Os líderes dos Estados-membros da CEDEAO suspenderam esta quarta-feira a Guiné-Conacri dos seus órgãos de decisão e decidiram enviar uma missão ao país, apelando para a libertação do Presidente, detido num golpe de Estado no domingo.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) “decidiu suspender a Guiné-Conacri de todos os seus órgãos de decisão e solicita que estas decisões sejam aprovadas pela União Africana e pelas Nações Unidas“, apontou o ministro do Negócios Estrangeiros do Burkina Faso, Alpha Barry, após uma cimeira realizada por videoconferência.
De acordo com o governante, citado pela agência France-Presse (AFP), uma “missão de alto nível” será enviada para a Guiné-Conacri na quinta-feira para “discutir com as novas autoridades”.
Segundo Barry, após esta missão, que tem, atualmente, uma duração indeterminada, a CEDEAO “irá rever as suas posições”.
O chefe da diplomacia do Burkina Faso referiu ainda que os líderes da organização regional “exigiram o respeito pela integridade física do Presidente Alpha Condé”, que foi deposto no domingo, e a “libertação imediata” do chefe de Estado e de todos os que foram presos.
Alpha Barry apelou ainda aos militares para “colocarem em prática um processo que permita um regresso rápido à ordem constitucional normal”.
Alpha Condé, que governou a Guiné-Conacri desde 2010 até ao passado domingo, foi derrubado e preso por membros do Grupo das Forças Especiais do Exército do país, liderado pelo tenente-coronel Mamady Doumbouya, que justificou o golpe como uma ação para criar as condições para o Estado de direito.
Os golpistas dissolveram as instituições de Estado do país no passado domingo. Foi instituído um recolher obrigatório noturno, e a Constituição do país e a Assembleia Nacional foram ambas dissolvidas.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou “qualquer tomada de poder pela força das armas”.
Na segunda-feira, o líder militar prometeu uma “consulta global para descrever as principais linhas da transição”, que “se abre sob o signo da esperança e de uma nova Guiné reconciliada consigo mesma, com todos os filhos do país”.
A Guiné-Conacri realizou eleições presidenciais no passado dia 18 de outubro, na qual Condé concorreu a um controverso terceiro mandato, impedido pela Constituição do país, e após a realização de um referendo em março de 2020 para alterar a Carta Magna, aprovado com 91,5% dos votos.
Condé venceu as presidenciais com 59,5% dos votos, segundo os resultados homologados pela Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) do país; e Diallo, cujo partido denunciou a existência de uma “fraude em larga escala”, teve 33,5% dos boletins escrutinados.
Diallo acabou por se autoproclamar vencedor das eleições, o que levou as forças de segurança a sitiar a sua casa em 20 de outubro, proibindo todas as entradas e saídas.
Oito dias mais tarde, as forças de segurança retiraram o cerco, após a CEDEAO, a União Africana (UA) e a ONU terem exigido esse levantamento.
A Guiné-Conacri, país da África Ocidental, que faz fronteira com a Guiné-Bissau, é um dos mais pobres do mundo e enfrenta, nos últimos meses, uma crise política e económica, agravada pela pandemia de covid-19.
Além da Guiné-Conacri, integram a CEDEAO o Benim, Burquina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.