O Facebook tem, há vários anos, uma clara noção de que as redes sociais que opera – sobretudo o Instagram – são tóxicas para a saúde mental dos adolescentes. Uma investigação do The Wall Street Journal (WSJ) obteve apresentações internas, com vários anos, que mostram que Mark Zuckerberg e a cúpula da organização têm conhecimento dos problemas, embora isso não pareça estar a levar a mudanças na forma como as redes sociais funcionam.
“Nós criamos problemas relacionados com a imagem [que as adolescentes] têm do próprio corpo a uma em cada três raparigas”, reconheceu o Facebook num slide mostrado numa apresentação interna feita em 2019. Essa apresentação baseava-se num estudo feito pela empresa que revelou que “os adolescentes culpam o Instagram pelo aumento dos casos de ansiedade e depressão” – uma resposta maioritária que foi dada mesmo quando a pergunta foi feita de forma aberta, ou seja, sem dar várias hipóteses possíveis de resposta entre um conjunto pré-determinado de opções onde estaria o Instagram e as outras redes sociais.
Esse é o caso de uma jovem que aparece na investigação do WSJ, que desenvolveu um distúrbio alimentar que foi atribuído ao tempo que passava no Instagram, rede social onde entrou quando tinha 13 anos. “Quando eu ia ao Instagram, só via imagens de corpos perfeitos, tonificados, mulheres que faziam 100 burpees em 10 minutos”, afirmou Anastasia Vlasova, agora com 18 anos e que é seguida por um psicólogo.
E os problemas vão muito além dos distúrbios alimentares. Entre os adolescentes que indicaram ter pensamentos suicidas, 13% dos utilizadores britânicos e 6% dos norte-americanos associam o seu desejo de acabar com a própria vida ao uso do Instagram. Publicamente, porém, o Facebook tende a desvalorizar o impacto negativo das suas redes sociais na saúde mental dos jovens, recusando tornar públicos estes estudos mesmo quando académicos ou responsáveis governativos os pedem.
Mais de 40% dos utilizados do Instagram têm 22 anos ou menos e manter esta tendência é crucial para a rentabilidade da empresa Facebook, como reconhecem as apresentações internas consultadas pelo WSJ. “O Instagram está bem posicionado para criar impacto junto dos jovens e vencer” nesse grupo demográfico decisivo para o crescimento da empresa. “Existe um caminho para o crescimento se o Instagram mantiver a sua trajetória“, dizem os documentos citados pelo WSJ.