Inclusão, igualdade e amor à cidade. Estes são os três pilares do movimento cívico “Somos Todos Lisboa” liderado por Ossanda Liber, a analista política angolana de 43 anos que se candidata à presidência da Câmara Municipal da capital. Tendo vivido em Luanda, Paris e agora Lisboa estreia-se na vida política, envergando a bandeira de que a diversidade e a multiculturalidade integram a identidade dos lisboetas.
Ossanda Liber deu nas vistas no debate da última quarta-feira entre os 12 candidatos à capital. Ao Observador, a candidata diz que a experiência “foi muito positiva”, houve uma “boa interação”, tendo recebido posteriormente “vários apoios”. Foi, explica, uma “belíssima prenda de aniversário” — a candidata comemorou o aniversário nesse mesmo dia. No entanto, a exposição também lhe trouxe alguns problemas com “críticos” que não se reveem na candidatura e que lhe estão a tentar criar um “perfil falso”, acusando-a de ser de “extrema-direita” e “antivacinas”.
O balanço é, contudo, positivo para uma candidatura que começou numa conversa entre amigos durante o confinamento. “Tivemos a constatação de que não havia nenhuma candidatura que agregasse o que os lisboetas queriam” para viverem “felizes” e “em harmonia” sem estar ligada a nenhuma “tendência, ideologia fraturante ou agenda partidária”.
A conversa foi o pontapé de saída que a levou para as ruas recolher assinaturas com a noção de que seriam os imigrantes os primeiros a abordá-la. Apesar de tal não ter acontecido — e ter tido um feedback “incrível” —, Ossanda Liber reconhece ao Observador que o assunto tem uma grande importância na sua candidatura: “Tenho uma história de imigração de sucesso, na medida em que consegui realizar os objetivos profissionais, mas reparei que não estava a ser assim com toda gente”, relata, elencando a legalização como o principal problema que vários imigrantes enfrentam quando chegam a Lisboa. “Chegam cá e há um grupo de advogados que se fazem passar por Deus e que lhes vai resolver os problemas, o que depois não acontece”, denuncia.
“Ao fim de dois anos, como não conseguem legalizar a situação, vão para outros países da União Europeia”, prossegue, referindo que é “penoso” que os imigrantes saiam para outros territórios quando podem “valorizar” Lisboa. Para resolver esta situação, a candidata propõe criar o “pelouro da inclusão”, que iria acompanhar (não só) imigrantes em todos os processos — desde o momento que escolhem a capital enquanto cidade para morar até à sua plena integração na sociedade.
A candidata indica que a cidade gosta de acolher bem os imigrantes e rejeita a ideia de que Lisboa seja uma “cidade racista”. Enquanto “mulher negra”, dá o seu próprio para exemplo para o demonstrar: “Quando fui pedir apoios para os cartazes em todo o lado, nunca tive nenhum obstáculo”. E recorda que a capital “foi multicultural desde sempre”.
No decorrer do debate, as opiniões esgrimidas por João Patrocínio, candidato do partido Ergue-te, chocaram com a multiculturidade defendida pelo “Somos Todos Lisboa” e levou a uma intervenção mais acalorada de Ossada Liber, que até citou Marcelo Rebelo de Sousa. “Os candidatos autárquicos têm de ter melhor qualidade”, começou por dizer, atirando depois que o que se “constata é um candidato cujo legado que quer deixar é a luta contra a multiculturidade. Isto é incrível, é certamente insulto aos portugueses porque quem nos está a ouvir pode achar que as opiniões veiculam os lisboetas, mas não é o caso”.
Transportes e habitação são outros temas defendidos por Ossanda Liber
A candidata à Câmara de Lisboa vai, no entanto, além do tema da imigração. Sobre a mobilidade na cidade, Ossanda Liber quer “reformular a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL)”. Segundo a analista, nas zonas predominantemente residenciais não devem existir parquímetros: “Lisboa não se pode dar ao luxo de excluir carros e os lisboetas têm direito ao estacionamento”.
“Quem conduz é visto como um bicho-papão”, sinaliza ao Observador a candidata, que diz que muitos não têm condições para andar de bicicleta. A seu ver, é melhor “convidar os automobilistas a substituir o carro pelos transportes públicos” e também assinala que quem traz o carro para Lisboa são os moradores dos concelhos limítrofes. Para resolver este problema, Ossanda Liber defende a criação de parques de estacionamento nas fronteiras da capital para se deslocar sem recurso ao carro.
Ainda na mobilidade, a candidata do movimento cívico “Somos Todos Lisboa” defendeu no debate a complementaridade do metro e dos autocarros da Carris, pedindo ainda um reforço da frota aos fins de semana e a partir das 2h nos dias úteis: “É preciso consolidar o que existe”.
A habitação foi outros dos tópicos que, no decorrer do debate, mereceu a atenção de Ossanda Liber. Para resolver o problema, a candidata apresentou quatro medidas, que vão desde a colocação dos imóveis devolutos da CML no mercado ao serviço dos lisboetas à requalificação dos bairros municipais, passando ainda pela criação de um “seguro de garantia para estimular os particulares que recorrem a arrendamento” para poderem ser ressarcidos em caso de incumprimento do inquilino.
Sportinguista, com quatro filhos e crítica de Joe Biden: Quem é Ossanda Liber?
Com uma postura ativa nas redes sociais, Ossanda Liber partilha várias opiniões políticas no âmbito nacional e internacional e também momentos da sua vida pessoal. Na descrição da sua conta pessoal do Instagram, descreve-se como sportinguista, “mãe de quatro” e “candidata à presidência da Câmara Municipal de Lisboa”.
A exposição trouxe-lhe alguns críticas, que a colaram a algumas ideologias pelo facto de criticar recorrentemente Joe Biden, acusando o Presidente norte-americano de ser “incompetente, fraco, mentiroso e cobarde”: “Não está à altura do cargo que ocupa”. Noutro post, descreveu-o como sendo uma “fraude total” e que “transforma em caca tudo em que toca”.
https://www.instagram.com/p/CSoF6NyI_vp/
Ao Observador, Ossanda Liber diz que sempre se interessou por política e que, nas eleições presidenciais de novembro, se debruçou sobre política americana. Com “o olhar pragmático”, constatou que as políticas da Joe Biden não “combinavam com o modelo social, económico e financeiro da América”, tendo anunciado medidas “populistas”. “Ao fim de nove meses de governação, não há nada de positivo a apontar ao Presidente norte-americano”, vinca.
Sobre o eventual apoio a Donald Trump, a candidata não é categórica e aponta um “problema comunicacional” ao ex-Presidente dos EUA, indicando algumas falhas na gestão da sua governação como o facto de “criar inimigos em todo o lado, o que prejudicou a economia norte-americana”. Mas salienta que houve “muita coisa positiva” e diz que nunca viu uma publicação “racista” do ex-Presidente dos EUA: “Não posso julgar por aquilo que se diz”, explica, sentenciando que a “América estava melhor há um ano do que está agora”.
Apesar de ter dito que os EUA estavam melhor há um ano (durante a Administração Trump) do que atualmente (durante a adminstração Biden), já após a publicação deste artigo a candidata do Movimento Somos Todos a Lisboa fez questão de enviar uma nota a demarcar-se de Trump, não negando as afirmações que fez, mas a querer deixar claro que as declarações que prestou “não visam uma colagem ideológica à Administração Trump.”
Outras das críticas que chegaram a Ossanda Liber acusavam-na de ser antivacinas, com base num post no Instagram, o que, explica, não corresponde à verdade. Sobre esta ilustração — que não justificou num primeiro contacto com o Observador, mas já após a saída da notícia — a candidata explica que a partilha “nada mais revela do que uma metáfora relativamente à urgência de que o mundo pudesse ter acesso a mais vacinas mais depressa e que mais vidas pudessem ser salvas a nível global.”
https://www.instagram.com/p/CKlbSKEnuJ-/
Ao Observador, a candidata garante que não é “negacionista das vacinas” e que até “postou um story e pôs um post” para incentivar os seguidores a vacinarem-se.
https://www.instagram.com/p/CQTNYeMDELf/
Artigo atualizado às 18h15 de sábado com novas declarações de Ossanda Liber a demarcar-se, já após a publicação do artigo, a uma colagem ideológica à Administração Trump.