado Islâmico no Afeganistão e os talibãs têm sido inimigos mortais.
Embora ambos os grupos sejam movimentos extremistas e fundamentalistas islâmicos que pretende implementar no território uma nação baseada na sharia, os talibãs e o Estado Islâmico têm raízes diferentes e têm protagonizado várias batalhas mortíferas na região ao longo dos últimos anos.
Uma das promessas feitas pelos talibãs nos acordos estabelecidos em 2020 com os Estados Unidos com vista à retirada militar norte-americana do Afeganistão foi a de garantir que o país não se transformaria num refúgio para grupos terroristas, incluindo o Estado Islâmico.
Os talibãs detêm, desde o último domingo, o controlo de facto do Afeganistão, depois de terem capturado a capital e de o Presidente afegão, Ashraf Ghani, ter fugido do país. Os Estados Unidos têm sido alvo de críticas a nível internacional por terem, com a conclusão da retirada militar, aberto caminho para o avanço dos talibãs.
Os EUA invadiram o Afeganistão em 2001, numa altura em que o país era governado pelos talibãs, porque o regime talibã recusou extraditar Osama bin Laden, o autor do atentado de 11 de setembro de 2001, que ali tinha encontrado refúgio. As forças norte-americanas permaneceram no Afeganistão durante 20 anos.