Um ano após o arranque de uma investigação por parte das autoridades francesas ao passado de Gérald Marie, antigo diretor da agência Elite Models na Europa, seis mulheres, todas ex-modelos, viajaram até Paris para serem entrevistadas pelos serviços da unidade de proteção infantil da polícia de Paris.
Os testemunhos das antigas modelos, que segundo o The New York Times foram ouvidos esta terça-feira, incluem alegações de violação e conduta sexual inapropriada contra Gérald Marie, que durante três décadas foi um dos homens mais poderosos na indústria da moda — chegou, inclusivamente, a estar casado com Linda Evangelista e atualmente vive em Ibiza. Sempre negou as acusações de que foi alvo, as quais se foram acumulando ao longo do tempo e foram feitas, até agora, por um total de 24 mulheres.
Foram, no entanto, as denúncias de uma ex-jornalista da BBC e de três modelos da Elite Models — as quais dizem respeito a episódios que terão acontecido nas décadas de 1980 e 1990 — que espoletaram a investigação por parte das autoridades francesas. Agora, um coro de vozes bem conhecidas da indústria veio defender as mulheres que acusam Gérald Marie e exigem uma regulamentação laboral robusta capaz de proteger jovens modelos.
Uma dessas vozes pertence a Carla Bruni, que ascendeu à fama nos anos 90 e já foi primeira-dama de França ao lado do marido Nicolas Sarkozy. Diz “basta”: “Estou com Carré e as outras sobreviventes de Gérald Marie à medida que chegam a Paris para testemunhar contra o seu agressor”, diz citada pelo NYT.
Carré Sutton, ex-modelo norte-americana, é quem lidera o grupo de mulheres que testemunham em Paris. Também a supermodelo dinamarquesa Helena Christensen, igualmente popular na década de 1990, diz apoiar estas “mulheres corajosas”, enquanto a colega de profissão Paulina Porizkova refere que, nos primeiros tempos de carreira, as jovens modelos são ensinadas a encarar o “abuso sexual como um elogio”.
As três modelos aceitaram falar a pedido da Model Alliance, um grupo sem fins lucrativos que pretende defender os trabalhadores da indústria e que está, inclusivamente, a oferecer recursos às mulheres que acusam aquele que já foi um dos homens fortes da moda. Entre os seus compromissos, a Model Alliance está a defender a aplicação do Programa Respect, um conjunto de medidas desenvolvidas com a contribuição de mais de 100 modelos que prevê direitos para quem desfila e consequências em casos de violações.
Carré Sutton, que diz ter sido violada “inúmeras vezes” em 1986 quando tinha apenas 17 anos, entrou ainda com um processo em Nova Iorque, tendo em conta o Child Victims Act (lei das crianças vítimas) do estado norte-americano no último mês — a lei permite acusações de abuso sexual independentemente da data dos alegados incidentes. A ideia é que o processo e os testemunhos possam encorajar outras vítimas a chegarem-se à frente.