O antigo primeiro-ministro polaco Donald Tusk declarou esta sexta-feira que Varsóvia poderia deixar a União Europeia (UE) “antes do que se pensa” e ainda criticou a atitude beligerante do Governo polaco contra Bruxelas.
Tusk, que lidera a oposição polaca, afirmou que o Governo da Polónia “está a arruinar” a “reputação” da Polónia na Europa.
O antigo primeiro-ministro disse não estar “tão tranquilo” em relação à Polónia permanecer na UE, porque a “retórica de comparar Bruxelas com a União Soviética ou a ocupação nazi”, feita há pouco tempo por um deputado, não vai ficar sem consequências e nem sair impune.
O deputado Marek Suski, do partido ligado ao Governo polaco, disse recentemente numa cerimónia oficial, em memória da resistência polaca na Segunda Guerra Mundial, que Bruxelas quer “pôr de joelhos” a Polónia, país que já “lutou contra outros invasores durante a guerra”.
Marek Suski afirmou que os seus ancestrais “lutaram contra os ocupantes soviéticos”
“Nós lutaremos contra o ocupante de Bruxelas”, disse o deputado polaco.
Na opinião de Tusk, “a maioria do Governo pensa que a UE, na melhor das hipóteses, é uma necessidade lamentável e [os governantes polacos] têm ideias de como libertar a Polónia desta ‘ocupação’ de Bruxelas”.
A atitude desafiante de Varsóvia a algumas decisões da UE tornam o perigo de uma “Polexit” real para Tusk.
O antigo primeiro-ministro acredita que “muitos desastres aconteceram na história não porque alguém os planeou, mas porque alguém agiu de forma irresponsável, estúpida, arriscada. E hoje a política [do partido] PiS, em relação às questões internacionais, é caracterizado por riscos constantes e desnecessários”, disse Tusk sobre o partido no poder.
Tusk está confiante em “convencer as pessoas e instituições que tomam as decisões (na UE) a distinguir claramente entre o que é um mau Governo e o que é a Polónia”.
O antigo primeiro-ministro pediu que não haja sanções económicas, como as que a Comissão Europeia recentemente pediu contra o Governo polaco por manter os pontos mais conflituosos na sua reforma judicial.
“Penso que ouviram o meu argumento de que punir a Polónia como um Estado, como um todo, não faria muito sentido”, disse o líder da Plataforma Cívica, embora acredite que a última coisa que os seus interlocutores têm em mente “era fazer algo que empurrasse a Polónia para fora da União Europeia”.
“Não vou fingir que conheço os planos específicos do Governo nesta matéria, mas desastres como o ‘Brexit’ ou a possível saída da Polónia da UE ocorrem não porque alguém o tenha planeado, mas porque alguém não soube como propor alternativas a esses planos”, concluiu Tusk.
O político, que presidiu ao Conselho Europeu, sublinhou que “ainda há tempo de evitar esta vergonha” e “as sanções relacionadas com a queixa da Comissão ao Tribunal sobre o funcionamento da Câmara Disciplinar são onerosas e completamente desnecessárias, pois ameaçam reter a ajuda do Fundo Europeu de Reconstrução”.
Recentemente, a UE pediu ao Tribunal de Justiça da UE que imponha uma multa à Polónia até que esta garanta a independência judicial e dissolva a Câmara Disciplinar [que sanciona os juízes], órgão que considera “incompatível com o direito europeu”.
A Polónia mantém vários conflitos com a UE devido, entre outras razões, a sua polémica reforma judicial, a sobreposição do direito polaco sobre o direito europeu, uma polémica reforma da lei dos meios de comunicação, a restrição do direito ao aborto e ataques contra a comunidade LGBT.