Com a 73.ª edição dos Emmys, que decorreu em Los Angeles na madrugada desta segunda-feira, parece finalmente que a normalidade está a voltar. Voltaram os vestidos exuberantes, as mensagens políticas (muito tímidas, diga-se), os momentos musicais ou as piadas de atualidade feitas por celebridades e para celebridades. E normalidade também porque as grandes produções de plataformas como a Netflix ou a HBO ganharam quase tudo, os vencedores foram quase todos brancos e quanto aos discursos, quase nada há a recordar. Foi uma normalidade um pouco a despachar, tal era a quantidade de prémios para entregar (agradeçam ao alerta sonoro que quase empurrava quem se demorava demasiado tempo em palco). Mas nem tudo foi mau e nem tudo está igual, de facto.
Primeiro que tudo, vamos a vencedores e perdedores. Aliás, a grande vencedora: Netflix, que, pela primeira vez, ganhou mais prémios do que qualquer outra plataforma de streaming ou canal de televisão. Já “The Crown” (24 nomeações) foi a série que levou praticamente todos os principais prémios para casa: Melhor Série de Drama, Melhor Argumento (Peter Morgan), Melhor Atriz Principal (Olivia Colman), Melhor Ator Principal (Josh O’Connor), Melhor Ator Secundário (Tobias Menzies) e Atriz Secundária (Gillian Anderson) . “Mandalorian” — que também tinha 24 nomeações — foi o grande derrotado da noite. Não ganhou nenhuma categoria. Só que esta cerimónia tinha várias surpresas, embora o regresso a uma certa normalidade pudesse ditar o contrário. “Gambito de Dama” acabou por vencer a estatueta de melhor série limitada — e venceu também para melhor realização (Scott Frank, o senhor que mais se chateou com o teleponto) –, o último prémio da noite, mas perdeu para “Mare of Eastown” na representação. Aí, o palco foi para Kate Winslet, Julianne Nicholson (melhor atriz secundária) e Evan Peters. E diga-se que foi completamente merecido.
Nas contas das produtoras/plataformas de streaming, os números mostram a distância entre vencedora e restantes concorrentes: 44 para a Netflix, 19 para HBO, a Disney+ com 14 e a Apple TV+ com 10 (neste campeonato, Hulu e Amazon ficaram noutra liga).
O grande perdedor da noite, além de “Mandalorian”, foi “The Handmaid ‘s Tale” (Hulu). Curiosamente, a história que fala de um mundo em que a taxa de fertilidade cai drasticamente, levando a que June Osborne (Elizabeth Moss) ganha um estatuto de heroína sobrevivente, quase nada foi falada numa cerimónia sempre pontuada pelas mulheres. Não ganhou nenhuma estatueta em Los Angeles e foi de mãos a abanar para casa.
Em comédia, “Ted Lasso”, da Apple TV, uma das séries do momento, acabou por levar dois dos prémios mais importantes: Jason Sudeikis, como ator principal e a estatueta de melhor série do género. Acrescentou ainda, logo no início da cerimónia, as estatuetas para melhor atriz (Hannah Waddingham) e ator secundário (Brett Goldstein). Mas acabou por ser surpreendida por “Hacks” (HBO), que ganhou o prémio para melhor realização e escrita. Jane Smart também juntou mais um Emmy à série como melhor atriz.
Houve ainda tempo para mais repetições, como John Oliver e o seu “Last Week Tonight” a vencer pela sexta vez em duas categorias (escrita e série de variedades) ou Saturday Night Live a ganhar um prémio a que está muito habituado: melhor série de sketchs de variedades. Um dos espetáculos mais referidos no final ano passado, “Inside” de Bo Burhman, acabou por perder, de forma para “Hamilton”, a adaptação do musical da Broadway que valeu muito durante todo o último ano à Disney+. Mas calma, venceu na realização — o que deve ser uma novidade, já que o comediante fez tudo sozinho. Ou, pelo menos, essa é a garantia dada pelo próprio.
Não sendo uma repetição, mas que acabou por ser uma surpresa, foi a vitória de um dos rostos mais batidos naquele tipo de cerimónia, Ewan Mcgregor (“Halston”) como melhor ator em série limitada. Previa-se que fosse Paul Bettany (WandaVision, que também perdeu com estrondo esta noite), mas não.
Fica a faltar a homenagem, ainda que comedida, da noite para o falecido Michael K. Williams. “Sei que estás aqui, não irias perder isto”, disse a atriz Kerry Washington, olhando para cima. Ainda assim, e mesmo que não fosse um prémio póstumo, o ator de The Wire ou mais recentemente de “Love Craft Country”, acabou por não vencer na sua categoria, quando muitos artigos apontavam para essa vitória.
“É preciso muita coragem para ser a única mulher na sala”
Verdade seja dita, os Emmys costumam ser uma cerimónia diferente dos Óscares e dos Globos de Ouro. Há menos política, costuma ser uma cerimónia mais comedida e com menos espetáculo dentro do espetáculo. E isso notou-se nos discursos — houve referências à pandemia de Covid-19, logo com Seth Rogen a abrir e a dizer “há demasiada gente aqui, o que estamos a fazer?” — mas quase não se falou da nova presidência dos Estados Unidos da América, com Joe Biden ao leme. Sem Donald Trump para apontar, fica mais difícil. Também se notou no apresentador, Cedric The Entertainer, e que substituiu Jimmy Kimmel, até começou bem, mas depois foi desaparecendo — ou aparecendo em pequenos sketches com uma piada igual ao estado de alma que todos vivemos no confinamento.
O foco foi então para a diversidade (ou a necessidade de mais) na televisão e para o papel da mulher. Sim, é um tom habitual, mas acabou por surtir algum efeito, quer nos discursos, quer nos prémios entregues: mais para o lado das mulheres, já que poucas foram as pessoas não brancas que levaram mais do que uma nomeação para casa. Por exemplo, pela primeira vez em 73 edições, duas realizadoras levaram a estatueta de melhor realização de séries de comédia e drama: Lucia Aniello (“Hacks”) e Jessica Hobbs (“The Crown”).
Michaela Cohen (melhor argumentista numa série limitada com “I May Destroy You”), sempre discreta, acabou por ter o discurso mais significativo, por ser o mais diferente dos restantes. Desafiou outras vozes da escrita para escrevem “as histórias que os assustam, que os deixa desconfortáveis”, dedicando o seu prémio a todos os sobreviventes de assédio sexual. Mas outros nomes acabaram por sobressair como Kate Winslet (melhor atriz numa série limitada, com “Mare of Eastown”) ou Debbie Allen (prémio do governador, que homenageou as suas mais de três décadas de carreira na dança, representação e projetos sociais) foram o rosto desse discurso no feminino. “É preciso muita coragem para ser a única mulher na sala na maior parte das vezes. Muita coragem, criatividade, luta e fé para acreditar de que podia continuar, e eu tenho. É o momento para reclamarem a vossa voz, contem a vossa história”, disse Debbie Allen, naquele foi o discurso mais aplaudido da noite. E essa voz foi sendo usada, quer por protagonistas emergentes, quer por quem já está mais do que habituada a subir a estes palcos. “Esta década tem de ser pelas mulheres, temos de nos apoiar, saludo-vos”, disse Kate Winslet.
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A Lista dos Vencedores
Melhor Série Dramática
The Crown
Bridgerton
The Handmaid’s Tale
The Mandalorian
Pose
This Is Us
The Boys
Lovecraft Country
Melhor Ator, Série Dramática
Josh O’Connor, The Crown
Sterling K. Brown, This Is Us
Jonathan Majors, Lovecraft Country
Regé-Jean Page, Bridgerton
Billy Porter, Pose
Matthew Rhys, Perry Mason
Melhor Atriz, Série Dramática
Olivia Colman, The Crown
Emma Corrin, The Crown
Uzo Aduba, Terapia
Elisabeth Moss, The Handmaid’s Tale
Mj Rodriguez, Pose
Jurnee Smollett, Lovecraft Country
Melhor Ator Secundário, Série Dramática
Tobias Menzies, The Crown
Michael K. Williams, Lovecraft Country
Bradley Whitford, The Handmaid’s Tale
O-T Fabengle, The Handmaid’s Tale
Max Minghella, The Handmaid’s Tale
Giancarlo Esposito, The Mandalorian
John Lithgow, Perry Mason
Chris Sullivan, This Is Us
Melhor Atriz Secundária, Série Dramática
Gillian Anderson, The Crown
Madeline Brewer, The Handmaid’s Tale
Helena Bonham Carter, The Crown
Emerald Fennell, The Crown
Ann Dowd, The Handmaid’s Tale
Yvonne Strahovski, The Handmaid’s Tale
Samira Wiley, The Handmaid’s Tale
Aunjanue Ellis, Lovecraft Country
Melhor Série de Comédia
Ted Lasso
Black-ish
The Flight Attendant
Emily in Paris
Hacks
The Kominsky Method
Pen15
Cobra Kai
Melhor Ator, Série de Comédia
Jason Sudeikis, Ted Lasso
Anthony Anderson, Black-ish
Michael Douglas, The Kominsky Method
Kenan Thompson, Kenan
William H. Macy, Shameless
Melhor Atriz em Série de Comédia
Jean Smart, Hacks
Kaley Cuoco, The Flight Attendant
Tracee Ellis Ross, Black-ish
Allison Janney, Mom
Aidy Bryant, Shrill
Melhor Ator Secundário em Série de Comédia
Brett Goldstein, Ted Lasso
Kenan Thompson, Saturday Night Live
Carl Clemons-Hopkins, Saturday Night Live
Bowen Yang, Saturday Night Live
Jeremy Swift, Ted Lasso
Brendan Hunt, Ted Lasso
Nick Mohammed, Ted Lasso
Paul Reiser, The Kominsky Method
Melhor Atriz Secundária, Série de Comédia
Hannah Waddingham, Ted Lasso
Hannah Einbinder, Hacks
Kate McKinnon, Saturday Night Live
Cecily Strong, Saturday Night Live
Aidy Bryant, Saturday Night Live
Rosie Perez, The Flight Attendant
Juno Temple, Ted Lasso
Melhor Série Limitada
Gambito de Dama
Mare of Easttown
The Underground Railroad
WandaVision
I May Destroy You
Melhor Ator, Série Limitada
Ewan McGregor, Halston
Hugh Grant, The Undoing
Paul Bettany, WandaVision
Lin-Manuel Miranda, Hamilton
Leslie Odom Jr., Hamilton
Melhor Atriz, Série Limitada
Kate Winslet, Mare of Easttown
Anya Taylor-Joy, Gambito de Dama
Michaela Coel, I May Destroy You
Elizabeth Olsen, WandaVision
Cynthia Erivo, Genius: Aretha
Melhor Ator Secundário, Série Limitada
Evan Peters, Mare of Easttown
Jonathan Groff, Hamilton
Daveed Diggs, Hamilton
Anthony Ramos, Hamilton
Paapa Essiedu, I May Destroy You
Thomas Brodie-Sangster, Gambito de Dama
Melhor Atriz Secundária, Série Limitada
Julianne Nicholson, Mare of Easttown
Kathryn Hahn, WandaVision
Jean Smart, Mare of Easttown
Renée Elise Goldsberry, Hamilton
Moses Ingram, Gambito de Dama
Phillipa Soo, Hamilton
Melhor Programa de Variedades/Talk-Show
Last Week Tonight With John Oliver
The Late Show With Stephen Colbert
Jimmy Kimmel Live!
The Daily Show with Trevor Noah
Conan