A pergunta era sobre se os autarcas do PS teriam legitimidade para invocar serem da cor política do Governo para garantir uma melhor aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência, o famoso PRR. Na resposta, em entrevista à TVI, António Costa começou por garantir que o plano “vai ser executado independentemente do presidente da câmara ser do PS ou do PSD”, mas de seguida aproveitou para dar uma pequena ‘bicada’ a um dos nomes falados para a sua sucessão: “Não é só o ministro Pedro Nuno Santos que tem feito campanha pelo país. Eu ainda no último fim-de-semana fiz 1300 quilómetros desde Bragança até à Covilhã e em sítio nenhum disse que as obras só se faziam se o Governo fosse do PS“.

Ainda na defesa da chamada ‘bazuca’, António Costa defendeu que o PRR “foi elaborado com o maior debate que alguma vez houve em Portugal” nestas matérias, lembrando que foram promovidos “debates em todas as regiões” e na própria Assembleia da República”. Quanto à execução deste plano, o chefe de Governo antecipa que não terá outro “remédio” que não seja aplicar os fundos até 2026.

“Não designarei nem apoiarem ninguém na minha sucessão”

E se a primeira referência a Pedro Nuno Santos tinha sido gratuita (quando não se falava do assunto), António Costa acabaria por comentar a sua sucessão com uma garantia: “Não designarei sucessores. No dia em que decidir sair, não apoiarei ninguém. O PS será livre”.

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António Costa admitiu, no entanto, que se tem “empenhado bastante em não criar um deserto à sua volta” e em procurar dar palco “aos melhores quadros do PS”. Sobre a forma como organizou o Congresso e perfilou os potenciais sucessores, o primeiro-ministro rejeitou estar a fazer uma maldade ao ‘grupo dos quatro’: “Sou muito menos maquiavélico do que aquilo que as pessoas acham que eu sou.”

Sobre a relação com os outros partidos, António Costa diz que não gosta de “hostilizar ninguém, nem o PSD”, mas que privilegia o diálogo à esquerda porque deve garantir uma alternativa à esquerda. Sobre as críticas do do secretário-geral do PCP no encerramento da Festa do Avante, diz que dá o “devido desconto” às mesmas devido à proximidade das autárquicas.

António Costa recusou ainda a meter-se na vida dos outros partidos, não querendo comentar se a sua vida seria mais difícil com Paulo Rangel do que com Rui Rio. “Cada partido saberá quem está em melhores condições para liderar. Ninguém me paga para governar os outros partidos. Pagam-me para governar o país”, atirou.

Escalões do IRS têm de ser mexidos em 2022 (3º e 6º são prioridade)

Sobre o Orçamento para 2021, António Costa garantiu que Governo está a “fazer um trabalho muito sério” para identificar a possibilidade de fazer “no próximo Orçamento do Estado, para 2022, mais um desdobramento de escalões”. O primeiro-ministro acrescentou ainda que esse processo de criar mais escalões nos anos seguintes é para continuar: “Temos que ir desdobrando“.

O primeiro-ministro — que tem reiterado que a mexida nos escalões de IRS depende das negociações à esquerda — identifica quais são as prioridades nestas mudanças: “Há dois escalões que têm de ser mexidos: um é o terceiro escalão, que está entre os 10 mil e os 20 mil euros, que é uma enorme diferença; e depois é o sexto escalão que é de rendimentos que vão desde os 36 mil euros a 80 mil euros. E, de facto, há uma diferença gigantesca entre quem tem 36 mil euros por ano e quem tem 80 mil por ano.”

Ainda sobre o Orçamento do Estado para 2022, António Costa voltou a apontar como medida o alargamento o IRS Jovem de 3 para cinco anos. Negou ainda, depois de ser criticado pelo PSD, que a proposta tenha sido feita originalmente pelo PSD: “A proposta não era do PSD, era do Governo e foi aprovada.”

“Agora não estamos no Titanic, mas houve momentos em que tememos ir ao fundo”

António Costa revelou também que houve “momentos [durante a pandemia] em que tememos que fôssemos ao fundo”, mas que o pior já passou: “Hoje estamos a poucas semanas de podermos considerar ter atingido, graças à vacinação, um processo de controlo da pandemia.” E acrescentou ainda, numa resposta a críticas do presidente da CIP, António Saraiva: “Não estamos no Titanic”.

Sobre a falta de debate interno no PS, espelhada no Congresso, Costa justifica que “o PS é um partido que tem uma enorme responsabilidade de governar o país num momento muito empolgante” e que naturalmente as “diferenças de opinião são menores quando nos concentramos no essencial”. Segundo o secretário-geral do PS, o partido que lidera está assim “focado na ação governativa”.