As associações de comerciantes da Baixa Pombalina e do Chiado defendem que o comércio, ainda a sofrer efeitos da pandemia de Covid-19, vai continuar a precisar de apoio da Câmara de Lisboa no mandato que se avizinha.

Falando à Lusa no âmbito das eleições autárquicas marcadas para 26 de setembro, o presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina (ADBP) e o da Associação de Valorização do Chiado (AVChiado) coincidem também nas reservas sobre as restrições à circulação automóvel previstas para aquelas zonas.

“As nossas preocupações são as mesmas de há quatro anos, agravadas com a pandemia, porque temos uma quantidade razoável de lojas em dificuldades, umas que encerraram e outras que, provavelmente, ainda que sustentáveis, vão ter de fechar. Portanto, precisamos de ajuda ao nosso comércio”, disse Manuel Lopes, da ADBP, que tem agendados encontros com os candidatos à presidência da Câmara Municipal de Lisboa para lhes apresentar as preocupações da associação.

Apesar dos sinais de recuperação mais recentes, decorrentes do alívio das restrições relacionadas com a pandemia, Manuel Lopes sublinha que “não quer dizer que o comércio esteja já a faturar dentro das necessidades” e reclama mais apoios, nomeadamente para as lojas históricas que se confrontam com valores de renda “incompatíveis”.

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“O nosso comércio não pode ser banalizado e empurrado da porta para fora por não ter condições de continuar. Isso não pode ser aplicado a todas as lojas da Baixa porque é perder referências e qualidade. Não há comércio sem cidade nem cidade sem comércio, e os nossos políticos responsáveis têm de perceber isso. O comércio da Baixa tem de ser de qualidade e, para haver um comércio de qualidade, tem de ser apoiado”, completou.

Victor Silva, presidente da AVChiado, sublinha por seu turno que “os apoios concedidos pela câmara não chegaram à generalidade das empresas do Chiado”, porque estas não se enquadravam nos requisitos definidos em termos de limite de faturação, que numa primeira fase era de 500 mil euros e numa segunda de um milhão.

“No arrendamento, que é o mais caro do país, também não houve apoio da câmara nem do Estado. Ficámos entregues a nós próprios, a pagar as mesmas rendas. […] Foram cinco meses fechados e fins de semana arrasados, a fechar à uma da tarde, com desertificação da Baixa e do Chiado. O ‘lay-off’ também não foi solução para os pequenos empresários”, disse Victor Silva, acrescentando que, “até agora, não houve medidas que venham colmatar isso”.

Temendo a saída do turismo no final de setembro, Victor Silva considera que “a Baixa e o Chiado, neste momento, são pouco atrativos para os portugueses”.

“Não temos uma ação territorial pensada, não temos uma animação cultural pensada, não há interação dos agentes económicos locais — restauração, comércio, cultura e dos próprios moradores. Há um desfasamento muito grande”, afirmou o presidente da AVChiado, acusando a gestão da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior de se representar essencialmente em Alfama e na Mouraria: “Está essencialmente virada para moradores e, no Chiado, haverá menos moradores, mas há atividade económica e cultural muito forte, que precisava de se sentir representada”.

Sobre as restrições à circulação automóvel previstas para a Baixa e o Chiado, com a criação da zona de emissões reduzidas, que devia ter começado a ser aplicada em 2020 e que foi adiada devido à pandemia, Manuel Lopes e Victor Silva defendem que a decisão é apressada, preconizam soluções equilibradas e a necessidade de encontrar alternativas para uma transição suave.

“Neste momento, é um erro porque não estão reunidas condições para substituir o transporte individual, uma vez que não há transporte público no Chiado. É um erro absoluto”, afirmou Victor Silva, lamentando que o metro esteja “sistematicamente com as escadas rolantes avariadas”, o que limita o acesso de pessoas com mobilidade reduzida, e que a carreira do elétrico 28 não se possa utilizar porque “está sempre cheia de estrangeiros”.

Na opinião de Victor Silva, a solução passa primeiro por “impedir cargas e descargas depois das 11h00 e o estacionamento de veículos que não de passageiros depois dessa hora”, retirar estacionamento de um dos lados das ruas que têm parqueamento em ambos, reordenar o sentido de trânsito em algumas artérias e negociar com os parques de estacionamento subterrâneos lugares para moradores com preços acessíveis.

“Cortar o trânsito, não poderem entrar os carros, não poderem chegar ao parque, não poderem chegar às lojas… Neste momento, não sei daqui a quantos anos será possível”, acrescentou o responsável, manifestando-se também contra a transformação de algumas ruas em zonas pedonais, prevendo que venham a ser ocupadas de forma abusiva “por mendicidade, espetáculos de vários géneros, pessoas que vendem isto e aquilo”.

“Nós somos amigos da câmara e somos amigos do ambiente, mas somos também amigos das atividades económicas. Queremos que haja equilíbrios e não decisões unilaterais que ponham em questão tudo que se tem feito”, completou

Para Manuel Lopes, “ninguém está contra a necessidade de tirar carros da Baixa”, mas o que está em causa “é fazer da Baixa um circuito fechado para museus e é isso que a Baixa não precisa”.

“Precisamos ter o cuidado de discutir com as pessoas, os empresários, os residentes e as juntas de freguesia, para saber qual a melhor solução para o problema do automóvel. Retirá-lo a 100% não é possível”, afirmou o presidente da ADBP, lembrando as pessoas com mobilidade reduzida e considerando que, para já, não há alternativas viáveis.

“Há muitas promessas, com autocarros pequenos, mas, antes de pôr a funcionar esse sistema, é preciso pôr a funcionar todo o sistema de transporte, saber se habituamos as pessoas a vir de autocarro, mas, enquanto não houver essa possibilidade, não podemos fechar a casa”, frisou Manuel Lopes, sugerindo como medida para reduzir emissões a conversão da frota de autocarros da Carris em veículos elétricos.

Manuel Lopes realçou ainda que a Baixa é a única zona de Lisboa em que são monitorizadas as emissões poluentes e disse que, se fosse feito o mesmo no eixo central do Parque das Nações, “se calhar, chegava-se à conclusão de que também está a ser poluída e de forma desastrosa”.

A outra das preocupações da ADBP é a perda de população da Baixa, tendo Manuel Lopes defendido que o problema não é só o alojamento local, mas também a escassez de casas para arrendar e as rendas muito elevadas, concluindo que “tem de se encontrar uma solução intermédia com rendas mais acessíveis”.

O presidente da associação considera também que manter o Aeroporto de Lisboa em funcionamento “é de importância vital para a economia de cidade e para a economia da Baixa” e pretende abordar o tema com os candidatos.

Para Manuel Lopes, também é preciso “encontrar formas de dar mais segurança à Baixa, provavelmente com videovigilância” e reforçar a higiene e a limpeza, uma preocupação partilhada com Victor Silva, que lamenta os passeios escorregadios e as quedas daí decorrentes, os caixotes de lixo que não são retirados durante o dia e algumas falhas na iluminação.